Lollapalooza: um balanço do festival e 5 destaques desta edição

A Noize elegeu os 5 shows essenciais do extenso line up do evento, que contou com três dias de mistura musical no Autódromo de Interlagos (SP). The post Lollapalooza: um balanço do festival e 5 destaques desta edição appeared first on NOIZE | Música do site à revista.

Apr 1, 2025 - 00:31
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Lollapalooza: um balanço do festival e  5 destaques desta edição

O Lollapalooza Brasil aconteceu no último final de semana, entre os dias 28 e 30 de março, trazendo um line diverso em gêneros musicais.

Porém, como já previa Tom Jobim, o fim de março sofreu com as intempéries: o primeiro dia de festival foi tomado por um temporal, interrompendo o show da Jovem Dionísio na parte da tarde. Quem queria ouvir hits como “Acorda Pedrinho”, infelizmente, ficou com gosto de quero mais. Por sorte, a chuva deu uma trégua no final de semana, fazendo com que os outros shows ocorressem sem maiores imprevistos.

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O primeiro dia foi também o mais cheio, provando que Olivia Rodrigo é uma mega popstar no Brasil: por onde se andava, viam-se meninas usando diferentes camisetas da cantora, muitas vezes acompanhadas dos pais.

No sábado, o destaque continuou para as atrações femininas que brilharam no palco Samsung Galaxy: Marina Lima e Alanis Morissette provaram a majestade e cativaram o público com performances que faziam ora dançar, ora vidar os olhos no palco.

O domingo entregou uma mistura total, com o pop de Justin Timberlake, o indie do Foster The People e o rock de Sepultura, Tool e Bush — era curioso ver como o público se modificava chegando próximo ao palco Mike’s Ice, do Sepultura, com looks moderninhos lentamente dando espaço para camisas pretas. Coisas de festival.

Alguns highlights ficam para a maior presença de instrumentistas nas bandas ao longo desses três dias; as atrações nacionais que não ficaram devendo nada em qualidade comparada com as gringas, como Terno Rei ou Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo; e ainda conexão público-artista, como Gavin Rossdale, o vocalista do Bush, indo pra galera, deixando o festival com clima de inferninho grunge dos anos 90.

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Fica difícil classificar um top 5 de uma maratona de três dias de Lollapalooza, com atrações nacionais e internacionais de peso, mas a Noize embarcou nessa missão e te mostra um balanço das apresentações que ficaram na nossa memória — seja pela performance, conexão com o público, repertório ou tudo isso junto.

Alanis Morissette

A canadense tocou acompanhada de sua banda para um público que abarrotava o palco Samsung no sábado (29). Começou logo com “Hand In My Pocket”, do clássico Jagged Little Pill (1995), fazendo muita gente chorar nos primeiros minutos de show. O público cantou junto inclusive faixas do Under Rug Swept (2002), álbum que não foi recebido pela crítica com a mesma empolgação dos primeiros mas rendeu hits por aqui, como “Precious Illusions”, “Hands Clean” e “Flinch”.

Ainda que não tenham empolgado tanto ao apresentar o novo repertório (como “Reasons I Drink”), a cantora e sua banda não deixaram a peteca cair e entregaram um som impecável do início ao fim — com destaque para a voz potente da canadense, sem necessidade de playback. “Ironic” foi cantada em uníssono e “Thank You”, o hit-mor, fechou com chave de ouro o show para um público emocionado, enquanto imagens de fãs passavam no telão.

Jão

Jão tocou acertadamente no mesmo dia de Olivia Rodrigo, para a alegria do público mais jovem do festival, o mesmo que ajudou a esgotar os três dias do cantor no Allianz Park. Na derradeira apresentação da Superturnê, escolhida para acontecer no Lollapalooza, Jão apresentou uma estrutura mais enxuta, mas que não devia em nada para padrões gringos — aliás, chega a superar muitos das apresentações internacionais do festival que tocaram em horários mais nobres.

Entrando no palco com cara de badboy, usando jaqueta de couro e óculos escuros a lá Bob Dylan, Jão fez todo mundo cantar e acenou para ícones pop: entregou performance sensual fazendo aceno à Madonna no clipe de “Like a Prayer” quando posa como se estivesse sendo crucificado em chamas, ou no cover de “Linger”, do Cranberries, acompanhado por uma banda de respeito. Hits como “Idiota”, “Me Lambe” e “Meninos e Meninas” alegraram os fãs, que cantaram junto.

Falando em pirotecnia, essa foi uma atração à parte: o cantor pegou fogo (literalmente e performaticamente) no fim da apresentação. Provou, mais uma vez, ser um popstar do nosso país (ainda que já não precisasse provar nada para ninguém).

