Do design de coisas para o design de mudanças

Designers como facilitadores, protetores e colaboradores.Toda vez que visito minha mãe, ela me faz a mesma pergunta: “O que exatamente você faz com Design? Tentei explicar pra um amigo, mas ele não entendeu direito.”Muitas pessoas (não só minha mãe) ainda veem design como algo tangível — algo que podem segurar e tocar. Embora isso possa ter sido verdade há 20 anos, o mundo do design mudou. Hoje, grande parte do design é digital e se concentra no pensamento estratégico em vez de apenas criar produtos físicos.Essa mudança — do design como criação de objetos para o design como uma ferramenta para possibilitar mudanças — remodelou a profissão. Agora, precisamos perguntar: Qual é a próxima evolução necessária do design? Como adaptamos nosso trabalho para lidar com as crises interconectadas de hoje de mudanças climáticas, moradia, justiça e significado? Qual é o papel futuro de designers que ajudam a curar e regenerar nosso planeta?­DesignShift: Do design de coisas para o design de mudanças reaisEnquanto pondero essas perguntas, continuo retornando à ideia de menos — não no sentido de soluções elegantes inspiradas na Escandinávia (na verdade, acho que pode ser bem prejudicial), mas em termos do nosso papel como designers. Se quisermos projetar para uma mudança real, o papel de designers deve se tornar menos sobre projetar coisas novas, e mais sobre facilitar, proteger e aprimorar o que já existe.Vamos explorar essas três áreas.1. Designers como facilitadoresPor décadas, designers têm pressionado por um assento à mesa nas salas onde decisões cruciais são tomadas. No entanto, como explica um artigo da Fast Company de 2020, muitos CEOs ainda não entendem o papel da liderança em design (não é só minha mãe). A pesquisa revelou que “Apenas um terço dos CEOs conseguia detalhar o que seu CDO (Chief Design Officer) supervisionava na empresa. Em outras palavras, 66% dos CEOs não conseguiam dizer o que seu CDO realmente fazia, ou como sucesso deveria ser medido.”Quando você ouve essas discussões de “assento à mesa”, a conclusão óbvia pode ser que designers só precisam fazer mais para provar que merecem estar lá. Mas e se estivermos abordando isso da forma errada?Por mais importante que seja nosso papel nessas mesas e nas conversas de tomada de decisão, usuários ou clientes raramente estão “nessas mesas”. Eles estão fora de casa, vivendo suas vidas. Em vez de falar pelos usuários, como podemos facilitar a conversa e criar espaços onde outros possam compartilhar seus insights e soluções? A mudança fundamental é deixar de projetar para outras pessoas e passar a projetar com elas e uma maneira de fazer isso é por meio do co-design.Co-Design: Um método essencial para designers como facilitadoresQuando penso no papel de designers evoluindo da criação de coisas para a facilitação de mudanças, minha mente naturalmente se volta para o co-design. Kelly Ann McKercher, ao lado de muitos outros profissionais, foi pioneira no co-design. O método visa mudar o papel do designer de projetar “em” ou “para” para projetar “com” e “por”. Em seu site, McKercher descreve como “Co-design reúne experiência vivida, conhecimento vivido e experiência profissional para aprender uns com os outros e tornar as coisas melhores — através do design”. Hoje, muitos designers estão projetando “em” ou “para” outras pessoas. Nosso trabalho centraliza desejos dos clientes em vez de necessidades da comunidade. O co-design centraliza as experiências vividas das próprias pessoas, famílias e comunidades. Designers não são responsáveis por resolver problemas ou criar coisas, mas sim por permitir que outros encontrem suas próprias soluções.Níveis de participação em design em quatro colunas: design ‘em’, design ‘para’, design ‘com’, e design ‘por’. Imagem de: https://www.beyondstickynotes.com/what-is-codesignQuando olhamos para o co-design, podemos ver que o papel futuro (e atual em muitos lugares) de designers não é impor nosso conhecimento especializado às comunidades, mas sim facilitar espaços onde as pessoas possam compartilhar suas ideias e problemas de forma aberta e segura.4 princípios básicos do co-design:Compartilhar poderPriorizar relacionamentosUsar meios participativosConstruir capacidadeQuando penso sobre essa mudança de mentalidade e método, designers passando de especialistas para facilitadores, muitas vezes volto ao trabalho de organizadores comunitários. Nesta entrevista, Ezra Klein fala com a organizadora trabalhista Jane McAlevey sobre o que é preciso para mobilizar pessoas em um movimento trabalhista. McAlevey, que organizou centenas de milhares de trabalhadores nas linhas de frente do movimento trabalhista americano, explica: “Quando estou procurando organizadores, estou procurando pessoas que realmente acreditam que pessoas comuns têm alta inteligência e que realmente respeitam profundamente pessoas comuns. Começo cada dia acreditando genuinamente que as pessoas podem fazer mudanças radicais em como pensam e veem o mundo.”Designers têm muito a apren

