Decoração vintage e criativa: conheça o apartamento de Rafaella Dahlem
Apaixonada pelo antigo, a influenciadora transformou seu apartamento em Porto Alegre em um mundinho particular

Quando Rafaella Dahlem pisou pela primeira vez em seu apartamento, foi como observar um artista encarar uma tela em branco antes de iniciar sua pintura. Ali, com a possibilidade de exprimir toda a sua personalidade em um espaço físico, ela entendeu como a decisão de morar sozinha traria a liberdade há anos desejada.
Anteriormente, vivendo com os pais, também em Porto Alegre, ela tinha apenas as quatro paredes de seu quarto para extravasar a criatividade — e assim fez uso de cada milímetro. Depois, quando foi morar com o ex-namorado, teve a chance de dar algumas pitadinhas de suas ideias mirabolantes. Mas nada havia sido como desta vez.
“Quando entrei aqui e vi essa sacadinha com a janela, o sol entrando… Foi como me transportar e me imaginar chamando meus amigos”, relembra sobre quando visitou seu futuro novo lar, em 2022. Era um apartamento antigo, de cerca de 70m², ainda com paredes brancas e sem reforma.
“Talvez tenha sido também muito do estresse que vivemos na pandemia. Morar com os familiares é complicado. Amo os meus pais, mas é aquela coisa de estar sempre tendo um estímulo, estar sempre com alguém, precisando resolver alguma coisa. E na casa tínhamos sete cachorros!”, conta ela, que hoje, aos 34 anos, vive com dois, Rodrigo e Abigail, resgatados das enchentes históricas que devastaram cidades inteiras no Rio Grande do Sul.
“Quando vim para cá foi o primeiro momento, em anos, que consegui fazer nada. Tinha dias que sentava na sala e tomava café olhando para a parede. Foi o sentimento de, pela primeira vez, saber que teria meu espaço. Eu mesma posso criar os meus estímulos, e assim tenho a sensação de controle sobre a vida.” A vontade da casa própria foi adiada ao longo dos anos, mas acabou vindo no momento correto.
“Acho que até foi uma frustração muito grande ter demorado tanto para ter meu próprio lar, mas sou uma pessoa que não gosta tanto de ficar sozinha. Só que isso vem com a parte ruim, que é sempre ter que fazer concessões”, reflete.

