Adolescência: Músicas têm um detalhe oculto que torna a série ainda mais devastadora

Trilha sonora da série carrega a mesma qualidade técnica que todos os outros aspectos. O post Adolescência: Músicas têm um detalhe oculto que torna a série ainda mais devastadora apareceu primeiro em Observatório do Cinema.

Apr 1, 2025 - 00:32
 0
Adolescência: Músicas têm um detalhe oculto que torna a série ainda mais devastadora

É difícil terminar Adolescência sem um nó na garganta. A minissérie da Netflix, apesar de curta, constrói um peso emocional que se estende além da tela. A câmera que nunca desliga, os silêncios incômodos e a brutalidade sem filtros são parte do que faz a experiência ser tão marcante – mas há um elemento menos evidente que torna tudo ainda mais devastador.

Por trás da trilha sonora sutil da série, esconde-se um detalhe que conecta todos os personagens à vítima Katie Leonard. Mesmo ausente em tela, sua presença ecoa ao longo dos episódios por meio das músicas escolhidas com cuidado cirúrgico pela direção.

A personagem, que aparece brevemente na série em apenas duas ocasiões (duas fotos e uma gravação de câmera de segurança) sofreu um “apagamento” proposital. Essa escolha, na verdade, foi feita para reforçar a ausência de sua morte.

Assim como a série se destaca na qualidade técnica pela filmagem e roteiro, a trilha sonora também é parte importante desse sucesso. O diretor Philip Barantini revelou que a voz que ouvimos nas faixas instrumentais mais marcantes é a de Emilia Holliday, atriz que interpreta Katie.

É como se Katie, mesmo sem aparecer, nunca deixasse a narrativa. A personagem molda o silêncio, invade a trilha e se impõe como uma memória constante. A escolha de dar a ela essa presença sonora em vez de cenas é um recurso que transforma seu silêncio em algo ensurdecedor, onde sua presença se torna constante.

Trilha com função narrativa

A trilha de Adolescência foge do convencional. Não há exagero ou trilhas dramáticas, com a música surgindo apenas em momentos-chave, como se o som tivesse que conquistar seu espaço. Um desses momentos acontece ao fim do segundo episódio, quando uma versão coral de “Fragile”, de Sting, é tocada.

A canção embala a caminhada da câmera até o estacionamento onde Katie foi assassinada. A versão é cantada por um coral formado por alunos da escola, e o trecho final é interpretado por Emilia Holliday.

Mesmo nos momentos em que a trilha não tem a participação da atriz, as escolhas são feitas de forma consciente e com próposito. No último episódio, a música “Through the Eyes of a Child”, da cantora AURORA, começa a tocar quando Eddie, o pai de Jamie, entra no quarto do filho. Ali, tomado pelo desespero, ele chora pela primeira vez longe das câmeras.

A letra fala justamente sobre enxergar o mundo pelos olhos de uma criança, o que acaba se tornando uma ironia amarga diante da radicalização que seu filho sofreu justamente naquele espaço.

Quando a música fala por quem não pôde

A trilha não só reforça ausência física da vítima, como também transforma sua memória em algo impossível de ignorar. Mesmo podendo dar tempo de tela à personagem, a série optou por tirá-la da narrativa visual e transformá-la em algo sensorial.

Ao dar a Katie a voz na trilha sonora, os criadores subvertem a lógica da vítima silenciada. O que parece apagamento vira resistência. Ela não está em cenas, mas está em todas as emoções que elas provocam. Ao final, é ela quem dita o tom da narrativa. Sua ausência vira presença e sua voz, embora abafada, guia cada passo da história.

A música, nesse contexto, não serve apenas para emocionar. Ela serve para lembrar. Para garantir que, mesmo em silêncio, Katie seja ouvida.

Adolescência está disponível na Netflix.

O post Adolescência: Músicas têm um detalhe oculto que torna a série ainda mais devastadora apareceu primeiro em Observatório do Cinema.