De Afreekassia a Monna Brutal: 5 nomes do rap paulista para ficar de olho

Elas estão transformando o cenário do rap trazendo outras visões e vivências em suas rimas. Confira as rappers que valem entrar para sua playlist. The post De Afreekassia a Monna Brutal: 5 nomes do rap paulista para ficar de olho appeared first on NOIZE | Música do site à revista.

May 8, 2025 - 22:38
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De Afreekassia a Monna Brutal: 5 nomes do rap paulista para ficar de olho

Elas estão transformando o cenário do rap trazendo outras visões e vivências em suas rimas. Da Zona Norte passando pelo ABC ou interior do estado, essas rappers merecem a sua escuta atenta.

Conheça mais sobre elas:

Afreekassia

Nascida e criada em Santos, no litoral paulista, a artista traz influência do hip hop e do afrobeat para seu som, que versa sobre coletividade, autoestima e confiança. O primeiro contato com o rap aconteceu pela música com lente gospel de Ao Cubo e FLG. No ensino médio, encontrou nas rimas uma forma de acolhimento. 

“Eu era bolsista em escola particular, então, quando entendi melhor as coisas que passei durante a infância e adolescência, quis encontrar um lugar de acalanto, já que não conseguia conversar com as pessoas do meu convívio. Buscava algo que me ajudasse nessa fase.  Na época, todo mundo ouvia sertanejo e grupos de rap como Costa Gold e Haikaiss, mas sentia que não era isso que eu buscava. Nesse momento, aprofundei a minha pesquisa e busquei músicas que falavam sobre o que eu estava sentindo – foi quando encontrei Pentágono, Sabotage e Racionais”. 

Seguir a carreira artística nunca foi o seu objetivo, mas durante a faculdade de relações públicas, em 2016, começou a discotecar em festas com foco nas vozes femininas. “Entendi como eu poderia fazer parte desse movimento. Sendo sincera, no início, eu não tinha noção da onde eu estava entrando”, comenta sobre a fase. 

Em 2023, lança o single “Sou + As Negras”, que marca o início da fase autoral. A faixa exalta a estética e parceria das mulheres negras, além de saudar figuras históricas importantes. No mesmo ano, lançou o EP Sou + Eu com letras energéticas sobre sua origem e trajetória. Atualmente, ela trabalha no primeiro álbum: “Quero ter estrutura para conseguir colocar todas as minhas coisas na rua e poder materializar e realizar as coisas. O meu próximo plano é ser grande”.


Ajuliacosta


Rapper e empresária, AJC é fundadora da marca AJC$hop, e é dona de um flow singular. A artista de Mogi das Cruzes começou a construir a sua relação com o hip-hop na adolescência, a partir da arte de rua e da pichação. Mas foi nas batalhas de rima que a rapper deu os primeiros passos: “Sempre escrevi letras, então comecei a participar das batalhas e fui muito incentivada pelas minhas amigas. Aos 14 anos, elas me apresentaram para alguns MCs e eles me convidaram para participar do grupo Mistura de Fatos”.

Desde então, viveu algumas pausas na carreira por conta das mudanças do início da vida adulta, como a mudança de cidade e o início da faculdade. No entanto, desde 2020, a artista engatou a primeira marcha com o lançamento de singles, o EP AJU (2022) e o álbum Brutas Amam, Choram e Sentem Raiva (2023). “O rap é um estilo de vida, algo que gera identificação. Com ele, consigo perceber que faço parte de algo”, ressalta AJC. 

No disco, ela mostra as suas diversas facetas e destaca seu lado sensível e vulnerável, sem deixar de lado as rimas sagazes e combativas. Visando fortalecer a cena feminina, a artista organiza o projeto SET AJC com participações de outras rappers: a primeira edição, em 2021, contou com Mac Júlia, N.I.N.A, Alt Niss, NandaTsunami e MC Luanna. Já em 2024, convidou Duquesa, LAI$ROSA, MC Luanna e iamlope$$

“As minhas músicas surgem de reflexões pessoais. Sinto que elas sempre geram debates no público. ‘Você Parece com Vergonha’ surgiu de relatos de amigas, que também passaram por relacionamentos abusivos. As minhas fãs sempre me relatam situações semelhantes às contadas na música”. Além de ecoar na vida de outras mulheres, a faixa venceu o prêmio de Melhor Música Alternativa no Women’s Music Event em 2024. 


Alra Alves


Nascida em Cubatão, mas criada em São José dos Campos, Alra Alves ressalta a importância da região do Vale do Paraíba na sua arte. “O rap é o meu refúgio, meu combustível, através dele encontrei a minha voz e o meu propósito”. A artista destaca como a vivência periférica a aproximou do estilo musical, mas foi nas rodas de freestyle que ela deu os primeiros passos. 