Marina Lima

Marina Lima é, simultaneamente, nossa primeira diva pop e cantora atemporal. Isso se justifica pela renovação constante de público que ela tem — de millennials à gen z, muitos jovens já dançaram numa baladinha ao som de “Fullgás” ou lamentaram a solidão ao ouvir a festa do vizinho enquanto ouvia “Acontecimentos”. A apresentação no Lollapalooza foi ainda mais especial por conta das homenagens: a memória do poeta Antonio Cicero, seu irmão e principal parceiro de composição, foi celebrada com fotos no telão, enquanto Marina recitava o poema-símbolo de ambos, “Cicero e Marina”:

“A minha vida tem um garoto chamado Cicero”, ela começa, para depois emendar com o hit “Virgem”, em um dos momentos mais emocionantes do show. Se Marina é amada pela nova geração, ela retribui a esse amor se mostrando conectada com o que há de mais atual: cantou “Lunch”, o pop-sáfico de Billie Eilish (com direito a imagens da cantora no telão) e convidou Pabllo Vittar em “Mesmo que Seja Eu”, de Erasmo Carlos, que ganhou uma versão ainda mais sensual de Marina no icônico Fullgás (1984).


O show botou todo mundo pra dançar, ainda que a cantora tenha sido prejudicada por problemas técnicos no início da apresentação. Merecia espaço nos horários mais nobres do evento — ao contrário do sol escaldante das 15h que não fazia jus belíssimo terninho azul da Acne, a lá David Byrne, que ela escolheu para se apresentar.

Sepultura

Nunca é demais enaltecer a importância do Sepultura: para além de ser a única atração nacional headliner do Lollapalooza, a banda celebra 40 anos de história dedicados ao metal com toques da nossa música originária — a mistura dos riffs pesados à percussão e ao berimbau conquistou um patamar nunca atingido por outros roqueiros brasileiros na gringa, influenciando outros metaleiros do mundo. Ainda que isso soe chavão, é difícil entender por que a banda se apresentou para um público tão pequeno — pode ter sido o line up do domingo, com rock dividido espaço com atrações ultra pops, fazendo com que parte do público sequer se arriscasse para chegar no Mikes’s Ice, já quase no final do Autódromo. Coisas de festival.

Mas quem atravessou aquela distância não se arrependeu: clássicos como “Arise” e “Roots Bloody Roots” fizeram crescer a roda de mosh. Derrick Green, como sempre, interagiu com muita simpatia falando em português e inglês, enquanto Andreas Kisser entregou o peso das guitarras e headbanging que faz o público balançar o cabelo junto. Paulo Xisto, o único integrante original, provou mestria nas linhas de baixo e o batera Greyson Nekrutman não decepcionou mesmo substituindo Eloy Casagrande, querido pelos fãs, que acabou debandando para o Slipknot.

Destaque para “Kaiowas”, do Chaos A.D (1995), momento clássico em que a banda chama os amigos para tocarem percussão — dessa vez, os convidados foram Junior Lima e ninguém menos que Perry Farrell, do Jane’s Addiction e criador do Lollapalooza.

Olivia Rodrigo

Uma das atrações mais aguardadas do Lollapalooza foi a estreia de Olivia Rodrigo em um festival brasileiro. Quem assistiu ao show solo da cantora em Curitiba — ainda que por trechos das redes sociais — já sabia o que podia esperar: uma comoção geral do público que cantava cada verso de suas letras sobre as inseguranças e amores comuns a uma adolescente. Pois, apesar dos 22 anos, a cantora entregou uma performance cheia de segurança, como uma diva pop: se sujou de batom como fez Courtney Love, tocou no piano como prega a cartilha de Fiona Apple ou Taylor Swift. As referências distintas mostram que o som da cantora permite variedade: as canções de seus dois álbuns, Sour (2021) e Guts (2023), circulam entre baladas românticas e um pop rock dançante. Ao vivo, o vocal de Olivia performa melhor na primeira opção, enquanto sua banda, formada inteiramente por mulheres, segura as faixas mais agitadas como “Brutal”, “All American Bitch” e “Good For You”, que encerrou a noite.

A apresentação coloca Olivia no patamar de uma cantora de pop rock da nova geração — talvez, a única em grande projeção — que carrega esse gênero para uma novíssima geração, assim como já fizeram Alanis Morissette ou Avril Lavigne em tempos um pouquinho mais remotos. Tocando pela primeira vez no Brasil, Olivia ainda tem tempo para aperfeiçoar os pontos fracos, e sua evolução promete ser acompanhada sob olhar atento do público.

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