Lola Fanucchi celebra personagem especial em Rocky – O Musical
Atriz comemora a trajetória de superação, personagens inesquecíveis e a chance de viver Adrian Pennino na produção inspirada na saga de Rocky Balboa

Em 1976, o filme Rocky, o Lutador surpreendeu o mundo ao ser indicado a 10 Oscars e como Melhor Filme, transformando Sylvester Stallone em lenda. Claro, também foi o primeiro passo de uma franquia que atravessou décadas e formatos até chegar à Broadway, com fãs em várias gerações.
É a história do lutador Rocky Balboa, claro, mas todos sabem que a verdadeira força dele não estava nos socos, mas no amor incondicional que sentia pela tímida Adrian Pennino, imortalizada nas telas por Talia Shire.
No Brasil, desde março em cartaz em São Paulo, o musical tem como destaque a atriz Lola Fanucchi no papel de Adrian. Conhecida por seu trabalho no teatro musical e no audiovisual brasileiro, Lola vem coletando elogios por sua performance nos palcos.
Ela, que desde pequena manifestou um espírito criativo e apaixonado pela arte, assim como Adrian, tem uma resiliência infalível para superar vários desafios pessoais e profissionais.
Formada no Instituto de Artes da Unicamp, ela transita com naturalidade entre o teatro, o cinema e a TV, e coleciona personagens que dialogam com temas contemporâneos e universais.
Ela que já esteve em produções como a montagem brasileira de In the Heights, entre outras, é mais conhecida por sua participação na novela Órfãos da Terra (TV Globo) e no filme Tudo Bem no Natal que Vem, da Netflix, intercala projetos experimentais, personagens históricas, drama e comédia com a mesma desenvoltura.
A humanidade é o que busca em cada papel e nesse universo tão masculino como o do boxe, ela se inspirou não apenas na atuação de Talia Shire, mas também na patinadora olímpica Dorothy Hamill.
No papo exclusivo com CLAUDIA ela comentou sobre o processo criativo e os desafios do papel.
CLAUDIA: O que mais te atraiu na personagem Adrian Pennino e como foi o processo de construção dessa versão para o teatro?
Lola: “Acho que é uma personagem que mistura delicadeza com uma grande força interna. Gosto dessa dualidade. Acho interessante como isso se potencializa dentro do arco dela na história.
Adrian começa bastante frágil e, através da relação com o Rocky, vai descobrindo lados dela que ela não conhecia e que a empoderam para mudar o que não lhe agrada na sua realidade. Inicialmente, nos ensaios, focamos bastante no que chamamos de “trabalho de mesa”, onde estudamos em profundidade o texto da peça.
A Talia Shire eternizou a personagem no cinema de forma brilhante e parte do meu trabalho é levar essa essência para os fãs da obra. Mas também quis explorar outras inspirações para criar algo original e não apenas uma cópia. Estamos num palco super próximo ao público. Isso pede também que seja criada uma nova versão da personagem até para a história manter o impacto que tocou tantos corações pelo mundo.”
CLAUDIA: Você mencionou que se inspirou na patinadora olímpica Dorothy Hamill e em memórias da sua mãe para compor Adrian. Como essas referências ajudaram a dar profundidade à personagem?
Lola: “Acho que todas as inspirações vão tornando a personagem mais completa e portanto mais humana, real. Adrian, na obra, adora patinação no gelo, então fazia sentido para mim pesquisar algumas grandes patinadoras da época e trazer elementos delas pro palco. Dorothy, que foi campeã olímpica no ano que o filme foi lançado, era também bastante tímida, então foi o encaixe perfeito para parte do trabalho corporal.
No caso da minha mãe, eu tento pegar emprestada uma certa fragilidade que ela tinha e levo para alguns momentos da Adrian. Isso obviamente me conecta num lugar mais pessoal. Mas acho importante essa mistura de referências. Acho que é aí que se cria algo interessante.”
CLAUDIA: Adrian começa como uma mulher tímida e reservada, mas ao longo da trama se fortalece. Você se identificou com essa jornada de autodescoberta?
Lola: “Não acho que necessariamente ser tímida e reservada significa que a pessoa não está fortalecida, mas no caso da Adrian, ela aprende a se impor, o que é muito importante. Ela finalmente coloca limites às situações que a machucavam. Nesse lugar, acho que me identifico sim. Quando eu era mais nova, eu tinha um entendimento de que a vida é dura mesmo e temos que sempre “aguentar” as situações com resiliência. Eu ultrapassava com facilidade meus limites para o conforto do outro.
Aos poucos, entendi que não é bem assim. Claro que a vida nos pede resiliência em diversos momentos, mas também devemos saber quando é a hora de dizer “não”, abandonar um caminho ou expor nossas condições para continuar. Mas esse processo de autodescoberta não é simples, né? Para mim veio aos poucos e com a ajuda da terapia. Se conhecer é um caminho muito precioso para construirmos uma vida que faz sentido para nós e eu incentivo a todos que busquem formas de iniciarem essa reflexão pessoal.”
CLAUDIA: Você já interpretou personagens marcantes em produções nacionais e internacionais. Qual papel foi o mais desafiador até agora e por quê?
Lola: “Acho muito difícil eleger um, pois os desafios são tão diferentes em cada personagem. Alguns são mais distantes da nossa realidade pessoal ou da nossa temperatura de personalidade, então pedem um aprofundamento nessa parte. Outros, por exemplo em musicais, podem ser desafios mais técnicos como partituras que exigem mais vocalmente.
