Quem e o que vestirá a “nova” Odete Roitman?

Em 1988, a novela “Vale Tudo” apresentou ao público a personagem Odete Roitman, interpretada por Beatriz Segall, que se tornou um ícone da teledramaturgia brasileira. Na nova versão, que estreia em 31 de março de 2025, a atriz Débora Bloch dá vida à mesma personagem, trazendo uma perspectiva contemporânea ao papel. Para compreender a visão […] O post Quem e o que vestirá a “nova” Odete Roitman? apareceu primeiro em Harper's Bazaar » Moda, beleza e estilo de vida em um só site.

Mar 30, 2025 - 22:06
 0
Quem e o que vestirá a “nova” Odete Roitman?

Marie Salles é o nome por trás não apenas do figurino de Odete Roitman, mas também de todo o elenco do remake de “Vale Tudo” – Foto: Globo/Fábio Rocha

Em 1988, a novela “Vale Tudo” apresentou ao público a personagem Odete Roitman, interpretada por Beatriz Segall, que se tornou um ícone da teledramaturgia brasileira. Na nova versão, que estreia em 31 de março de 2025, a atriz Débora Bloch dá vida à mesma personagem, trazendo uma perspectiva contemporânea ao papel. Para compreender a visão por trás do figurino de Odete, conversamos com Marie Salles, a figurinista responsável, que compartilha detalhes sobre o processo criativo e as referências que moldaram a estética da personagem nesta adaptação.

Harper’s Bazaar Brasil  – Marie, para começar, conte um pouco sobre a sua trajetória e como foi o processo até você se tornar figurinista. Quais foram os passos iniciais que a levaram a essa profissão?

Marie Salles – Comecei no final dos anos 80, fazendo cursos livres de moda na Faculdade Cândido Mendes. Antes do curso virar superior, trabalhei como assistente de estilo e, depois, entrei na UFRJ para cursar Artes Cênicas/Indumentária. Na universidade, comecei a trabalhar com o professor, figurinista e cenógrafo Ronald Teixeira e, logo, fui estagiária da figurinista Emília Duncan em um especial da Globo.

HBB – Ao longo da sua carreira, houve algum momento ou trabalho que tenha sido especialmente marcante para você? Alguma experiência que tenha definido sua visão como figurinista?

MS – Foram muitos momentos. O primeiro foi quando entrei na Belas Artes. Mudou minha visão de mundo. Fui assistente durante 10 anos da Emília Duncan na TV Globo, quando aprendi como juntar criatividade e gestão. Um outro marco foi quando fui figurinista das novelas Cordel Encantado (2011) e Avenida Brasil (2012), pois foram trabalhos muito distintos e com conceitos muito particulares, feitos um seguido do outro.

HBB – Em relação aos personagens para os quais você já criou o figurino, há algum que tenha sido especialmente desafiador ou emocionante? Como foi o processo de construção desse figurino?

MS – Foram muitos personagens desafiadores, mas eu prefiro falar do projeto como um todo e não de um personagem específico. Cada texto tem sua particularidade, e é o texto que me conduz para os personagens e para a formação de um universo. O figurino mais desafiador que fiz recentemente foi o da série Justiça 2, quando eu e minha equipe mergulhamos em um universo realista, com personagens bem delineados. Na ocasião, fizemos uma pesquisa vasta dividida por núcleos, como os motoboys, políticos, o mundo do piseiro e, sobretudo, Brasília, onde se passava a trama. Às vezes, o simples é o mais desafiador.

A novela Novo Mundo foi um projeto com personagens muito desafiadores também. Era uma novela que se passava no século XIX e o ponto de partida era a chegada da Princesa Leopoldina ao Brasil. Foram meses de pesquisa por filmes, pinturas, moda, livros de indumentária e da história do Brasil e do mundo no século XIX. Eu e minha equipe criamos figurinos de piratas com suas roupas cheias de maresia, figurinos de reis e rainhas, entre outros núcleos.

HBB – Quais aspectos você considera mais importantes quando está no seu processo criativo?

MS – O texto, sem dúvida. É ele que guia todo o processo criativo e, em seguida, a pesquisa.

HBB – Como você desenvolve uma imagem que, além de estética, também tenha uma forte conexão com o personagem e a trama?

MS – Depois de ler o texto e ter várias reuniões com a direção e com o(a) autor(a) para esmiuçar a personalidade de cada personagem, começamos a fazer uma pesquisa ampla para cada um. Para cada projeto, a pesquisa é direcionada de uma forma. Depois dessa pesquisa, formamos um mood board que nos guia para a produção dos figurinos até as provas de roupa. É um longo caminho, mas o mais importante é ter o entendimento do personagem.

