Faixa a faixa: Rés apresenta o álbum “peba”

"peba" é composto por seis faixas autorais além de versões de "Piedra y Camino", de Atahualpa Yupanqui, "morte é paz", de Paulo Vanzolini, e um entreato/ vinheta de "Assum Preto" com participação vocal da cantora baiana Bruna Luz.

Mar 8, 2025 - 04:42
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Faixa a faixa: Rés apresenta o álbum “peba”

introdução por Diego Albuquerque
Faixa a faixa por Rés

Rés Cruzatto é um artista não binário de São Paulo que teve várias bandas até se encontrar na música com o projeto eletrônico lo-fi cheio de colagens e referências cinematográficas Suave. Com o Suave ele já lançou dois álbuns, um EP e vários singles (quase tudo pelo Hominis Canidae REC).

Agora, além de fazer parte da banda Cassanota, Cruzatto retorna à canção em um novo projeto utilizando o nome de Rés. Seu primeiro lançamento com o novo projeto é “peba”, que reúne nove canções gravadas em casa e ao violão, com acompanhamento percussivo que remete ao samba e que perpassam por vários ritmos da música brasileira.

“peba” é composto por seis faixas autorais além de versões de “Piedra y Camino”, de Atahualpa Yupanqui, “morte é paz”, de Paulo Vanzolini, e um entreato/ vinheta de “Assum Preto” com participação vocal da cantora baiana Bruna Luz. Ouça o álbum em seu tocador de streaming favorito e conheça, abaixo, o álbum faixa a faixa comentado por Rés.

01) reviravolta – Essa música me veio na época em que rolaram umas queimadas no Pico do Jaraguá, aqui do lado de casa. Tempos de pandemia e aquela sensação crescente de impotência diante do fim do mundo (o capitalismo adora que a gente se sinta assim). Então ela é como um grito desesperado pra que a gente solte as amarras que nos impedem de nos organizarmos de forma realmente eficaz, para irmos pr’além da rede de apoio, buscando um senso real de pertencimento, uma comunidade, um território.

02) peba – Nessa daqui eu tentei trazer um pouco do ritmo do coco, misturando com uns elementos mais contemporâneos, como teclado e contrabaixo. “peba” é uma referência tanto ao tatu-peba quanto à expressão nordestina que denota algo sem valor ou importância; é um convite para escavarmos o que está por baixo do simples aparente.

03) elementar – Essa música é inspirada naquela coisa dos quatro elementos, que eu trago sempre comigo por conta do meu estudo com o tarot. O instrumental pra mim tem uma coisa meio Elomar, um tom de paganismo camponês que eu acho bonito e bruxão. Busquem conhecimento.

04) é ou não é – Essa música surgiu do nada, bem pro final do processo do álbum. Não sei bem como, mas compus a música e a letra num único dia, e no dia seguinte já tinha mixado e terminado tudo. No fim das contas, acho que é sobre isso. Ou não é?

05) assum preto – Esse entreato foi cantado pela minha amiga e cantora baiana Bruna Luz. Esse trecho da composição clássica de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira me remete aos tempos atuais… Está cada vez mais difícil olhar pra fora e estar presente no mundo real.

06) possessão – Essa é uma antiga composição minha que eu resolvi restaurar pro álbum. Talvez seja a minha música mais espiritual (não vou elaborar).

07) piedra y camino – A minha ideia em gravar uma versão dessa composição maravilhosa de Atahualpa Yupanqui era a de que ela formasse uma espécie de yin-yang com a música seguinte, já que ambas tratam de algo como um pensamento nômade; uma ode ao movimento, com suas dores e delícias.

08) hanagiri – E se antes passamos por um momento mais soturno, aqui temos o movimento sendo afirmado em toda a sua potência. Vale lembrar que não se trata necessariamente de um nomadismo físico. É também sobre passear por territórios internos, sobre desbravar a imensidão de si – se perder e se encontrar na jornada.

09) morte é paz – Decidi gravar esse samba de Paulo Vanzolini durante um processo em que senti a morte muito próxima de mim. Foi intenso, mas também me levou a valorizar muito a vida e as pessoas ao redor. É o tipo de coisa que te tira do marasmo e faz com que você perca o medo de afirmar uma diferença radical nessa vida. Acho que isso tudo está na música, e me pareceu um jeito bom de fechar o álbum.

– Diego Albuquerque é o criador do blog Hominis Canidae, um dos maiores repositórios de discos brasileiros da última década. O blog foi criado em 2009, no Recife, e divulga novos artistas e nomes indies da música brasileira, de norte a sul do país.