Bangers Open Air 2025: mudança de nome não altera essência do festival, repleto de shows excelentes

Ao longo dos três dias de festival, o público teve a oportunidade de assistir a algumas das maiores bandas do metal!

May 7, 2025 - 18:36
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Bangers Open Air 2025: mudança de nome não altera essência do festival, repleto de shows excelentes

texto de Paulo Pontes
fotos de Douglas Mosh

Terceira edição do Summer Breeze Brasil – mas com outro nome – ou primeira edição do Bangers Open Air? Bruno Sutter (o Detonator do Massacration), host do podcast oficial do Bangers, usou a seguinte analogia em um dos episódios do programa: “É como se fosse uma pessoa que era casada e se separou da sua esposa. Só que o sobrenome ficou com a mulher. Você continua sendo a mesma pessoa. É o mesmo lugar, são as mesmas pessoas. Mesma infraestrutura. Tudo igual!”. Pronto. Dúvida sanada. Vamos tratar a parada como “Terceira edição do – agora – Banger Open Air”. E, realmente, foi (quase) tudo igual.

O lugar se manteve: o Memorial da América Latina, que já virou a casa da música pesada entre o final de abril e o começo de maio (e a edição 2026 já está confirmada para os dias 25 e 26 de abril). A configuração dos palcos foi a mesma de 2023: Ice Stage e Hot Stage montados um ao lado do outro, Sun Stage do outro lado da passarela e o Waves Stage dentro do auditório, próximo ao portão 12, que foi por onde o público geral entrou. O acesso da imprensa e das pessoas que compraram o Lounge Pass foi pelo portão 2. Decisão acertada, já que por ali estávamos praticamente dentro da entrada do “Front Row”, onde o público pode assistir aos shows mais próximo aos palcos principais.

Aí vem uma primeira mudança significativa. Pra acessar esse espaço, era necessário passar por catracas com reconhecimento facial ou leitura de qr-code, o que foi interessante pra controle, mas deu trabalho pra equipe que estava direcionando o público no setor, além de reduzir um pouco o espaço onde as pessoas poderiam assistir aos shows, causando, em alguns momentos, uma aglomeração nas passagens antes e depois das catracas. Outra mudança oi a liberação de entrada gratuita para crianças menores de 10 anos. Isso incentivou muitos pais e mães a levarem seus pequenos (e foi fácil avistar alguns deles se divertindo no festival). Uma ação louvável e que reforça o compromisso da organização em manter o legado da música pesada através das novas gerações.

DIA 1 – SEXTA-FEIRA (2/5)

Na edição de 2023, foram dois dias de festival, sábado e domingo; em 2024, a organização apostou na inclusão de um terceiro dia, a sexta-feira. A coisa “meio” que se repetiu em 2025. Digo “meio” porque, desta vez, a sexta serviu como “warm-up”, com início mais tarde que nos outros dias e com menos bandas (apenas os dois palcos maiores, montados um ao lado do outro, serem utilizados).

Kissin’ Dynamite

E a banda responsável por abrir os trabalhos, às 15h, no Ice Stage, foi o Kissin’ Dynamite, grupo alemão que tem uma sonoridade calcada no hard rock oitentista, mas com uma pegada mais moderna, numa tentativa – bem-sucedida – de atualizar o estilo. Essa foi a estreia do Kissin Dynamite no Brasil, e eles fizeram um arregaço na quente tarde de sexta-feira, com um puta show divertido. Foram 50 minutos lá em cima, com o público (ainda relativamente pequeno) cantando e curtindo junto. Abriram com “Back With a Bang”, faixa-título do mais recente lançamento da banda (2024). A sequência (o setlist teve nove músicas) foi ideal pra aquecer o público do festival. O vocalista Johannes Braun é um baita frontman e, assim como seus companheiros de banda, se mostrou realmente feliz e empolgado com seu primeiro show por aqui. Quem não conhecia a banda teve uma grata surpresa; quem já conhecia, saiu feliz com o que viu.

