Entrevista: Embaixador informal do highlife, Pat Thomas conta um pouco de sua história
Pat relembra seu início da carreira, a parceria com Ebo Taylor, sua relação com o público brasileiro além de refletir sobre a evolução do highlife e dar conselhos para as novas gerações de músicos.

entrevista de Bruno Lisboa
Pat Thomas é considerado por muitos um embaixador informal do highlife, gênero musical de Gana que abrange múltiplas fusões e métricas da música tradicional africana, mas tocada com instrumentos ocidentais, como a guitarra elétrica – o gênero se espalhou pelas regiões da África Ocidental devido a pioneiros como o Cardeal Rex Lawson, E.T. Mensah e Victor Uwaifo, e ganhou amplitude mundial com o álbum “Graceland” (1986), de Paul Simon, ainda que Pat Thomas já honrasse o estilo muito tempo antes, fator que lhe rendeu a alcunha de “A Voz de Ouro da África”.
Sua trajetória na música começou nos anos 1960, quando se juntou à banda liderada pelo guitarrista e arranjador Ebo Taylor. Em 1974, formou a banda Sweet Beans e com eles gravou seu primeiro álbum, “False Lover”. Seu segundo álbum, “Pat Thomas Introduces Marijata” (1976), tornou-se um marco da época, revelando talentos de sua banda e ampliando ainda mais seu prestígio. Após o golpe em Gana em 1979, mudou-se para Berlim e, posteriormente, fixou residência no Canada.
De lá pra cá, Pat Thomas seguiu gravando (em Gana, inclusive), lançando discos e colaborando com diversos parceiros, inclusive com o selo Jazz is Dead. Em 2025, Pat Thomas e Ebo Taylor desembarcam no Brasil para shows em Belo Horizonte (Autêntica, 30 de maio) e São Paulo (Casa Natura Musical, 6 de junho). Na conversa abaixo, ele relembra seu início da carreira, a parceria com Ebo Taylor, sua relação com o público brasileiro além de refletir sobre a evolução do highlife e dar conselhos para as novas gerações de músicos.
Como começou sua jornada musical? O que te inspirou a se tornar um músico?
Minha carreira musical começou assim que terminei minha educação primária, em 1962. Eu tive a visão, por conta própria, de que me tornaria um músico porque eu estava sempre cantando.
Seu tio foi teórico musical e sua mãe era cantora. Como eles influenciaram seu estilo?
Meu tio me inspirou um pouco porque ele já estava na indústria. Então fiquei com ele, não como músico, mas como meu tio, e aprendi com ele. Descobri que minha mãe cantava na igreja, então não foi surpresa para mim me tornar um músico, já que todos os meus irmãos também cantavam na igreja.
O highlife tem sido uma parte central da sua carreira. O que te atraiu para esse gênero?
No início, eu cantava reggae e R&B autorais. Cheguei até a escrever músicas de reggae. Mais tarde, percebi que o highlife era a música da minha terra natal, então decidi me dedicar a esse gênero.
Você e Ebo Taylor trabalham juntos desde os anos 1960. Como sua colaboração evoluiu ao longo dos anos e o que torna essa parceria tão especial?
É especial com o tio Ebo porque comecei minha carreira com ele. Ele já estava na indústria, formou uma banda e me escolheu como cantor. No início, ele disse ao nosso chefe que eu era pequeno demais para ser cantor, mas quando me deu uma chance, ficou muito satisfeito comigo. Ele se tornou meu melhor amigo, meu professor e tudo para mim.
“Pat Thomas Introduces Marijata” (1976) se tornou um álbum marcante na sua carreira. O que você lembra sobre o processo de gravação?
Meu produtor da Gapophone Records aproveitou uma única oportunidade para lançar dois sucessos. Ele percebeu que havia muitos músicos talentosos na minha banda, então me gravou e também aproveitou para gravar três músicos do grupo. Eles escolheram o nome “Marijata”, e eu fui o vocalista principal. Assim, os apresentei ao público depois da gravação, e eles também se tornaram nomes conhecidos.
Você morou na Alemanha e no Canadá. Como viver nesses países influenciou o seu som?
Bem, isso melhorou a qualidade do meu som por causa dos equipamentos modernos que surgiram naquela época, como os sintetizadores e diferentes tons no teclado, que melhoraram e mudaram meu som.
Ao longo dos anos, o highlife evoluiu. Como você vê o seu papel nessa transformação?
Sempre que ouço minha música no rádio, minha mente volta para o momento das gravações. Isso me faz sentir bem, porque, pelo menos, sei que contribuí com algo.
O lançamento de “Pat Thomas & Kwashibu Area Band”, em 2015, apresentou você a um novo público. Como esse álbum surgiu?
Bom, Kwame Yeboah começou tudo ao me convidar para a banda para uma turnê. Ele já tinha o grupo, mas, com minha entrada, mudou o nome para Kwashibu Area Band. Fizemos uma turnê de cerca de três meses, viajando por toda a Europa, além do Brasil, Alemanha, Holanda, França e muitos outros países. Onde quer que nos apresentássemos a recepção era incrível, mesmo que o público não entendesse as letras. Eles aproveitavam os ritmos e, às vezes, eu ensinava a cantar em nossa língua, o que era bem divertido.
Como você se sente ao ser chamado de “A Voz de Ouro da África”?
Eu me sinto ótimo sempre que ouço esse nome, “A Voz de Ouro da África”, e faço questão de manter essa voz dourada. É muito preciosa para mim.
Você trabalhou com o selo Jazz Is Dead. Como surgiu essa colaboração e como foi a experiência?
Esse selo lançou uma das minhas músicas e tivemos que fazer uma turnê com ela. Foi um grande sucesso.
Muitos jovens artistas se inspiram em você. Que conselho você daria para a próxima geração de músicos?
Meu conselho para os jovens músicos é que respeitem tanto os músicos mais velhos quanto os mais jovens. Você nunca sabe com quem vai trabalhar, então simplesmente respeite a todos.
Você tem uma carreira que já dura mais de cinco décadas. O que te mantém motivado?
Deus.
Você e Ebo Taylor estão se preparando para uma nova turnê. O que os fãs podem esperar das apresentações e como você vê sua conexão com o público brasileiro?
Já estivemos muitas vezes com o público brasileiro, sabemos o que eles querem e vamos dar a eles exatamente isso.
– Bruno Lisboa escreve no Scream & Yell desde 2014. Escreve também no www.phono.com.br.