Punk is Coming Festival: Offspring brilha com seu cirquinho punk enquanto Sublime tortura fãs
texto por Marcelo Costafotos por Douglas Mosh Paul McCartney que se cuide. Com a passagem da turnê “SUPERCHARGED Worldwide in ’25” pelo Brasil, o Offspring

texto por Marcelo Costa
fotos por Douglas Mosh
Paul McCartney que se cuide. Com a passagem da turnê “SUPERCHARGED Worldwide in ’25” pelo Brasil, o Offspring soma nada menos que 34 shows em território brasileiro contra 39 do ex-beatle (relembre a mais recente). Desde a primeira vez que pisou em solo brasileiro, no século passado, com dois shows no Olympia, em São Paulo, Dexter Holland, o único membro da formação original que fundou a banda em 1984, já trouxe cinco bateristas diferentes para “passear” pelo Brasil nas 12 turnês que a banda fez pelo país desde 1997, e esse começo de texto com jeitão de nariz de cera tem a função de reforçar o óbvio: Offspring no Brasil é sucesso.
Sucesso é bom demais, mas a “gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e” um som bom, algo que infelizmente faltou no Allianz Parque no sábado (8) – mas a queima de fogos estava divina, vale assinalar (se o público vai a um show de [punk] rock para ver fogos é um outro assunto). Pontuado isso, a maratona do OffspringFest (aka Punk is Coming Festival), que começou ao meio dia e terminou próximo das 23h – reuniu uma banda explosiva prestes a decolar no cenário mundial, um trio de irmãs barulhentas, vovôs punks estilosos, punk rock honesto e um dos piores shows de um artista perante o público desde o vexame de Amy Winehouse na Arenha Anhembi, em 2011. E, claro, o cirquinho punk dos donos.
Escalados para dar o pontapé inicial no festival (tanto em São Paulo quanto em Curitiba, quando abririam a maratona com um show antes do almoço!), a Amyl and The Sniffers repetiu no Allianz a apresentação matadora que fez no Cine Joia, dois dias antes. Curiosidade: se o som na quinta estava um lixo, algo que até combina com o pub rock podre do grupo, nesta abertura de festival estava alto e estridente, uma delícia que não duraria para os shows seguintes. Os australianos estavam mais à vontade e menos tímidos também, e o show (mais curto, 14 canções contra 21 no Cine Joia, mas não menos divertido) passou voando. Quem chegou cedo se esbaldou.
Sem DJ set pra distrair o público nos intervalos, o jeito foi pegar uma sombra enquanto arrumavam o palco para a próxima atração, isso, claro, se você não tivesse com balões vermelhos nas mãos e não fosse do fã clube das Warning, trio formado pelas irmãs Daniela (guitarra), Paulina (bateria) e Alejandra (baixo). Com o gargarejo tomado pelos fãs, as mexicanas (que pareciam peixe fora d’agua no line-up “punk” com seu hard rock adolescente) foram recebidas com carinho e atenção pelo público. O som, já mais baixo, se não permitiu lapadas boas nos ouvidos, também não atrapalhou o trio, que fez uma apresentação certeira e correta em sua estreia no Brasil. Pode anotar: a estrada do sucesso está aberta para elas, e elas ainda vão voltar muito ao país.
Hora da trivia: você sabia que “Damned Damned Damned”, o álbum de estreia do The Damned, é um dos primeiros álbuns do punk rock a serem lançados (antes mesmo das estreias do Clash e do Sex Pistols)? E que Brian James, o cara que compôs quase todas as canções dos dois primeiros discos do Damned (incluindo os hits “New Rose” e “Neat Neat Neat”), e estava fora da banda desde 2022, morreu na véspera do show da banda no Cine Joia? Um amigo deu a triste notícia a eles na mesa do jantar, e a bad foi geral, com boas memórias e sentimentos de receio (todo mundo ali está na mesma faixa etária de Brian)…
O parágrafo anterior poderia ser dispensável, mas soa necessário para reforçar a importância de ver uma banda lendária fodaça como o Damned em ação. No dia anterior, e com um som muito melhor, eles levaram rosas ao palco do Cine Joia para celebrar o amigo que partiu num set de 22 canções que fez muito punk véio marejar os olhos. No calor do Allianz, o set list diminuiu para 15 canções, e mesmo assim o vocalista David Vanian (um dos três membros originais – junto ao guitarrista Captain Sensible e ao baterista Rat Scabies – que montou a banda em 1976 ainda na ativa) não retirou as luvas, mantendo o estilo cool. A plateia parecia dispersa, mas foda-se: o show (com imagens de Brian no telão em “Fan Club” e “New Rose”) foi bonito.
