Entrevista: De Porto Alegre, Jaydson fala sobre seu disco de estreia, “Live Fast, Die Old”

Nessa conversa, Jaydson fala sobre o processo de composição e gravação de “Live Fast, Die Old”, declara amor ao NOFX, aos Mamonas Assassinas e ao grupo de Kurt Cobain

Apr 18, 2025 - 16:09
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Entrevista: De Porto Alegre, Jaydson fala sobre seu disco de estreia, “Live Fast, Die Old”

entrevista de Bruno Lisboa

Jaydson passou os últimos 20 anos trabalhando com tecnologia em Porto Alegre, mas nunca deixou de pensar na música. Em um curso sobre produção musical, 10 anos atrás, conheceu Marcel Bittencourt, que se tornaria amigo, parceiro, baixista e produtor de seu disco de estreia, “Live Fast, Die Old” (2025), que ganhou o mundo em abril de 2025 recheado de influências que vão de Nirvana e NOFX a Jupiter Maçã e Mamonas Assassinas. Completam a banda Renato Siqueira (bateria) e Rodrigo Ferreira (guitarra).

Composto por nove faixas, “Live Fast, Die Old” se divide em três blocos temáticos, cada um com três faixas. A abertura, composta por “She Never Even Tried”, “Filme do Almodóvar” e “Afraid”, reflete sobre as complexidades das relações pessoais. Já “Live Fast, Die Old”, “I Don’t Wanna Die Young” e “Camisa Amarela” exploram revolta e protesto, enquanto as últimas faixas, “Psilocybin”, “Somos Só Carbono” e “Misery”, questionam o existencialismo e o espírito niilista dos tempos modernos

Na conversa abaixo, Jaydson fala sobre o processo de composição e gravação de “Live Fast, Die Old”, declara amor ao NOFX, aos Mamonas Assassinas e ao grupo de Kurt Cobain (“Quem viveu os anos 90 tem Nirvana no sangue, querendo ou não”, diz), fala sobre a cena independente gaúcha na atualidade, o trabalho junto a Marcel Bittencourt, as diferenças entre compor em inglês e em português, planos futuros e mais.

O título do disco faz um jogo interessante com o lema famoso no rock e no cinema que o Circle Jerks também usou numa música, “Live Fast Die Young”. Como surgiu essa ideia e o que ela representa para vocês?
Surgiu na gravação do nosso primeiro single, “I Don’t Wanna Die Young”, que é justamente um som dentro desta temática. Na música, faço uma homenagem aos artistas que nos deixaram precocemente, como Kurt Cobain, Amy Winehouse, Jim Morrison, Jimi Hendrix. Meu amigo Homero, que faz minha assessoria e redes sociais, comentou sobre o lema “Live Fast Die Young” e indicou que o single pregava justamente o contrário, “Live Fast Die Old”. Gostei tanto que decidi colocar o nome do disco e também fiz uma música com o mesmo título.

As letras abordam desde relações interpessoais a revolta passando por questionamentos existenciais. Como se deu o processo de composição do novo repertório e o quão pessoais essas canções são?
As composições são 100% pessoais. Todas as músicas se baseiam em experiências ou anseios reais meus. Meu processo é bem orgânico. Eu anoto tudo que me vem na cabeça. Às vezes uma frase, às vezes apenas um pensamento. Conforme as coisas andam, pode virar música ou não. O mesmo acontece com riffs de guitarra e melodias. Eu sempre guardo tudo. De maneira geral, a inspiração vem e olho para o que já tenho e vou montando um quebra cabeça, criando mais em cima até chegar em algum material que eu julgue promissor e que eu goste.