Apr 15, 2025 - 11:04
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Do design de coisas para o design de mudanças

Designers como facilitadores, protetores e colaboradores.

Uma planta com folhas e as palavras ‘facilitadores’, ‘colaboradores’ e ‘protetores’.

Toda vez que visito minha mãe, ela me faz a mesma pergunta: “O que exatamente você faz com Design? Tentei explicar pra um amigo, mas ele não entendeu direito.”

Muitas pessoas (não só minha mãe) ainda veem design como algo tangível — algo que podem segurar e tocar. Embora isso possa ter sido verdade há 20 anos, o mundo do design mudou. Hoje, grande parte do design é digital e se concentra no pensamento estratégico em vez de apenas criar produtos físicos.

Essa mudança — do design como criação de objetos para o design como uma ferramenta para possibilitar mudanças — remodelou a profissão. Agora, precisamos perguntar: Qual é a próxima evolução necessária do design? Como adaptamos nosso trabalho para lidar com as crises interconectadas de hoje de mudanças climáticas, moradia, justiça e significado? Qual é o papel futuro de designers que ajudam a curar e regenerar nosso planeta?

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DesignShift: Do design de coisas para o design de mudanças reais

Enquanto pondero essas perguntas, continuo retornando à ideia de menos — não no sentido de soluções elegantes inspiradas na Escandinávia (na verdade, acho que pode ser bem prejudicial), mas em termos do nosso papel como designers. Se quisermos projetar para uma mudança real, o papel de designers deve se tornar menos sobre projetar coisas novas, e mais sobre facilitar, proteger e aprimorar o que já existe.

Vamos explorar essas três áreas.

1. Designers como facilitadores

Uma flor num fundo cinza com o texto “Designers como facilitadores”. Logo do DesignShifts.

Por décadas, designers têm pressionado por um assento à mesa nas salas onde decisões cruciais são tomadas. No entanto, como explica um artigo da Fast Company de 2020, muitos CEOs ainda não entendem o papel da liderança em design (não é só minha mãe). A pesquisa revelou que “Apenas um terço dos CEOs conseguia detalhar o que seu CDO (Chief Design Officer) supervisionava na empresa. Em outras palavras, 66% dos CEOs não conseguiam dizer o que seu CDO realmente fazia, ou como sucesso deveria ser medido.”

Quando você ouve essas discussões de “assento à mesa”, a conclusão óbvia pode ser que designers só precisam fazer mais para provar que merecem estar lá. Mas e se estivermos abordando isso da forma errada?

Por mais importante que seja nosso papel nessas mesas e nas conversas de tomada de decisão, usuários ou clientes raramente estão “nessas mesas”. Eles estão fora de casa, vivendo suas vidas. Em vez de falar pelos usuários, como podemos facilitar a conversa e criar espaços onde outros possam compartilhar seus insights e soluções? A mudança fundamental é deixar de projetar para outras pessoas e passar a projetar com elas e uma maneira de fazer isso é por meio do co-design.

