Feminismo, hip hop e o Portugal de 1975. Festival Política marca 50 anos de PREC

Durante três dias, o Festival Política ocupa o Cinema São Jorge com exposições, cinema, música e humor. A entrada é gratuita.

Apr 19, 2025 - 16:43
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Feminismo, hip hop e o Portugal de 1975. Festival Política marca 50 anos de PREC
Feminismo, hip hop e o Portugal de 1975. Festival Política marca 50 anos de PREC

São já nove edições de Festival Política, evento que nasceu em 2017 para "promover a participação cívica, a defesa dos direitos humanos e o combate à abstenção." Nos dias 24, 25 e 26 de Abril, regressa ao Cinema São Jorge com um programa que incide sobre os 50 anos do Processo Revolucionário em Curso (PREC), mas também sobre os 50 anos das eleições para a Assembleia Constituinte.

"Esta será a maior edição de sempre", começa por referir Rui Oliveira Marques, co-director do festival, ao lado de Bárbara Rosa. Em três dias, estão marcadas 26 actividades, todas elas gratuitas. Há filmes, dentro e fora de competição, música, um espectáculo de humor e quatro exposições. "Este ano o festival coincide com os 50 anos das primeiras eleições livres, no pós-25 de Abril, e que ainda hoje são as mais participadas de sempre em Portugal", continua.

Festival Política
EGEAC/José Frade

O Festival Política também tem circulado pelo país com edições em Braga, Coimbra e Loulé, embora seja em Lisboa que reúne uma média de 2500 participantes, além de ocupar um lugar privilegiado na cidade e no calendário. "É onde temos mais actividades, até pela questão simbólica de coincidir com o 25 de Abril. Aliás, nesse dia, só começamos as actividades ao final da tarde. Queremos ser essa continuação da Avenida da Liberdade", remata.

O cinema está no centro da programação, com 18 fitas em competição, na maioria produções nacionais e em torno de temas como os direitos humanos, cidadania, habitação, educação e direitos das mulheres. Fora do âmbito da competição vão estar dois filmes. Um deles é Onde está o Zeca?, co-produção do Festival Política e de A música portuguesa a gostar dela própria, com realização de Tiago Pereira. A partir da herança deixada por José Afonso, o filme procura as vozes da música de intervenção nos dias de hoje. É exibido no dia 25 de Abril, às 18.30.

O outro é o documentário Intercepted, de Oksana Karpovych. Com sessão marcada para dia 23 de Abril, às 19.00, esta produção conjunta entre Canadá, França e Ucrânia divulga telefonemas de soldados russos do campo de batalha para familiares e amigos na Rússia, interceptados pelos serviços de inteligência ucranianos. Os áudios são justapostos com imagens da destruição causada pela invasão e da resistência ucraniana.

Na música, o mesmo espectáculo vai juntar três jovens nomes do hip-hop – "género musical da reivindicação e das histórias do quotidiano, por excelência", como assinala o co-director do festival. Noite de Revolução – nova geração do hip-hop está marcado para as 22.45 do dia 24 de Abril. Em palco, numa dinâmica de showcase, Vilson, Vanessa Parish Crooks e Santos, Só são portadores de mensagens impactantes sobre o actual contexto social. Fazem-no através do rap, mas também da poesia e da soul.

No humor, vertente do programa do Festival Política desde a segunda edição, é Beatriz Gosta quem brilha. Num espectáculo preparado a pensar no festival – dia 26 de Abril, às 21.30 –, a humorista leva ao São Jorge os temas, mas também a desenvoltura, que a caracterizam desde sempre. "[Os espectáculos de humor] são sempre o ponto alto do festival. Usando uma ferramenta que não seria a mais previsível, há uma reflexão sobre problemas do quotidiano e uma call to action, que é necessária para que uma mudança aconteça. E porque, no humor, os protagonistas continuam a ser, na maioria, homens", afirma.

Marques Valentim
Marques ValentimFotografia de Marques Valentim

As exposições compõem o programa, entre elas duas mostras de fotografia. "Portugal em 1975 – Entre a revolução e a mudança" leva as imagens do fotojornalista Marques Valentim para o São Jorge, incluindo fotografias inéditas de um período pós-revolucionário que colocou o país em ebulição. "É uma visão do Portugal de 1975, com as suas contradições, tensões e confusões. Mostrá-la 50 anos depois é uma forma das gerações seguintes, que não têm essas memórias, reflectirem sobre aquele momento do país, sobre as manifestações, os militares a conter as multidões nas ruas, as ocupações e sobre as próprias eleições. Foi um ano em que, todas as semanas, havia novos acontecimentos que podiam mudar a forma como estava a evoluir a revolução", completa Rui Oliveira Marques.

Numa outra mostra fotográfica, pela objectiva de Francisco Zenha Preto, o festival recorda o mar de gente que ocupou a Avenida da Liberdade no 25 de Abril de 2024. Estas exposições – bem como "50 Anos das Primeiras Eleições Livres em Portugal" e "Barómetro da Imigração: a perspetiva dos portugueses", de carácter mais documental – podem ser visitadas gratuitamente durante os três dias de festival, entre as 09.00 e as 00.00.

Debates, oficinas e sessões de poesia também fazem parte do alinhamento, com destaque para a iniciativa Cara-a-cara com deputados e deputadas, no dia 24 de Abril às 18.00. Uma espécie de speed dating onde cada participante (previamente inscrito) tem cinco minutos para conversar frente a frente com um deputado ou deputada com assento na Assembleia da República. Pode consultar todo o programa no site do Festival Política.

Avenida da Liberdade, 175 (Avenida). 24-26 Abr. Entrada livre