Ao vivo: Em Allianz lotado, Mick Hucknall conduz ‘bailão do ruivão’ nos 40 anos do Simply Red

Em pouco mais de duas horas, Mick Hucknall trouxe à Pompeia um verdadeiro Bailão do Ruivão, alternando números balançados com baladas prontas para acariciar ou machucar os corações.

Mar 18, 2025 - 16:58
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Ao vivo: Em Allianz lotado, Mick Hucknall conduz ‘bailão do ruivão’ nos 40 anos do Simply Red

texto e vídeos de Bruno Capelas
fotos de Douglas Mosh

No passado já distante de 2023, quando foram anunciados os shows do Simply Red no Brasil, muita gente não acreditou que o grupo do inglês Mick Hucknall pudesse encher um estádio em São Paulo. Um ano e meio depois, tal suposição caiu por terra em um Allianz Parque com ingressos esgotados, em um gramado totalmente coberto por cadeiras. Ao todo, cerca de 40 mil pessoas compareceram ao local na noite do sábado, 15 de março, ávidas para ouvir a banda que, durante décadas, ganhou a pecha de “som de motel”, “trilha de consultório de dentista” ou “rádio de Uber sem ar condicionado”, além de ostentar inúmeras presenças nas trilhas de novelas da Globo – e até uma participação especial em “Celebridade”, de Gilberto Braga, exibida em 2003.

Não que os rótulos detratores importem muito para Mick Hucknall. Ostentando a velha cabeleira ruiva e ótimos agudos, o inglês comemorou 40 anos de carreira com uma pouco inovadora, mas muito charmosa mistura entre o pop-folk inglês e o soul da Motown e da Stax que ele tanto ouvia na juventude.

Em seu segundo show no Brasil nesta turnê, após uma exibição na distante Farmasi Arena, no Rio, Hucknall não só mostrou sua bela voz, mas também foi um entertainer de respeito. Ele elogiou a plateia (“essa próxima é de 1988, ano em que vocês não tinham nascido”, brincou), abriu espaço para solos de seus músicos – com destaque para o guitarrista Kenji Suzuki e o saxofonista Ian Kirkham – e derramou seu charme por todo o palco, encantando um público diverso na idade (dos 20 e poucos aos 60 e tantos), no perfil e nas vestimentas.

Em pouco mais de duas horas, ele trouxe à Pompeia um verdadeiro Bailão do Ruivão, alternando números balançados (“Money’s Too Tight (To Mention)”, “The Right Thing”, a releitura de Barry White em “It’s Only Love Doing Its Thing”) com baladas prontas para acariciar ou machucar os corações. Nesse último quesito, destaque especial para a trinca “If You Don’t Know Me By Now”, “For Your Babies” e “Stars”, que apareceu na metade do show com uma potência capaz de gerar um pico na fabricação de bebês em São Paulo – daqui a nove meses, espera-se, poderemos ver os resultados.

E enquanto as três baladas supracitadas talvez sejam os três números mais famosos da banda, foi interessante notar ao longo da noite como o Simply Red tem canções capazes de ocupar recônditos do hipocampo, no melhor espírito “não lembro o nome dessa, mas sei cantar o refrão”. Pode ser apenas osmose radiofônica, mas também pode ser a força de melodias capazes de se impregnar ao tecido da vida cotidiana – caso de “Sunrise”, “Enough” ou da sutil e irônica “So Beautiful”, que fez casais dançarem coladinhos mesmo com o refrão que dizia “you’re so beautiful, but oh, so boring”.

Parte dessa sensação nostálgica, porém, também se deve ao fato de que Mick Hucknall não só escreve bem, mas também soube pinçar outras melodias chicletudas para incorporar ao seu repertório ao longo de quatro décadas. Entre elas, apareceram no Allianz boas versões para “You Make Me Feel Brand New”, do The Stylistics, ou “The Air That I Breathe”, do The Hollies (mas curiosamente composta por um tal Albert Hammond, que vem a ser pai… de Albert Hammond Jr., guitarrista dos Strokes).

Claro que nem tudo foi perfeito: antes do bis, Hucknall deu uma escorregada ao tentar homenagear o Brasil com “Playground”, que parece mais rumba do que samba. Tudo bem, tudo bem. Ao retornar para o palco, ele executou uma sequência de classe que resume muito bem a apresentação, com a balançada “Something Got Me Started” e a indefectível “Holding Back the Years”, primeiro single lançado pelo Simply Red lá em 1985, demonstrando por A mais B que Mick Hucknall segue segurando a onda do tempo. Sorte de quem sabe curtir.

– Bruno Capelas (@noacapelas) é jornalista. Apresenta o Programa de Indie e escreve a newsletter Meus Discos, Meus Drinks e Nada Mais. Colabora com o Scream & Yell desde 2010.
– Douglas Mosh é fotógrafo de shows e produtor. Conheça seu trabalho em instagram.com/dougmosh.prod