Co-Design: Um método essencial para designers como facilitadores

Quando penso no papel de designers evoluindo da criação de coisas para a facilitação de mudanças, minha mente naturalmente se volta para o co-design. Kelly Ann McKercher, ao lado de muitos outros profissionais, foi pioneira no co-design. O método visa mudar o papel do designer de projetar “em” ou “para” para projetar “com” e “por”. Em seu site, McKercher descreve como “Co-design reúne experiência vivida, conhecimento vivido e experiência profissional para aprender uns com os outros e tornar as coisas melhores — através do design”. Hoje, muitos designers estão projetando “em” ou “para” outras pessoas. Nosso trabalho centraliza desejos dos clientes em vez de necessidades da comunidade. O co-design centraliza as experiências vividas das próprias pessoas, famílias e comunidades. Designers não são responsáveis por resolver problemas ou criar coisas, mas sim por permitir que outros encontrem suas próprias soluções.

Imagem dos níveis de participação do design em quatro colunas.
Níveis de participação em design em quatro colunas: design ‘em’, design ‘para’, design ‘com’, e design ‘por’. Imagem de: https://www.beyondstickynotes.com/what-is-codesign

Quando olhamos para o co-design, podemos ver que o papel futuro (e atual em muitos lugares) de designers não é impor nosso conhecimento especializado às comunidades, mas sim facilitar espaços onde as pessoas possam compartilhar suas ideias e problemas de forma aberta e segura.

4 princípios básicos do co-design:

  • Compartilhar poder
  • Priorizar relacionamentos
  • Usar meios participativos
  • Construir capacidade

Quando penso sobre essa mudança de mentalidade e método, designers passando de especialistas para facilitadores, muitas vezes volto ao trabalho de organizadores comunitários. Nesta entrevista, Ezra Klein fala com a organizadora trabalhista Jane McAlevey sobre o que é preciso para mobilizar pessoas em um movimento trabalhista. McAlevey, que organizou centenas de milhares de trabalhadores nas linhas de frente do movimento trabalhista americano, explica: “Quando estou procurando organizadores, estou procurando pessoas que realmente acreditam que pessoas comuns têm alta inteligência e que realmente respeitam profundamente pessoas comuns. Começo cada dia acreditando genuinamente que as pessoas podem fazer mudanças radicais em como pensam e veem o mundo.”

Designers têm muito a aprender com essa mentalidade.

Se realmente acreditamos que as pessoas têm as respostas para os problemas que estamos tentando resolver, então nosso papel muda.

Nosso trabalho se torna menos sobre projetar coisas ou impor conhecimento especializado às pessoas, e mais sobre facilitar conversas e criar ambientes onde as pessoas mais próximas do problema também estejam mais próximas do poder.

2. Designers como protetores

Imagem de uma flor em um fundo cinza com o texto “Designers como protetores”. Logo do DesignShifts.

Designers moldam os produtos que usamos e o conteúdo que consumimos. Design é uma ferramenta poderosa e, se quisermos ter certeza de que estamos projetando para um amanhã melhor, designers precisam equilibrar oportunidades com responsabilidades.

Ao longo dos anos, a pergunta “Como poderíamos?” (How might we?) se tornou uma pedra angular do design thinking, encorajando otimismo e criatividade. Adoro essa pergunta. Ela abre possibilidades.

No entanto, também percebi que:

Como designers, nossa responsabilidade não é apenas identificar problemas — é garantir que não criemos novos.
Isso significa não só perguntar “Como poderíamos?” mas também “A que custo?”
Textura branca no fundo. O texto “Bom design é uma dança entre curiosidade e criticidade.” é exibido com duas palavras em destaque: curiosidade e criticidade. No destaque de “curiosidade” há uma seta escrito “Como poderíamos?” e em “criticidade” outra seta escrito “a que custo?”

“Não se mova rápido e quebre coisas quando se trata dos meus filhos”

Estas foram as palavras da mãe de um garoto de 14 anos que tirou a própria vida após uma conversa de chatbot. A história é de partir o coração em muitos níveis. Como designers e desenvolvedores do novo e do próximo, como realmente garantimos que nossas soluções não tenham consequências sem intenção? Como passamos de boas intenções para assumir a responsabilidade pelos danos potenciais antes de lançarmos em produção? Como paramos de nos mover rápido? Como paramos de quebrar coisas, pessoas e o planeta?

O custo de soluções mal projetadas é de longo alcance. Produtos acabam em aterros sanitários, softwares nos isolam e mensagens nos manipulam para o consumo excessivo. Boas intenções não são suficientes. Designers devem ser responsáveis ​​pelo impacto de seu trabalho.