Dogma

Após um breve intervalo de 10 minutos, eis que as meninas do Dogma subiram ao Hot Stage. A estreia da banda no Bangers Open Air 2025 foi marcada por uma performance visual impactante, com figurinos provocadores, corpse paint e presença de palco intensa, especialmente da vocalista Lilith. A banda entregou um show teatral e bem encenado (em meio ao público, alguém as chamou de “primas do Ghost”), com direito a backing vocals pré-gravados que ajudaram a sustentar o clima. No entanto, a mixagem deixou a desejar: os instrumentos soaram embolados em vários momentos, o que comprometeu parte da experiência sonora. Ainda assim, o conjunto visual e performático segurou a atenção e deixou o nome da banda em evidência no festival.

Armored Saint

A apresentação do Armored Saint, no Ice Stage, tinha tudo para ser memorável — e foi, apesar dos pesares. O som oscilou durante praticamente todo o set, com o vocal de John Bush sendo constantemente engolido pela mixagem. O problema foi tão perceptível que o público da pista premium tentou alertar a banda várias vezes, reclamando do volume baixo da voz. Mesmo com alguns ajustes, o cenário não melhorou muito. Mas se o som não ajudou, a entrega compensou. A banda mostrou fôlego, presença e uma conexão genuína com o público. O ponto alto veio quando Bush desceu do palco e foi cantar “Can U Deliver” no meio da galera, arrancando gritos e abraços entusiasmados. Com um setlist recheado de clássicos, o Armored Saint provou que, mesmo diante de falhas técnicas, segue sendo uma potência do metal tradicional — e que entrega tudo, do início ao fim.

Pretty Maids

A estreia do Pretty Maids no Brasil foi marcada por um show que, embora tecnicamente prejudicado, emocionou pela entrega e conexão com o público. A mixagem do Hot Stage atrapalhou bastante: os vocais de Ronnie Atkins e as guitarras praticamente sumiram em boa parte do set, o que tirou força de muitos dos refrões marcantes e solos melodiosos que são marca registrada da banda. A bateria e o baixo acabaram dominando o som, mais por falha técnica do que por escolha estética. Mesmo assim, a banda segurou a onda com carisma e um repertório bem escolhido, com destaque para faixas dos discos Future World e Pandemonium. O encerramento com “Future World” e “Love Games” foi de levantar os punhos e cantar junto, enquanto “Please Don’t Leave Me” trouxe um momento de emoção genuína e olhos marejados no meio da plateia. No fim das contas, o som pode até ter falhado — mas o sentimento, esse passou alto e claro.

Doro Pesch

No aquecimento do Bangers Open Air 2025, Doro Pesch mostrou por que é considerada a rainha do metal. Com um repertório que mesclou clássicos do Warlock e faixas mais recentes, a cantora alemã cativou o público desde os primeiros acordes. A presença do guitarrista brasileiro Bill Hudson adicionou um toque especial à apresentação, especialmente na execução de “Fire in the Sky”, co-escrita por ele. O ponto alto da noite foi a performance de “Breaking the Law”, cover do Judas Priest, que incendiou a plateia e só foi superada em empolgação pelo encerramento com “All We Are”, hino absoluto presente no disco “Triumph And Agony”, do Warlock. Doro interagiu com o público em português, ergueu bandeira do Brasil (a primeira de vários artistas que fizeram o mesmo ritual), demonstrando carinho e respeito pelos fãs brasileiros, e entregou um show energético e memorável no Ice Stage.

Glenn Hughes

E pra encerrar a primeira noite do Bangers Open Air 2025, Glenn Hughes subiu ao palco com sua banda para entregar um set poderoso, embora relativamente curto, já que a prioridade foi dada às jams. Mesmo com o tempo reduzido, não faltaram clássicos como “Burn”, “Stormbringer” e “Mistreated”, que reforçaram a técnica impecável de Glenn e sua importância no legado do Deep Purple. Apesar de um visual mais sóbrio e uma postura mais contida, ficou claro que, aos 73 anos, ele ainda canta como poucos, com a mesma potência e intensidade de seus melhores momentos. A interação com o público foi mínima, o que deixou a apresentação com uma energia mais introspectiva. Mas, no fim das contas, foi um encerramento digno para a noite, com respeito ao legado do hard rock e a verdadeira entrega de um dos grandes nomes da música.


