Womadelaide: Festival australiano inclui PJ Harvey e Bala Desejo na programação

Nossa reportagem esteve por lá e conta como foram os quatro dias do tradicional festival de música e dança em Adelaide (AU). The post Womadelaide: Festival australiano inclui PJ Harvey e Bala Desejo na programação appeared first on NOIZE | Música do site à revista.

Apr 17, 2025 - 20:50
 0
Womadelaide: Festival australiano inclui PJ Harvey e Bala Desejo na programação

Desde 1992, a cidade de Adelaide, na Austrália, promove o WOMADelaide – World Of Music Arts & Dance. Realizado nas terras tradicionais do povo Kaurna, o festival celebra a música e o legado cultural da região no coração do deslumbrante Parque Botânico de Adelaide/Tainmuntilla.

Quando cheguei na Austrália, ainda no aeroporto, os termômetros marcavam 16º C. Assim que encontrei meu irmão e minha cunhada, que sempre me falavam do calor do país, uma das primeiras coisas que eu disse foi: “Vocês não têm noção do calor que está no Brasil?! Está insuportável!”

Mal sabia eu que eles tinham noção, sim, mas que, diferente do nosso país tropical, onde a temperatura continua alta quando o sol se põe, lá o calor dava uma trégua durante a noite e o começo da manhã. No entanto, no decorrer do dia, o sufoco era o mesmo do Brasil. E o público do Womadelaide 2025 sentiu isso na pele, com temperaturas que chegaram a 40º C.

Mas isso não impediu que o público curtisse os quatro dias de festival no Tainmuntilla/Botanic Park, no Centro de Adelaide, nos dias 7, 8, 9 e 10 de março de 2025. As crianças se divertiam em “chuveiros” instalados pelo parque e a água potável estava disponível em galões por todos os bares, que incluiam também estações de recarga.

Quando cheguei, percebi que a comida também seria outra grande atração. Uma imensidão de barracas e food trucks ofereciam opções de todo canto do mundo. Filipinas, Sri Lanka, Nepal, Vietnã, Índia, Turquia, Ucrânia eram alguns dos países cuja culinária estava ali contemplada.

Já no primeiro dia, conhecemos os famosos habitantes do Botanic Park — os grandes morcegos conhecidos como raposas-voadoras, que chegam a ter mais de um metro de envergadura. Nos últimos 20 anos, as mudanças climáticas fizeram com que a espécie migrasse para cidades como Adelaide. Calcula-se que tenha mais de 40 mil deles no parque! No fim do dia, entre 19h e 20h, essas dezenas de milhares de “raposas” voam a procura de alimento, criando uma cena assustadoramente maravilhosa.

Assim como na “praça de alimentação”, as opções artísticas vinham de diversos cantos do mundo. Durante o festival foram mais de 700 artistas, de 35 países, em apresentações de música, artes e dança. De todos que consegui assistir, espalhados pelos oito palcos abertos do Womadelaide 2025, destaco alguns que chegaram até a aliviar o calor.

Goran Bregovic & His Wedding and Funeral Band

Fechando o segundo dia de festival, o sérvio Goran Bregovic e a sua Wedding and Funeral Band, que mistura folk dos balcãs com rock e música clássica, colocou todo mundo para se mexer e dançar na noite de sábado. Com metais ciganos e polifonias tradicionais búlgaras, misturando instrumentos tradicionais e batidas eletrônicas, e com humor e genialidade, Bregovic foi, sem sombra de dúvida, a minha maior surpresa do festival. As minhas expectativas para ver o parceiro musical do cineasta Emir Kusturica já eram altas, mas ele conseguiu atingir outro patamar. Apesar do cansaço, o meu caminho de aproximadamente 45 minutos de volta para casa foi em total deslumbramento após esse show.