Devemos nos perguntar:

  • Estamos considerando todas as partes interessadas?
  • Estamos contabilizando usuários invisíveis?
  • Nossas soluções podem causar danos ambientais?

Precisamos levar essas questões a sério, não apenas durante o processo de design, mas durante todo o ciclo de vida de um produto ou serviço. Devemos testar consequências não intencionais e criar salvaguardas para mitigar riscos. Devemos nos tornar protetores das pessoas e do planeta.

3. Designers como colaboradores

Imagem de uma flor em um fundo cinza com o texto “Designers como colaboradores”. Logo do DesignShifts.

O 10º Princípio da Justiça do Design afirma:

“Antes de buscar novas soluções de design, procuramos o que já funciona no nível da comunidade. Honramos e elevamos o conhecimento e as práticas tradicionais, indígenas e locais.”

Design às vezes pode parecer um clube onde poucos são convidados. Usamos palavras e estruturas sofisticadas, e nossos escritórios, embora bonitos e inspiradores, muitas vezes podem parecer exclusivos e elitistas. No entanto, quando olhamos para o que o design realmente é, a combinação de criação de sentido e atribuição de forma, podemos ver que (1) o design acontece em todos os campos profissionais, E, (2) em nossas vidas cotidianas.

  • Um fisioterapeuta faz design quando diagnostica um paciente e cria um plano de tratamento.
  • Um professor faz design quando ajusta um currículo com base em experiências passadas.
  • Um formulador de políticas faz design quando molda leis com base nas necessidades sociais.

E na vida cotidiana, as pessoas projetam quando planejam férias, criam rotinas ou ajustam seus hábitos.

Designers não têm o monopólio da criatividade. As pessoas estão projetando soluções todos os dias sem títulos formais. Nosso papel deve ser amplificar e colaborar, em vez de reinventar a roda.

Designers precisam reconhecer isso e procurar maneiras de colaborar e elevar as pessoas que já estão fazendo o trabalho, em vez de criar nossas próprias “novas” invenções. Isso pode significar que não estamos realmente projetando uma “coisa” nova, mas sim apoiando o trabalho de outras pessoas.

Design através da colaboração significa reconhecer que nosso mundo nem sempre precisa de outro aplicativo, produto ou serviço.

Às vezes, precisamos dar um passo para trás e perguntar: O que já está funcionando? Quais sistemas precisam ser fortalecidos em vez de substituídos? Quais vozes precisam ser amplificadas em vez de interpretadas?

Por que agora? Por que nós?

Estamos em um momento de crises interconectadas — mudanças climáticas, esgotamento de energia, escassez de alimentos e desigualdade social. O design como sempre não é apenas inadequado — é prejudicial. Se quisermos contribuir para um futuro melhor, precisamos usar nossas habilidades de design de maneiras diferentes.

Como Julia Watson afirma:

“Com o colapso ambiental e social iminente nas próximas décadas, o design na intersecção da antropologia, ecologia e inovação é a discussão mais urgente do nosso tempo.”

O papel de designers daqui para frente é crucial, mas o futuro tem menos a ver com o sucesso através das lentes da criação e produção, e mais com medir nosso impacto por meio da restauração, conexão e amplificação. Isso significa abordar nosso trabalho com humildade, curiosidade e cuidado. Ao agir como facilitadores, protetores e colaboradores, podemos criar um futuro onde o design não prejudica — e onde ele capacita outros a prosperar.

A verdadeira magia do design não está no que criamos, mas na mudança que ajudamos as pessoas a alcançar.

Então, da próxima vez que minha mãe perguntar: “O que você realmente projeta?” — talvez a melhor resposta não seja sobre as coisas que eu faço. Talvez seja sobre o que ajudo a proteger, com quem colaboro e como capacito outras pessoas a moldar seus próprios futuros. Talvez bom design não seja sobre o que criamos, mas sobre o que escolhemos deixar intocado, o que nutrimos ou amplificamos. E talvez isso seja algo que valha a pena explicar.

Recursos:


Do design de coisas para o design de mudanças was originally published in UX Collective