Lázaro Ramos abre o jogo: por que o debate continua tão difícil em 2025?
Na obra, lançada pela Companhia das Letras, o ator e diretor conta sobre a necessidade de celebrar as mulheres de sua família

O que é preciso para se travar um diálogo? Essa pergunta ecoa há pelo menos oito anos na mente de Lázaro Ramos. Desde o lançamento de seu primeiro livro, em 2017, o ator e diretor reflete sobre como estimular conversas mais frequentes no dia a dia. Agora, ele quer ampliar o alcance desse assunto. Em Na Nossa Pele (Companhia das Letras, R$ 69,90), Lázaro entende que sua trajetória não é só uma experiência individual. Por meio de relatos íntimos, acompanhamos suas memórias menos conhecidas.
Confira a entrevista completa:
CLAUDIA: Estamos em 2025, e muitos ainda têm dificuldade em manter um debate. Você acredita que o ato de conversar ficou mais difícil?
Eu acho que continua tão difícil quanto. A diferença é que agora conseguimos identificar com mais facilidade as pessoas que não estão dispostas a dialogar. Portanto, no que eu foco? Nas pessoas que estão no mesmo espectro de pensamento, dispostas a reavaliar os erros da caminhada, porque acho que eles são importantes também.
CLAUDIA: No livro você traz os adinkras, um conjunto de símbolos do povo Acã, que aprofunda as conversas tecidas com palavras. Como surgiu seu contato com essa simbologia ganense?
Eu já conhecia os adinkras, mas sem muita profundidade. Foi somente na última temporada do programa Espelho (2006-2021) que Thiago Marques, diretor de arte do projeto, me falou que gostaria de elaborar um dos cenários com os símbolos. Infelizmente, Thiago faleceu em 2022, mas sua criação me inspirou. Era uma pessoa com quem eu trocava muito sobre a africanidade e a afrobrasilidade. De repente, recebi de sua assessora uma bolsa com as sobras do tecido do cenário que ele fez usando os adinkras. Esse presente me tocou profundamente e compreendi o saber que esses símbolos carregam e que também me pertence.
CLAUDIA: Em Na Nossa Pele você retoma lembranças de figuras femininas fortes, como sua mãe e tia-avó. Como foi isso para você?
Nunca me permiti falar em voz alta sobre as mulheres que me cercaram na infância. Sempre celebrei minha tia-avó Dindinha, que criou 19 crianças sem ser mãe biológica, e minha mãe, mas sem aprofundar suas histórias. Não estava preparado para olhar para elas com todos os dilemas que viveram, até que, após uma doença no ano passado, percebi que precisava fazer isso, incluindo minhas vulnerabilidades. Esse processo culminou na finalização do livro em Cabo Verde, onde, longe da fama, consegui me acolher. A gente faz muitos sacrifícios pela nossa existência, mas às vezes não consegue equilibrar o cuidado com os outros e com si mesmo. Essa talvez seja a minha maior questão com o afeto, e isso veio através das mulheres.
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