Imóvel da Academia dos Amadores de Música está à venda por 3,6 milhões de euros

Apartamento da Rua Nova da Trindade está à venda. A 30 de Agosto, escola centenária terá de abandonar instalações e ainda não tem espaço alternativo.

Mar 14, 2025 - 14:54
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Imóvel da Academia dos Amadores de Música está à venda por 3,6 milhões de euros
Imóvel da Academia dos Amadores de Música está à venda por 3,6 milhões de euros

Ainda a Academia de Amadores de Música está a formar mais de 300 jovens de diferentes zonas de Lisboa, do piano à bateria, e o imóvel que ocupa é apresentado por uma imobiliária como um "apartamento exclusivo", de 783 metros quadrados, à venda por 3,6 milhões de euros. São 24 divisões, com "pequenos jardins interiores" e "vistas panorâmicas da cidade" e, portanto, "uma oportunidade verdadeiramente única", na visão da empresa. "Não é de admirar, já todos sabíamos que isto ia acontecer. Carlos Moedas também e não quer resolver. O que vamos ter? Mais um hotel?", questiona-se a candidata do Bloco de Esquerda à autarquia, Carolina Serrão, nas redes sociais.

Com o contrato de arrendamento a vigorar até ao final de Agosto, estes são os últimos dias da histórica escola do Chiado no edifício onde funciona há mais de 60 anos e perante a ausência de um espaço onde possa prosseguir a actividade. Dada a proximidade do prazo, a instituição fundada em 1884 agendou um protesto para as 16.00 do dia 18 de Março (o dia em que fazem 141 anos), terça-feira, na Praça do Município.

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"Nunca conseguiremos comprar um espaço no centro da cidade. Estamos à procura de lugares que possam ser cedidos. Já nos falaram em ir para Marvila ou o Beato, mas seria uma loucura pôr professores e alunos a deslocarem-se até lá com a rede de transportes que temos, num sítio onde não há metro. Não havendo centralidade, sabemos que, a prazo, seria a morte da academia", explicava Pedro Barata à Time Out, em Dezembro de 2023. Um dos primeiros pedidos de apoio foi dirigido à Câmara Municipal de Lisboa, com o presidente actual, Carlos Moedas, a indicar que a tarefa de encontrar um espaço para a academia "não tem sido fácil" e que tem conversado com o Governo no sentido de este ceder um imóvel do Estado.

Uma das possibilidades apresentadas mais recentemente foi o edifício da antiga Direcção de Recrutamento Militar de Lisboa, na Avenida de Berna, propriedade da Estamo, empresa pública que gere o património do Estado. No entanto, embora tenha "óptimas condições", na palavras de Pedro Barata, citado pela agência Lusa, "as condições que a Estamo ofereceu são absolutamente incompatíveis com as capacidades financeiras" da Academia. O valor pedido estaria perto dos 7000 euros, enquanto a renda actual paga pela academia, na Rua Nova da Trindade, é de 3780 euros, depois de ter subido desde os 542.

Antes chegaram a existir outras propostas, como o edifício parcialmente ocupado pelo arquivo da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, indicado como solução por Carlos Moedas, antes mesmo de o autarca ter consultado aquele organismo público. A solução, portanto, caiu rapidamente, como outras, embora a Academia procure um espaço alternativo desde 2002 e esteja em conversações com a autarquia desde 2018, garante o presidente da administração.

A cinco meses do despejo e a quatro dias do protesto em frente à Câmara de Lisboa, a Academia diz o seguinte, nas redes sociais: "A luta da Academia de Amadores de Música não é só nossa. É de todas as instituições que enfrentam o risco de despejo, de todas as colectividades ameaçadas, de todos os que acreditam que a cultura e a educação não são descartáveis". "Sem escolas, cultura, educação e arte, o futuro dos nossos jovens será mais pobre e mais precário", sublinha a instituição centenária.