Etran de l’Aïr

O mesmo deslumbre eu tive com o quarteto de Níger, Etran de l’Aïr. Não por acaso, assisti as duas apresentações que a banda fez no Womadelaide (algo comum no festival, diversos outros artistas tocaram mais de uma vez, em diferentes dias, inclusive o grupo brasileiro Bala Desejo). No primeiro show dos nigerenses, o arroubo foi grande. No segundo, no Stage 7, às 20h, alcançou outro nível. O blues do deserto tuaregue, com repetições entorpecentes e uma energia contagiante, tocado em um palco no meio das árvores, misturado ao barulho das “raposas-voadoras”, que deixavam o parque à procura de alimento, foi algo cinematográfico, que até Bregovic e Kusturica teriam dificuldade de criar.

PJ Harvey

Uma das atrações mais esperadas do festival, a britânica PJ Harvey tocou no Foundation Stage, às 21h30, encerrando o primeiro dia. Acompanhada por John Paris, James Johnston, Jean-Marc Butty e Giovanni Ferrario, que se alternavam nos instrumentos, a cantora, guitarrista e pianista britânica passeou por diversos períodos da sua história e discografia. Os australianos, que esperaram oito anos, desde a última turnê da artista pelo país, estavam em êxtase. Eu, que esperei 38, terminei o dia flutuando.

Sauljaljui

Outra atração marcante foi a indígena taiwanesa SaulJaljui, cantando e contando a história do povo Paiwan. Com o yueqin (instrumento de cordas chinês), SaulJaljui entoa canções folclóricas da região de Hengchun, mesclando os sons ancestrais taiwaneses com elementos da música contemporânea mundial. E para celebrar a união entre Taiwan e Austrália (e Brasil), ela se juntou ao público para uma dança de roda, também tradicional dos Paiwan, fazendo com que todo mundo esquecesse, pelo menos por alguns minutos, o sol castigando o corpo no meio da tarde.

Saigon Soul Revival

O quinteto da cidade de Ho Chi Minh resgata o rock e o soul de bandas vietnamitas da década de 60 e 70, aproveitando a psicodelia do período para acrescentar instrumentos tradicionais do país (Đàn Tranh, Đàn Nguyệt e Đàn Bầu) e levadas de outros gêneros populares no Vietnã, como o bolero e o tango (!!). Esses são estilos musicais que, segundo o produtor e os integrantes da banda, tomam conta das ruas e bares das cidades. A mistura é exótica e o resultado é maravilhoso.

Nana Benz du Togo

Com um som orgânico e ritmos eletrônicos, expressos através de percussão artesanal de tubos de PVC, bateria, um sintetizador Korg e três poderosas vozes femininas, Nana Benz du Togo canta a riqueza da herança vodu. As canções do quinteto, firmemente ancoradas na riqueza da herança vodu, exaltam o valor da liberdade em inglês, francês e mina (língua africana), assim como o respeito pelo planeta e seus habitantes. Todos dançávamos, no sol das 16h, como se o frescor da noite já tivesse chegado.

Outros que refrescaram o Tainmuntilla/Botanic Park, durante os quatro dias de festival, foram os norte-americanos do Durand Jones & The Indications, com um soul e R&B envolvente. Teve também a força do dancehall de Queen Omega; os australianos da TEK TEK Ensemble e a mistura de rock, disco, cumbia e outros ritmos tropicais; o jazz afrofuturista da Sun Ra Arkestra; a psicodelia da banda texana Khruangbin; e o som vibrante dos brasileiros da Bala Desejo.

Além da companhia Bangarra Dance Teathre, que fez uma multidão se sentar em silêncio, no meio de toda a agitação do evento, e se emocionar com o espetáculo de dança The Light Inside; emoção também vivida com a companhia Yoann Bourgeois Art Company e a apresentação do The unreachable suspension point. Foram dias para guardar na memória.

The post Womadelaide: Festival australiano inclui PJ Harvey e Bala Desejo na programação appeared first on NOIZE | Música do site à revista.