O disco traz influências que vão de Nirvana e NOFX a Júpiter Maçã. Como essas referências se misturam na sonoridade da banda?
Quem viveu os anos 90 tem Nirvana no sangue, querendo ou não. A banda foi um verdadeiro marco histórico na música. Eu sempre ouvi e sempre gostei. Mas com Nirvana tenho uma relação muito especial e diferente. Eu sigo gostando cada vez mais. Nesse processo de sempre voltar ao Nirvana, é impossível não ter traços de influência em minhas composições, o que é ótimo. Às vezes é inconsciente e outras vezes completamente consciente. Já NOFX tenho como minha banda da vida. Eu aprendi tanto com NOFX que consigo relacionar momentos da minha vida com a banda. Aprendizados complexos da sociedade, visão de mundo, tudo isso me remete à NOFX. Além de tudo eu gosto muito da sonoridade da banda e do jeito que Fat Mike escreve e faz melodias. Me inspiro muito nisso para minhas músicas. Júpiter Maçã pode parecer menos óbvio quando estamos falando de um álbum que é muito mais punk rock. Mas existe uma boa influência em minhas composições e na minha persona artística. Eu acho o Flávio Basso genial. Há quem discorde, mas pra mim ele foi alguém que fez algo muito além do seu tempo.

Além das influências citadas, existem outras bandas ou artistas que tiveram impacto direto na criação deste álbum?
Eu cito Mamonas Assassinas, pois foi das primeiras bandas que eu ouvi um disco inteiro e que fui realmente apaixonado. Para os mais atentos, é possível notar uma leve influência em algumas músicas. Mas também vale citar influências dos outros membros da banda. Em termos de arranjos e instrumentos, tem o toque de cada um em todas as canções. E essas influências são bem variadas, indo do metal ao hard rock, da música clássica ao stoner.

Como você enxerga a cena do rock alternativo e do punk atualmente no Brasil e no Rio Grande do Sul?
Eu vejo com muito bons olhos. O momento é propício. O mundo está um caos, o capitalismo e o neoliberalismo estão corroendo tudo de forma avassaladora. Estamos no meio do turbilhão do neofascismo e o conservadorismo está cada vez mais forte. Eu julgo esse momento histórico como um ambiente fértil para fazer arte. A cena está no underground, não dá para querer reclamar que não existem mais bandas boas e procurar no mainstream. Eu conheço uma banda nova do RS toda semana. Eu vou ao menos em 2 shows underground por semana, às vezes mais. Vejo bandas autorais ao vivo toda semana. E tem sempre coisa nova e sempre coisa boa. Me parece que estamos em um momento de muita efervescência.

O álbum foi produzido pelo baixista Marcel Bittencourt. Como se deu a aproximação de vocês e quais as contribuições ele trouxe para o resultado final?
Conheci o Marcel há mais de 10 anos quando ele estava dando um curso sobre produção musical. Eu justamente fui ao curso pois já estava pensando em retomar meu trabalho na música. Além do conhecimento técnico, o Marcel é um baita cara. Viramos grandes amigos. O álbum não existiria na forma que existe sem o Marcel. Ele analisou o meu material e me deu o caminho para novas composições. Ele encontrou a estética e organizou minha cabeça em relação ao que fazer como músico e compositor. O resultado final é a combinação de minhas composições e do trabalho dos músicos da banda. Mas o resultado final é mérito do Marcel como ótimo produtor que é.

As canções se alternam entre o português e o inglês. Como se deu a escolha pelo idioma para cada faixa? A escolha pelo idioma interferiu diretamente na sonoridade de alguma faixa?
Não tem como negar, somos colonizados musicalmente (também). Crescemos ouvindo música em inglês. Meu processo de composição muitas vezes se dá em inglês simplesmente porque o que me veio à cabeça foi em inglês. Mas eu tenho feito um esforço para que cada vez mais minhas músicas sejam em português. A escolha para o disco se deu buscando um equilíbrio mesmo, pois eu não queria fazer um disco todo em inglês. Ao final, acho que esse é um modelo interessante. Eu não almejo o mercado fora do Brasil, mas é legal saber que tenho músicas que podem ser consumidas e entendidas no mundo todo.

O que mais podemos esperar da banda Jaydson nos próximos meses?
Queremos seguir fazendo shows. Seja em bares pequenos ou em locais maiores. Queremos tocar em algum festival, tocar no interior do RS e tocar fora do RS também. Além disso, já estou com material novo e em breve devemos começar a trabalhar no próximo disco.

–  Bruno Lisboa  escreve no Scream & Yell desde 2014. Escreve também no www.phono.com.br