DIA 2 – SÁBADO (3/5)

Burning Witches

O segundo dia de Bangers Open Air começou no Ice Stage com o show da Burning Witches, banda de heavy metal/power metal da Suíça, formada apenas por mulheres. Assim como aconteceu no dia anterior, a banda sofreu com alguns problemas técnicos. O volume dos bumbos estava muito alto (pelo menos na pista premium) e alguns instrumentos quase sumiram na mixagem. Entretanto, a banda mostrou muita força e carisma no palco, liderada pela vocalista Laura Guldemond, que canta muito. Outro destaque fica pra guitarrista Courteney Cox. No total, foram 10 músicas em 50 minutos de apresentação, que teve seu encerramento com a faixa que dá nome à banda: “Burning Witches”. A recepção do público foi calorosa e as meninas saíram do palco ao som de “olê, olê, olê, Witches!”.

H.E.A.T.

E aí veio mais um dos grandes destaques dessa edição do Bangers Open Air: o show do H.E.A.T. A banda já havia se apresentado na primeira edição e, à época, fez um puta show e foi recompensada pelo público. Neste ano não foi diferente. Sob um calor daqueles, o quinteto sueco fez a festa com seu hard rock melódico, grudento e irresistível. Mesmo com o guitarrista Dave Dalone enfrentando problemas de saúde e tocando parte do show sentado, a energia da apresentação se manteve alta, muito graças à excelente presença de palco do vocalista Kenny Leckremo, que parecia incansável, correndo de um lado pro outro e interagindo o tempo todo com a plateia, e do baixista Jimmy Jay. Com um repertório que misturou novidades do álbum Welcome to the Future com músicas de outros discos, entre elas “Back to the Rhythm”, “One by One” e “Living on the Run”, a banda mostrou por que é uma das grandes potências do hard rock atual. Um show redondo, vibrante e que certamente está entre os mais empolgantes do festival.

Municipal Waste

O Municipal Waste retornou ao Brasil após 15 anos e entregou um show explosivo no Ice Stage do Bangers Open Air 2025. Em quase uma hora, a banda executou 21 músicas, número recorde no festival. O vocalista Tony Foresta, conhecido por seu humor ácido, interagiu constantemente com a plateia, provocando até mesmo os que assistiam mais afastados. Em um momento inusitado, um fã fantasiado de Jesus Cristo fez crowdsurfing durante a execução de “The Thrashin’ of the Christ”, arrancando risadas e aplausos.

Municipal Waste

Musicalmente, o Municipal Waste entregou um setlist que percorreu sua carreira, com destaque para faixas como “You’re Cut Off” e “Poison the Preacher”. O guitarrista Ryan Waste, além de comandar os riffs, assumiu alguns vocais, mostrando a coesão da banda. A seção rítmica, formada por Dave Witte (bateria) e Land Phil (baixo), manteve a energia lá em cima. Após o show, Foresta agradeceu ao público e prometeu não demorar mais 15 anos para retornar ao Brasil. Se depender da recepção calorosa e da performance avassaladora, o Municipal Waste já tem lugar garantido em futuras edições do Bangers (ou em outros shows).

Sonata Arctica

No Hot Stage, foi hora de um dos nomes mais importantes do metal melódico/power metal (o famigerado “metal espadinha”). Apesar de o Sonata Arctica ter mudado seu som ao longo dos anos (os finlandeses acrescentaram climas mais densos e uma pegada até mesmo de gothic metal em alguns discos), a banda ganhou projeção pelos estilos mencionados anteriormente. Com o público a favor, som redondo e repertório inteligente, foi jogo ganho do começo ao fim. Um show que celebrou a história da banda e reforçou seu lugar de destaque no metal melódico mundial. O vocalista Tony Kakko ainda segura muito bem as notas mais altas, como foi possível conferir no clássico “Fullmoon”, um dos momentos mais marcantes da apresentação.

Kamelot

O Kamelot protagonizou um feito raro no Bangers Open Air 2025: subiu ao palco em dois dias consecutivos, após assumir o lugar do I Prevail, que cancelou de última hora. A responsabilidade era grande, mas a banda norte-americana de power metal sinfônico deu conta do recado com autoridade e elegância, presenteando os fãs com duas apresentações relativamente distintas em repertório e atmosfera. No sábado (que era, até então, a data “oficial” dos caras no Bangers), o grupo se apresentou no Ice Stage para um mar de gente, mostrando um show denso, técnico e potente. Já no domingo, no Hot Stage, o público era menor, mas a troca de energia foi ainda mais intensa, criando um clima quase intimista — ao menos dentro da escala de um grande festival. Em ambos os dias, o vocalista Tommy Karevik esbanjou carisma e precisão vocal, conduzindo a plateia com segurança e leveza.