HBB – Muitas pessoas não imaginam o quanto o trabalho de um figurinista envolve estudo, organização e enfrentamento de desafios. O que as pessoas geralmente não sabem sobre a profissão, mas que são essenciais para o seu sucesso?

MS – Em Vale Tudo, por exemplo, são 50 personagens e centenas de participações, mais a figuração de diferentes núcleos. Além de conceituar tudo isso, faço a gestão da equipe de figurino, que é formada por 30 pessoas.

HBB – Além de suas influências mais próximas, existe algum profissional, no Brasil ou no exterior, que você admira ou que sirva de referência para o seu trabalho?

MS – Faço muita pesquisa dos anos 80, 90 e 2000 para trabalhos e sempre busco nas novelas desses períodos, onde as principais figurinistas eram Marília Carneiro e Helena Gastal. Esta, inclusive, fez a primeira versão de Vale Tudo. Elas fizeram um retrato muito importante dessas épocas. Eu tive o privilégio de trabalhar com a Marília em dois filmes quando era assistente. No exterior, gostaria muito de conhecer de perto o processo criativo da Colleen Atwood.

HBB – Você tem algum objeto de desejo no universo da moda ou do figurino que sempre quis ter em seu acervo ou trabalhar com ele? Algo que te fascina e que ainda não teve a oportunidade de usar?

MS – Não, os objetos e as roupas aparecem de acordo com o personagem. Às vezes, compro uma roupa e guardo porque, em uma novela com muito tempo de produção, em algum momento irá surgir o personagem para aquela peça. Às vezes, acontece o contrário. Tem peças que eu uso em três, quatro trabalhos diferentes e em personagens diversos.

HBB – Você guarda alguma peça de figurino ou algum item de um trabalho que tenha sido especialmente importante para você? Qual é o significado dessa peça em sua trajetória?

MS – Não guardo nada. Os Estúdios Globo têm um acervo onde ficam os figurinos dos personagens mais importantes de cada produção.

Em 1988, a novela “Vale Tudo” apresentou ao público a personagem Odete Roitman, interpretada por Beatriz Segall, que se tornou um ícone da teledramaturgia brasileira – Foto: Divulgação/TV Globo

HBB – Falando agora sobre a sua participação como figurinista na nova versão da novela Vale Tudo, como foi a construção dos figurinos mais de três décadas depois da primeira versão?

MS – Assisti à novela de 1988. Estudei muito esse figurino e os personagens minuciosamente. Depois, li o texto da Manuela Dias e comecei a pensar nesses personagens nos dias de hoje. O texto ajuda muito. O importante é ter a contemporaneidade do nosso tempo sem perder a essência de cada personagem.

HBB – O que mais te desafia nesse projeto?

MS – Mostrar para o público, por meio dos figurinos, a minha visão desses personagens tão icônicos.

HBB – Como foi a construção do figurino da personagem Odete Roitman?

MS – Odete é uma mulher clássica, esnobe, austera, elitista, manipuladora, autoritária e, acima de tudo, chique. Comecei estudando os anos 40, o estilo work, mulheres poderosas contemporâneas. Me debrucei na obra do Thierry Mugler dos anos 80 e nas atrizes dos anos 40. Desenvolvi roupas com alguns figurinistas brasileiros, como Alexandre Herchcovitch, Vitor Zerbinato, Sandro Barros e Mateus Cardoso. O figurino de Odete também é composto por algumas peças vintage. Inclusive, ela usa dois tailleurs do Thierry Mugler.

HBB – A personagem será caracterizada por um estilo clássico ou você está buscando algo diferente para essa reinterpretação?

MS – Ela é clássica, usa camisas de laço, os tailleurs, a cintura marcada e os ombros estruturados, mas tem uma contemporaneidade na Odete. Ela é uma businesswoman de 2025.

A nova versão de “Vale Tudo”, que estreia em 31 de março de 2025, tem Débora Bloch no papel de Odete – Foto: Divulgação/TV Globo

HBB – Como será o equilíbrio entre modernidade e a sofisticação da personagem? Quais aspectos você acha fundamentais para que o figurino seja fiel à personalidade dela, mas também se destaque?

MS – Odete usa laços, broches e uma alfaiataria super bem cortada com ombros estruturados e cintura marcada. Mistura jóias de antiquário com a bolsa da nova coleção de uma marca tradicional, mas pode usar uma joia de família misturada com uma joia de design super contemporâneo. E ela usa duas bolsas juntas: uma de trabalho e outra de mão.

 

O post Quem e o que vestirá a “nova” Odete Roitman? apareceu primeiro em Harper's Bazaar » Moda, beleza e estilo de vida em um só site.