Na sequência, o Rise Against reatou seus laços punks com o público brasileiro – Tim McIIrath (vocal e guitarra) repetiu diversas vezes o quanto estava feliz de estar de volta ao país. O punk honesto dos caras segue a cartilha do hardcore made in USA noventista, ou seja, é quadradinho e politizado, sem muitas invencionices. Mas, ainda assim, Tim levou “Swing Life Away” de forma acústica, sozinho ao violão, e rodas punk se abriram em números como “Give It All” e em “Savior”, que fechou o set de um show que pareceu um pouco mais longo do que deveria. E já que falamos em shows longos… o que a versão Sublime 2025 fez no Allianz é algo digno de entrar em um ranking, o das piores apresentações de artistas estrangeiros em solo brasileiro! Segue uma sugestão (pessoal) de top 3, mas fique a vontade para sugerir o seu ranking nos comentários:
1) Sublime no Allianz, 2025
2) Amy Winehouse no Ibirapuera, 2011
3) Lemonheads no Directv Music Hall, 2004
Menção honrosa: Kanye West no Tim Festival SP, 2008
“Mas foi tão ruim assim o Sublime?”, pergunta o leitor, incrédulo. Então, não foi apenas ruim, foi torturante. Porém, primeiro ponto: o ska reggae dos caras tinha tudo para funcionar antes do cirquinho punk do Offspring, a escalação parecia correta, afinal os gêneros conversam e o Sublime tem a seu favor ingredientes que facilitam a festa: um repertório clássico e público. Só faltou… ensaiar. O som, baixo e embolado (tinha fã cantando, sem esforço, mais alto que o som que saia pelas caixas), colaborou para o desastre, mas Jakob Nowell, que hoje tem um ano a mais do que seu pai tinha quando sofreu uma overdose de heroína em 1996, parecia desconectado do palco, cantando fora do microfone, entrando errado nas músicas e errando letras. Um espetáculo triste que nem os covers de Toots & The Maytals, Bob Marley & The Wailers e o hino “Santeria” conseguiram salvar.
Depois do balde de água fria, que tal um cirquinho? Com jatos de fogos na beira do palco e um show de luzes no topo do estádio, o Offspring prova por A + B que chega uma hora na carreira de quase todo rockstar que apenas as canções não bastam, por mais que elas sejam boas. No Allianz, o Offspring ofereceu um dos melhores sons de guitarra do dia, fez aquelas piadinhas dispensáveis sem abusar tanto do tempo (e encher o saco como Dave Ghrol) e, principalmente, não enfiou canções novas meia boca goela abaixo do público (foram apenas duas novas – a populista “Come To Brazil” e “Make It All Right” – entre dezenove canções). Como retribuição, Dexter e Noodles viram o público se esgoelar em “All I Want”, “Come Out and Play” e “Bad Hit”, pogar com sorriso no rosto em um cover dos Ramones (”Blitzkrieg Bop”) e fazer air guitar no momento classic rock do show (punk quem mesmo?), em que Noodles brinca com riffs de canções do Deep Purple, Black Sabbath e AC/DC. “Pretty Fly (for a White Guy)” e “The Kids Aren’t Alrighty” encerraram a primeira parte do show, e todo mundo saiu do estádio fazendo os vocais nerd bêbados de “Self Esteem”.
Tirando os problemas de som, o Punk is Coming Festival lembrou muito os festivais em estádio do século passado (como Hollywood Rock e Monsters of Rock), em que as bandas se alternavam no palco e o público, sub-aproveitado, ficava jogado pelos cantos nos intervalos das apresentações esperando o barulho soar novamente. Não que seja totalmente ruim (é preferível o “silêncio” e a paz do que a poluição visual de tanto marketing que certos festivais oferecem), mas, de repente, dois palcos menores com atrações nacionais ou mesmo DJs rock and roll (em cada canto da linha de fundo contrária) já transformariam o ambiente em algo mais… acolhedor para quem irá passar mais de 10 horas ali. Ainda assim, como um todo, o Punk is Coming Festival se mostrou um festival que merece outras edições. Quem sabe, com Green Day, quem sabe…
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne. – Douglas Mosh é fotógrafo de shows e produtor. Conheça seu trabalho em instagram.com/dougmosh.prod