Kamelot

Outro destaque foi a presença de palco insana do baixista Sean Tibbetts. Incansável, ele corria de um lado ao outro, interagia com o público, fazia poses, brincava com os colegas de banda — um show à parte que elevou a entrega geral do grupo. O repertório variado entre os dois dias também foi um ponto alto: metade das músicas foi trocada de uma apresentação para outra. Clássicos como “Phantom Divine (Shadow Empire)” e “Sacrimony (Angel of Afterlife)” — esta última com participações especiais das vocalistas Adrienne Cowan e Melissa Bonny no domingo — deram ainda mais brilho à performance. Com som redondo, energia em alta e respeito total ao público, o Kamelot não só preencheu a lacuna deixada pelo cancelamento como reafirmou seu lugar de destaque no coração dos fãs brasileiros. Pronto, matamos dois coelhos numa cajadada só.

Saxon

Bora continuar o sábado, agora com a aula de heavy metal que o Saxon, no Hot Stage, a partir das 17h40. Com dois membros septuagenários — o vocalista Biff Byford, 74, e o baterista Nigel Glockler, 72 —, a banda britânica optou por uma performance segura e coesa, priorizando a entrega de um show sólido e digno de sua trajetória. O setlist foi uma celebração dos clássicos, com destaque para faixas como “Power and the Glory”, “Motorcycle Man”, “Denim and Leather” e “Princess of the Night”. A apresentação também contou com a faixa-título do álbum mais recente, “Hell, Fire and Damnation” (2024), que abriu o show de forma cadenciada antes de emendar uma sequência de hinos que empolgaram o público. Mesmo sem a voracidade de décadas passadas, o Saxon demonstrou que ainda possui energia e presença de palco suficientes para cativar o público. Com uma performance técnica e emocionalmente envolvente, a banda britânica reafirmou seu legado e deixou claro que, mesmo após tantos anos, ainda sabe como dar uma verdadeira aula de heavy metal.

Estava chegando a hora das duas principais atrações do sábado no Bangers Open Air: Powerwolf e Sabaton. Duas das mais novas representantes do power metal, cada uma com sua particularidade. Uma foca num visual mais soturno, com direito a corpse paint e tudo; a outra, tem na base de suas músicas a temática de guerras e um visual que segue a mesma linha. As duas seguem fórmulas já utilizadas no estilo. Ou seja, não trazem nada de novo, mas têm empolgado e entraram nas graças do público do estilo. Fato é que, independentemente de gostar ou não, tanto Powerwolf quanto Sabaton ficaram grandes e fecharam o Bangers com méritos.

Powerwolf

No Ice Stage, o Powerwolf entregou um show que, embora previsível em sua estrutura, foi altamente eficaz em cativar o público. Com um set de 15 músicas em 1h15min, a banda alemã apostou em refrãos pegajosos, ganchos melódicos e uma estética teatral que transformou o palco em uma espécie de igreja sombria. O vocalista Attila Dorn demonstrou carisma ao interagir constantemente com a plateia, enquanto o tecladista Falk Maria Schlegel agitava os fãs fora de sua posição habitual. Vale destacar as faixas “Dancing With the Dead”, “Demons Are a Girl’s Best Friend” e “We Drink Your Blood”, que passou a régua na apresentação dos caras. Apesar de seguir uma fórmula já conhecida, o Powerwolf provou que sabe como entreter e manter o público engajado, consolidando-se como uma das grandes atrações do festival.

