“Milton Nascimento não se explica, se sente”, diz diretora de documentário
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O documentário “Milton Bituca Nascimento” estreia nesta quinta-feira (20), levando ao cinema um retrato sensível da última tour do ícone da música brasileira. Dirigido por Flavia Moraes, o filme captura a conexão profunda entre Bituca e seus fãs, além de refletir sobre seu legado e a força transformadora de sua arte. Com distribuição da Gullane+, a produção percorre diversas cidades do Brasil, permitindo que o público reviva a emoção desse momento histórico.
Para entender os bastidores dessa jornada cinematográfica, conversamos com a diretora Flavia Moraes e o diretor musical do filme, Victor Pozas. Durante dois anos, Flavia acompanhou de perto Milton e sua equipe, registrando não apenas os grandes shows, mas também os momentos de intimidade, reflexão e conexão com artistas que o admiram. O documentário traz depoimentos de personalidades como Gilberto Gil, Mano Brown, Spike Lee e Quincy Jones, que ajudam a compor um mosaico sobre a influência do artista dentro e fora do Brasil.
Além das imagens ricas, o filme tem como produto o álbum ReNASCIMENTO, que reúne 12 faixas clássicas de Milton Nascimento reinterpretadas por talentos da nova geração. Nomes como Sandy, Liniker, Johnny Hooker, Kell Smith e MARO emprestam suas vozes a canções icônicas, oferecendo novas perspectivas às obras do artista. A produção musical, sob a direção de Victor Pozas, contou com a participação da Tallin Studio Orchestra, da Estônia, em faixas selecionadas, enriquecendo ainda mais os arranjos.
Confira o trailer e a entrevista abaixo:
Queria começar com uma pergunta mais pessoal, Flavia. O que o Milton representa na sua história?
Flavia: Bom, é essa é fácil. Eu quando ganhei a minha primeira mesada, tinha 11 anos, eu sei para comprar dois discos. Comprei o The Dark Side of the Moon (1973), do Pink Floyd, e o Clube da Esquina (1972). Fiquei fascinada pelo disco duplo, por aquela foto de capa… foi a minha trilha sonora da época. E hoje é reconhecido como o disco mais importante da história da nossa música popular [eleito pela revista Paste].
O filme busca entender a influência do Milton na música. Foi difícil estabelecer esse recorte temporal? Porque muita coisa aconteceu depois do documentário, né: o Grammy, o desfile pela Portela no carnaval… Não bate um sentimento de que o projeto poderia ter seguido adiante? É comum a qualquer pessoa à frente de uma pesquisa essa sensação, né… que, se dependesse de você, ela continuaria adiante…. [risos].
Flavia: É mais ou menos isso, acho que a tua percepção tá muito correta. Por isso mesmo, quando o Vitor e o Augusto [Nascimento, filho de Milton] me convidaram para fazer o projeto, já havia um recorte muito específico: um documentário que registrasse a última turnê.
Até porque um filme não daria conta da vida, da importância e do turbilhão que é Milton Nascimento.
Mas ele nos deu liberdade de fazer uma leitura que, eu gosto de dizer, é um retrato pintado com as cores que a gente viu durante esse percurso. A ideia era um road movie que seguisse o Milton e que tomasse o risco de todos os desafios e percalços que podem acontecer durante esse processo.
A turnê foi apresentando situações, convidados, dificuldades, fragilidades, momentos gloriosos, momentos de consagração… quer dizer, a gente transitava pelo desconhecido.
E o filme conta com depoimentos interessantíssimos, como de Spike Lee, Quincy Jones… todos eles falam da importância da música do Milton, que mesmo eles não entendendo uma palavra em português, conseguem se conectar com a musicalidade dele. Como foi a escolha dessas figuras e como foi o processo de conectar esses depoimentos?
Flavia: Essas premissas a gente buscava nas entrevistas: como você explica Milton Nascimento? E aí, obviamente, a gente abre um leque de especulações interessantes, porque o Milton você não explica: você sente.
Então tem essa questão, o filme começa na Europa, com um olhar de fora para o Milton e para o Brasil. E, quando a gente olha com uma certa perspectiva, a gente enxerga o tamanho do Milton e do Brasil. E aí depois voltando pra cá, o filme fica mais afetivo, porque conversamos com os pares, com aqueles que começaram com ele.
Eu não tinha um roteiro, eu tinha premissas. No início eu perdi o sono, porque eu administrava uma quantidade tão grande de entrevistas, músicas e histórias e a importância do Milton, tanta coisa gigante que era overwhelming. Eu ficava realmente sem conseguir dormir, era muito angustiante.
A medida em que a gente foi caminhando, as coisas pareciam que se fechavam como milagre na montagem. E aquilo que eu não entendia hoje, entendi depois de dois meses: comecei me dar conta de que o Milton, o entorno do Milton, gira em torno de coisas que são predestinadas, milagrosas. É quase como se esse filme tivesse pronto antes de ter sido feito.
E tem ainda narração da Fernanda Montenegro, que torna o filme ainda mais emocionante…
Flavia: A dona Fernanda deu de presente a narração para o Milton. É muito emocionante, porque você tem dois gigantes já chegando numa idade madura. Inclusive percebemos a carga de emoção que tem na voz da Fernanda: porque, ao falar do seu par, do seu amigo, ela fala dela mesma também. Fala-se disso de finitude, o filme discute isso, né? O que é o fim para um imortal? E a Fernanda, de certa forma, também, assim como Milton, é imortal.
Vitor, agora uma pergunta específica para você, a respeito da trilha sonora. Como foi selecionar dentre uma série de músicas essenciais da discografia do Bituca?
Victor: Pois é, o filme tem quase 40 músicas! E essa escolha ocorre muito devido à edição. Conforme foram aparecendo as histórias, fomos encaixando as canções. Tem essa facilidade, é um repertório enorme de músicas maravilhosas. Por exemplo, tem uma cena com o Milton na frente da Brooklyn Bridge, ele fala: “O futuro tá aqui, o passado tá lá”. Não tem como não usar “Bridges” naquele momento.
E temos também a trilha sonora, que reúne jovens nomes da música em uma releitura da obra grandiosa do Milton. Esse desdobramento também foi muito emocionante de realizar e prova, mais uma vez, que a obra do Milton é eterna e seguira reverberando.
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