Externar seus pensamentos criativos sempre foi uma necessidade para Rafaella. Advogada e servidora pública, a jovem encontrou nas redes sociais uma chance de colocar à tona esse seu lado pouco explorado no trabalho formal. Despretensiosamente, passou a compartilhar, em meados de 2017, seu visual no Instagram. “Na dúvida, eu uso”, costumava dizer à época sobre suas escolhas vindas do guarda-roupas.
No ambiente jurídico, conseguia ousar na medida do possível: camisas coloridas combinadas com alfaiataria. Fora dele, o céu era o limite. Camisetas largas com saias estampadas, vestidos retrô e muitas camadas iam compondo looks que não passavam batido na internet. Logo, Rafaella conquistou um público fiel não só por se identificar com o visual peculiar, mas também pelo seu senso de humor.
“Postava por diversão, mas comecei a ver engajamento. Às vezes, citava as marcas que estava usando e elas repostavam. Pensei: ‘Por que não faço isso também?’”. Depois do seu primeiro recebido — uma inesquecível sandália Melissa —, Rafa começou a postar com maior frequência. Passou também a compartilhar sua rotina, seu divertido quarto, a família e os cachorros.
Quando surgiram os Reels, ferramenta de vídeo do Instagram, veio a inspiração para fazer esquetes: “Fiz teatro quando criança. Comecei a escrever minhas ideias num papel e transformá-las em vídeos de comédia. Viralizaram horrores, até famosas compartilhavam. Nesse momento, tive realmente um boom”.
DÉCOR AQUARIANA
É difícil definir o estilo do apartamento da gaúcha, mas Rafaella prefere assim, detesta ser colocada dentro de caixinhas. E vai além, adora desafiar os conceitos preestabelecidos: foi assim na sua relação com a moda e segue sendo nas preferências de interiores. “Se eu fizer um teste de coloração pessoal e alguém definir as melhores cores para meu tom, tenho certeza que usarei exatamente as opostas”, ironiza a aquariana.
“Eu não sigo nenhuma regrinha, fico até motivada a desafiá-las” Rafaella Dahlem
Com a ajuda dos arquitetos da @urbanodearq, Rafaella imprimiu suas vontades pelos cômodos. Nas paredes, por exemplo, já tinha decidido que queria muitas cores. Além de uma sala azul e uma cozinha bordô, a ideia era também levar seus tons favoritos para o quarto. Na dúvida entre rosa e verde, a sugestão do escritório foi adicionar ambos.
E se inserir cores fortes em ambientes pequenos é quase um pecado entre as normas convencionais de decoração, a moradora fica ainda mais satisfeita com a escolha: “Nas redes, quando as fotos do apartamento viralizam, vem gente dizer que é muita informação, que parece estar sempre bagunçado, que o quarto não pode ser colorido porque a gente não dorme direito, que não pode ter parede escura… Mas eu não não sigo nenhuma regrinha, fico até motivada a desafiá-las”.
“Gosto de convidar as pessoas para visitar meu apartamento, porque elas verão meus livros, minhas cerâmicas… É meu mundinho” Rafaella Dahlem
Amante das artes, Rafa criou o cenário de sua sala a partir de um quadro acima do sofá. Curiosamente, o Jardim das Delícias Terrenas, do holandês Hieronymus Bosch, descreve a história do mundo exatamente a partir da criação, com uma representação do Jardim do Éden.
“Fiz essa parede de quadros no modo freestyle. A maioria das pessoas vai testando, eu não, fui martelando e colocando conforme sentia”, conta sobre seu mundo particular, que descreve como uma extensão de si. “É uma forma de me conhecerem também. Gosto de convidar as pessoas para visitar meu apartamento, porque elas verão meus livros, minhas cerâmicas… É tipo o meu mundinho.”

Outra maneira que encontrou de conseguir objetos que fossem ao encontro dessa vontade de criar um espaço único foi recorrer aos leilões. São de lances e muita pesquisa que vêm alguns dos móveis antigos da casa. Eles dão esse ar vintage tão aconchegante do lar, no melhor estilo “casa de senhora”, como a moradora gosta de dizer. Mas esse universo próprio só fica completo, segundo Rafaella, quando compartilhado. Além de Rodrigo e Abigail, que trazem vida ao lar, ela também gosta de dividir o espaço sempre que possível.
Logo que se mudou, adorava cozinhar para os amigos e vivia com a casa cheia, fazendo valer o quarto de hóspedes. Porém, com o passar do tempo, algumas coisas foram mudando dentro da moradora. “Passamos pelas enchentes em Porto Alegre, fiquei um mês sem água. Depois desse acontecimento, sinto que algo se perdeu, só agora estou me recuperando.”
Contudo, a relação com a solitude inerente de morar só ainda é complexa: “Primeiro, aproveitei muito a solidão. Sentia a necessidade de ficar sozinha e cessar os estímulos do mundo. Precisava pensar apenas em mim, em vez de ficar tentando agradar as pessoas. Quando estou com os outros, fico muito ativa em tentar fazer as coisas certas. Foi a primeira vez que senti que conseguia recarregar a bateria social”.

Por outro lado, foi por conseguir esse momento a sós que enxergou a beleza da companhia, principalmente daquelas de quatro patas. “É muito bom poder ter sua própria rotina, às vezes não quero lavar a louça e deixo lá. Mas ter pessoas te motiva a fazer as coisas. É cansativo precisar sempre se moldar ao outro, mas também é algo que nos move. E isso é uma coisa que senti dos cachorros, eles acabaram me movendo também. Eu ficava o dia inteiro jogada no sofá assistindo série, agora dou uma volta porque preciso passear no sol com eles. É muito fácil se perder na solidão. Então consigo, dessa maneira, resgatar esse conforto de estar no meu lar.”
CRÉDITOS DE PRODUÇÃO
Texto Marina Marques
Foto Tita Leke
Edição de arte Catarina Moura
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