Sabaton

O show do Sabaton no Hot Stage não teve qualquer tipo de produção super elaborada ou digna de um headliner.É claro que o som é o fator mais importante, mas a experiência visual faz muita diferença (ainda mais quando estamos falando de uma banda que costuma se apresentar com uma pirotecnia maior em seus shows). A gente sabe das dificuldades em trazer um palco mais elaborado, mas um backdrop e um pouco mais de fumaça me parece pouco pra uma banda escalada pra fechar um grande festival. Pelo menos os caras entregaram um bom show no quesito sonoro. A banda soou potente, coesa e com tudo muito bem equilibrado — mérito tanto dos músicos quanto da equipe técnica. Joakim Brodén manteve o carisma habitual, interagindo bastante com o público, que respondeu com entusiasmo, principalmente nos grandes hits. A reta final do set foi o ponto alto da apresentação, com músicas como “The Art of War”, “Resist and Bite” (com direito a citação de “Master of Puppets”, do Metallica) e “Primo Victoria”, cantadas a plenos pulmões por boa parte da plateia. “Smoking Snakes”, homenagem à Força Expedicionária Brasileira, ganhou um toque especial com as luzes do palco tingidas de verde e amarelo. Mesmo com um palco mais contido do que o esperado, o Sabaton compensou com repertório afiado, presença de palco segura e uma entrega sólida. Não foi o encerramento mais espetacular que o Bangers Open Air já viu, mas cumpriu bem seu papel.


DIA 3 – DOMINGO (4/5)

Black Pantera

O domingo começou lá no Sun Stage, do outro lado da passarela do Memorial da América Latina, com um puta show foda do Black Pantera. Um dos mais importantes representantes da música pesada nacional da atualidade, o trio fez sua estreia no Bangers Open Air com uma apresentação cheia de atitude, energia e mensagens necessárias. Mesmo tocando cedo e longe dos palcos principais, a banda atraiu um bom público — que, por sinal, comprou a ideia desde o primeiro minuto. O som, afiado e pesado, teve a força do instrumental somada ao discurso potente das letras, que abordam racismo, desigualdade e resistência com a urgência que esses temas pedem. O carisma e a entrega dos irmãos Charles e Chaene da Silva, junto de Rodrigo Pancho, levantaram a galera e fizeram do show um verdadeiro ato de catarse coletiva. No grito, na pancada e na presença, o Black Pantera mostrou que merece cada vez mais espaço (que a música pesada brasileira tem muito a dizer).

Lord of the Lost

Corrida rápida lá pra Ice Stage (com uma passagem na sala de imprensa pra pegar uma água — o sol tava foda no domingo) pra conferir outro dos grandes destaques do Bangers Open Air: Lord of the Lost. Em 2023, no então Summer Breeze Brasil, os alemães tocaram no Sun Stage; agora, na terceira edição do festival, os caras ganharam um espaço maior e não decepcionaram no Hot Stage. A banda faz uma mistura potente de gothic, industrial e hard rock (com pitadas de glam aqui e ali) e tem uma presença de palco bem marcante. Tudo isso de nada adiantaria se o som fosse ruim, não é mesmo? Mas não é o caso. As 13 músicas presentes são muito boas e surpreenderam positivamente os menos avisados. O vocalista Chris “Lord” Harms conduziu muito bem o show e a galera respondeu. Destaques para a abertura com a pegajosa “The Curtain Falls”, “Destruction Manual” (que é um arregaço de boa e agitou o público), “Drag Me to Hell” e “Blood & Glitter”, que encerrou o show de uma banda que, com certeza, ganhou novos fãs no Bangers Open Air. Vale ressaltar que, nesse horário (a banda subiu ao palco às 12h55) o público no Memorial já era maior, comparado ao mesmo horário do dia anterior.

Paradise Lost

Aí veio no Ice Stage um show que era muito aguardado, que teve um setlist matador, mas que foi imensamente prejudicado pela qualidade do som (um absurdo de alto): Paradise Lost. A apresentação do lendário grupo britânico, referência do doom e do gothic metal, acabou sendo ofuscada por uma mix embolada, que fez muita gente procurar um canto mais afastado para conseguir absorver o show minimamente. Foi uma pena, porque a banda mandou ver. Nick Holmes estava em boa forma nos vocais, os riffs soturnos e melancólicos de Greg Mackintosh carregavam toda a atmosfera típica do grupo, e a seleção de músicas agradou tanto os fãs mais antigos quanto os mais recentes. Teve destaque para clássicos como “As I Die”, “Say Just Words” e “One Second”, que em condições normais teriam levado o público a um transe coletivo. Mesmo com a performance sólida e a entrega da banda, o som estourado e mal resolvido tirou parte da força da experiência (o que, para uma banda tão climática, faz toda a diferença). Um show que poderia ter sido memorável, mas que infelizmente ficou abaixo por um problema técnico que não dava para ignorar. Na sequência, o Kamelot subiu ao Hot Stage (já falamos sobre o show na dobradinha com o de sábado, então vamos voltar pro Ice Stage, onde o bicho pegou às 16h55).