Ou mesmo numa obra aberta como a novela, temos que ir construindo a personagem conforme o autor também escreve a obra. Então são desafios bem particulares a cada vez. Mas isso é ótimo, porque acaba desenvolvendo habilidades distintas que me tornam uma atriz mais completa. Adoro transitar entre os meios.”
CLAUDIA: O que mais te encanta no teatro musical e como ele difere, para você, do trabalho no audiovisual?
Lola: “Eu acho que quando você mistura a interpretação com o canto e a dança isso abre possibilidades que podem ser muito mágicas. Não acho que funciona para toda e qualquer obra, mas existem algumas que realmente ganham potência quando se encaixam nesse gênero. Você instiga o espectador com outros estímulos. Quando um personagem, por exemplo, sente algo em tamanha intensidade que é impossível apenas falar e ele começa a cantar, aquilo ganha outra força cênica.
A partitura traz em si também uma carga emocional distinta da fala, assim como uma boa coreografia. Acho uma forma de arte cativante assim como o audiovisual. Só acho que depende adequar qual o melhor formato para o tipo de história que você quer contar. “
CLAUDIA: Em Órfãos da Terra, você viveu Muna, um papel que marcou sua estreia na TV. Como foi essa transição dos palcos para os sets de gravação?
Lola: “Eu acredito que o núcleo que sustenta o trabalho do ator é o mesmo, independente do meio onde ele se encontra. Para mim está muito conectada à verdade. Encontrar a verdade daquela personagem, naquela circunstância, da troca genuína com os parceiros de cena. Isso é imperativo e inegociável. Agora, claro que existem particularidades técnicas que cada meio trás e que vamos agregando ao nosso repertório.
Seguramente me tornei uma atriz muito mais completa depois das experiências no audiovisual. Você desenvolve outras habilidades necessárias para aquele contexto. É como quando você está aprendendo um novo idioma e ganha mais e mais vocabulário. Acaba ficando mais fácil e mais preciso se comunicar exatamente como você quer. Como atriz não tem nada mais enriquecedor do que ir agregando essas habilidades.”
CLAUDIA: Sua história é marcada por coragem e recomeços. O que te deu forças para apostar na carreira artística após passar pelo mundo corporativo?
Lola: “É curioso, mas o que me deu “forças” foi o tamanho do incômodo de não estar feliz e realizada ali. Não soa muito inspirador falar que um incômodo pode impulsionar, né? Mas é uma verdade. Eu tinha a sensação de estar vivendo uma vida que não era para mim, sabe? Eu não me realizava. Acho importante a gente escutar os incômodos. Dá para aprender muito com eles.
Eles indicam o que precisa mudar. E sabendo que algo precisa mudar eu diria para ouvir o que te empolga para encontrar a direção dessa mudança. Se uma vontade persiste muito tempo no seu coração, como era o caso da arte para mim, sempre acho que vale a pena investigá-la melhor. Foi o que eu fiz. Resolvi arriscar em algo que trazia entusiasmo e alegria para a minha vida. E aí realmente tudo pareceu se encaixar melhor.”
CLAUDIA: Você tem algum ritual ou preparação especial antes de entrar no palco?
Lola: “Ritual não, mas eu tenho diversas preparações. Principalmente em dias de sessões duplas, eu começo já em casa. Acordo e bebo bastante água, faço nebulização com soro e inicio alguns exercícios de fono. Depois escolho alguma aula mais física com uma certa intensidade de cardio para acordar o corpo.
Ai no banho começo a aquecer a voz. Digo “começar” porque no teatro também temos um aquecimento vocal em grupo pouco antes da peça começar. Tem uma certa “rotininha” aí que eu gosto de manter.”
CLAUDIA: Olhando para sua trajetória até agora, que conselho você daria para jovens artistas que sonham em seguir no teatro musical?
Lola: “Bom, não vou entrar em pontos como: “se dediquem aos estudos”, porque acho que isso talvez seja muito básico num mercado tão disputado. Acho que eu diria para manterem em mente que a carreira de ator, num geral, não é simples. Os caminhos não são lineares, você tem poucas garantias (se tem alguma…rs) e muitas vezes vai passar por situações bem desmotivadoras.
Não digo isso para desencorajar, mas para já se prepararem, sabe? Eu sei que a maioria esmagadora das pessoas que busca por esse caminho tem muita paixão pelo teatro musical no coração. Mantenha essa paixão viva se envolvendo com grupos de estudos, fazendo aulas com pessoas inspiradoras, montando seus próprios projetos enquanto talvez ainda não ingressaram no mercado de trabalho.
Se joguem nas audições e mantenham em mente que, na maioria das vezes, todos nós receberemos um “não”. Tente o quanto antes entender que não é pessoal. Você não é péssimo porque não entrou no projeto X ou Y. Casting é um processo que depende de infinitos fatores, então não deixe isso abalar demais sua confiança. Você tem algo especial único que só você vai levar para aquela sala de audição, então tente focar nisso. E muita merda para todos! Rs!”
CLAUDIA: Qual seria o próximo grande desafio ou papel dos sonhos que você gostaria de interpretar?
Lola: “Tenho alguns projetos pessoais (para teatro e audiovisual) que venho escrevendo e que gostaria de tentar tirar do papel em algum momento. Eu não tenho muito essa coisa de sonhos específicos com uma personagem. Mas eu gostaria de continuar me debruçando em personagens fortes e complexas como as que venho tendo a sorte de interpretar.
No quesito gênero, talvez um lado meu que nem todo mundo conhece é que amo comédia. Adoraria criar nesse campo talvez numa obra aberta como uma novela, porque a resposta do público é sempre muito imediata. Deve ser um trabalho muito prazeroso e, como ainda não experimentei, definitivamente está na lista dos sonhos! “
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