Kerry King

O número de camisetas do Slayer e do próprio Kerry King que circulavam pelo Memorial da América Latina já entregava que muita gente foi no domingo com um propósito bem claro: conferir o show da nova banda do eterno guitarrista do Slayer. E quem foi não se decepcionou (inclusive este redator, que quase trocou o show do Kerry King pelo do Haken, que rolava no mesmo horário lá no Sun Stage). No palco, o que se viu foi exatamente o que se esperava: um thrash metal direto, agressivo e barulhento, sem frescura. Kerry King não está reinventando a roda (nem quer). A proposta aqui é manter vivo o espírito do Slayer com faixas rápidas, ríspidas e recheadas de riffs que parecem serrar o ar. O público respondeu com intensidade, abrindo rodas e cantando junto, mesmo nas músicas novas, que ainda estão frescas na memória coletiva. Ao lado de músicos como Mark Osegueda (Death Angel) no vocal e Paul Bostaph (outro ex-Slayer) na bateria, a banda soou entrosada e brutal. Os momentos de maior empolgação, claro, vieram com os clássicos da antiga casa, como “Disciple” e “Raining Blood”, que fizeram o chão do Hot Stage tremer. Visualmente, nada de espetacular, o foco era mesmo a música, e a entrega foi total. Kerry deixou claro, com a guitarra em punho, que sua missão é manter viva a essência do thrash como ele acredita que deve ser feita: sem concessões. Missão cumprida.

Blind Guardian

O show do Blind Guardian no Hot Stage aconteceu praticamente de última hora. Após o cancelamento das bandas Knocked Loose e We Came as Romans, os “bardos” (ao lado do Destruction) assumiram a posição — e entregaram uma das apresentações mais épicas do domingo no Bangers Open Air 2025. Com um setlist generoso e uma performance afiada, os alemães transformaram o imprevisto em oportunidade. O público, que já demonstrava empolgação desde os primeiros acordes (poucas bandas têm a capacidade de abrir um show com uma música mais cadenciada, mas “Imaginations from the Other Side é tão clássica que permite que os alemães façam isso sem ninguém reclamar), mergulhou de cabeça nos clássicos da banda.

Blind Guardian

Dali em diante, foi só ladeira acima: uma sequência poderosa de músicas que transitavam entre o épico, o veloz e o emocional, com destaque para “Time Stands Still (at the Iron Hill)”, “The Bard’s Song” (cantada em uníssono pelo público) e, claro, o encerramento apoteótico com “Valhalla”, acompanhada por um daqueles coros intermináveis que só o Blind Guardian consegue arrancar da plateia. Hansi Kürsch se mostrou em ótima forma vocal e esbanjou carisma, enquanto André Olbrich e Marcus Siepen deram aula de riffs e melodias. A banda estava visivelmente empolgada, talvez até surpresa com a recepção calorosa, considerando a escalação de última hora. Se alguém ainda duvidava da força do Blind Guardian em palcos grandes e festivais variados, o Bangers 2025 tratou de encerrar o assunto. Foi uma aula de power metal e de como transformar um plano B em destaque absoluto.

W.A.S.P.

O W.A.S.P. acabou ficando um pouco deslocado entre Blind Guardian e Avantasia (já que, teoricamente, o público das duas bandas é bem parecido), mas por ser um dos pilares do hard rock/heavy metal, é claro que tinha público de sobra no Bangers Open Air. E Blackie Lawless sabia disso: subiu ao palco com presença de espírito, cercado de músicos afiados e um repertório com propósito bem claro. Para celebrar os 40 anos da banda, o W.A.S.P. tocou na íntegra o disco de estreia autointitulado, lançado em 1984, clássico absoluto do metal oitentista. Músicas como “The Flame”, “Sleeping (In the Fire)”, “Hellion”, “School Daze” e, claro, os hinos “I Wanna Be Somebody” e “L.O.V.E. Machine” incendiaram o Ice Stage, mostrando que o tempo não apagou o impacto daquele álbum.

W.A.S.P.

Outro destaque foi Aquiles Priester (que nasceu na cidade de Outjo, no então Sudoeste Africano — atual Namíbia —, mas que se mudou para o Brasil ainda na infância), que ocupa a bateria com a técnica e presença que o consagraram ao redor do mundo. Ao invés de um solo tradicional, Aquiles preferiu se comunicar diretamente com o público, arrancando aplausos e risadas, um gesto que trouxe ainda mais proximidade e carisma ao show. Sem precisar de pirotecnia ou cenário exagerado, o W.A.S.P. apostou na força da música e na entrega dos músicos para fazer uma apresentação digna de seus 40 anos de estrada.

Avantasia

Há tempos, o Avantasia deixou de ser um projeto para se tornar uma grande banda capitaneada pela genialidade de Tobias Sammet. Particularmente, é uma das minhas bandas da vida, então é sempre emocionante ver os caras (e a trupe de vocalistas que sempre os acompanham). O show do Avantasia no Bangers Open Air 2025 foi um dos grandes destaques da última noite do festival. A apresentação, realizada no Hot Stage, teve um cenário incrível, com pilares e portões que simulavam a entrada de uma mansão abandonada, criando uma atmosfera dramática e épica desde o começo. O telão, sempre impecável, trazia imagens que se conectavam perfeitamente com as músicas, criando uma experiência audiovisual envolvente. Tobias Sammet, como sempre, fez questão de interagir com o público e pediu que todos gritassem sempre que ele mencionasse “São Paulo” ou “Brasil”, o que ajudou a criar uma conexão ainda mais intensa com a plateia. O carisma de Sammet e a presença de palco da banda foram contagiantes, e o público retribuiu com muita energia.

Avantasia

O setlist foi repleto de clássicos, incluindo faixas como “Reach Out for the Light”, “The Scarecrow”, “Dying for an Angel” e, claro, o medley “Sign of the Cross/The Seven Angels”, que fechou o show com uma explosão de emoções. O Avantasia contou com a participação de vários vocalistas, incluindo Adrienne Cowan, Tommy Karevik (que já tinha subido ao palco do Bangers duas vezes com o Kamelot), Herbie Langhans, Eric Martin, Ronnie Atkins, e Jeff Scott Soto, que cantou com a banda pela primeira vez, apesar de nunca ter participado dos estúdios da banda. A sinergia entre todos os vocalistas trouxe uma riqueza à performance, deixando o show ainda mais memorável.

Avantasia

No entanto, uma das minhas músicas preferidas da banda, “The Story Ain’t Over”, que conta com os vocais de Bob Catley, ficou de fora. A ausência foi sentida, mas é possível entender os cortes que a banda fez em seu setlist, já que, no contexto do festival, eles tiveram menos de duas horas de apresentação, enquanto a turnê normalmente passa de duas horas e meia. Mesmo com o tempo reduzido, o show foi impecável. A qualidade sonora estava excelente, e o Avantasia entregou tudo o que o público esperava, com uma performance épica, visualmente impressionante e com o poder vocal de todos os envolvidos. Um fechamento perfeito para o Bangers Open Air 2025, consolidando ainda mais a posição do Avantasia como uma das maiores atrações do metal mundial.

O Bangers Open Air 2025 foi, sem dúvida, um grande sucesso e um evento marcante para todos os fãs da música pesada. Ao longo dos três dias de festival, o público teve a oportunidade de assistir a algumas das maiores bandas do metal e hard rock, tanto do cenário internacional quanto nacional. A variedade de estilos, a energia das apresentações e a dedicação das bandas demonstraram a força do metal em todas as suas vertentes. Com uma organização bem estruturada e ótimo um line-up, o evento reforça sua importância no calendário de festivais, mantendo-se como um dos maiores e mais importantes do Brasil, e garantindo que o metal continue a ter o reconhecimento e a celebração que merece. Pode vir o de 2026.

– Paulo Pontes é colaborador do Whiplash e escreve de rock, hard rock e metal no Scream & Yell. É autor do livro “A Arte de Narrar Vidas: histórias além dos biografados“.
– Douglas Mosh é fotógrafo de shows e produtor. Conheça seu trabalho em instagram.com/dougmosh.prod