“Tudo começou nas rodas da minha cidade, onde eu via a força das palavras e o rap como expressão artística. A partir dali, a música deixou de ser só algo ao meu redor e virou a paixão que me guia. Eu frequentava a calçada do Sesc, ponto de encontro para quem curte pichação e outras manifestações culturais urbanas. Depois de alguns meses, tive a oportunidade de assistir a um show do grupo de rap D’Origem. Foi a primeira vez que vi mulheres no palco. Ver Meire D’Origem e Preta Ary se expressando com tanta força me fez ver que o palco também era o meu lugar”. 

Com influências do boombap, a artista versa sobre protagonismo feminino, reflete sobre a desigualdade social e a indústria do rap.“A minha caneta é o meu principal instrumento de expressão, pois me permite transformar pensamentos, sentimentos e vivências em algo concreto. Ao mesmo tempo, é um ato de coragem, pois sei que cada palavra tem o poder de provocar reflexão, incomodar e alcançar quem se identifica com a minha realidade. Ela me ajuda a ampliar a minha voz, traduzindo as contradições que vejo na sociedade e no hip-hop, enquanto trago histórias da quebrada, das lutas e vitórias do nosso dia a dia”.   

A discografia da rapper conta com as obras Ruera (2019) e Nosso Lugar (2025). Alra Alves também é fundadora do Estúdio Ruera, primeiro estúdio de rap fundado uma mulher no Vale do Paraíba. Neste ano, deseja rodar o país com a música e abrir portas.”Apesar de ser MC há nove anos, sinto que agora é o momento certo de mostrar tudo o que tenho para o mundo”.


Mc Luanna

A artista ficou conhecida na periferia da Raposo Tavares, na Zona Oeste paulistana, como Luana do 44. O número era usado para lhe diferenciar da vizinha do mesmo nome, mas tornou-se a sua marca registrada. Nascida na Bahia, mas criada em São Paulo, ela afirma como a cidade foi decisiva na sua trajetória: “A minha essência é baiana, mas encontrei aqui o terreno fértil para crescer no rap, conviver com a galera que já estava fazendo história e me fez acreditar que eu também podia. São Paulo me ensinou a ter postura, entender o jogo e a me posicionar”.

Apesar de anotar ideias desde a adolescência, foi em 2020 que ela decidiu colocar as primeiras músicas na rua. “O rap sempre fez parte da minha vida, mas apenas entendi a sua potência quando lancei as minhas letras, entendi o rap para além da música, o enxergo como um ato de resistência. O rap me deu coragem para falar a minha verdade e transformar a minha vivência em arte”. 

A conexão com o público vem sendo construída desde o debute “Kit Rosa”, single lançado em 2020. “Vi o quanto as pessoas se identificam com a minha imagem e a minha música. Comecei a me enxergar dentro do rap e da música nacional”. Mc Luanna já colaborou com Clara Lima, Drik Barbosa, Coruja BC1 e Tasha & Tracie

A sua discografia conta com os EPs Maldita (2022) e Fração 3/4 (2023) e os álbuns 44 (2022) e Sexto Sentido (2023). Os temas que permeiam os trabalhos giram em torno das vivências das mulheres negras na periferia. “As músicas são como terapia, é onde coloco as minhas vivências, dores e conquistas. É a minha maneira de me conectar com minha história e com a de quem me escuta. O rap me deu liberdade pra ser quem eu sou sem precisar pedir permissão”.


Monna Brutal

O flow ligeiro da artista é inconfundível. A postura e atitude dão amplitude para as letras que retratam vivências negras e LGBTQIAPN+ da rapper paulistana de Jova Rural, bairro da Zona Norte da cidade. O território foi essencial para o desenvolvimento da sua conexão com o hip hop pois ela se aproximou da música através do trabalho nos coletivos comunitários. 

“A arte de cantar sempre esteve presente na minha vida. Só que eu nunca senti que poderia me encaixar em algum espaço artístico. No hip-hop, senti que teria a possibilidade de existir, muito pelo contexto sociopolítico abordado nas letras”. O início nas batalhas de rap aconteceu aos 13 anos, mas foi aos 17 em que começou a cantar as próprias composições. 

“Não tinha nenhuma música escrita porque queria ser MC de batalha. Então eu não conhecia o rap como um lugar onde possivelmente eu poderia fazer uma carreira. Sempre esteve nesse lugar do amor e da necessidade de me expressar”.

Ao longo dos anos, Monna Brutal colaborou com nomes como Tássia Reis, Ebony e Brasil Grime Show. A sua discografia conta com os discos 9/11 (2018), 2.0.2.1 (2021) e Vista Grossa (2024) e os EPs La Janta (2021) e Limonada (2023). Com versos impactantes que conectam críticas à indústria da música e denúncias de problemas sociais, como a transfobia, a artista se estabelece como referência de rima e de compromisso com o movimento. 

No entanto, a arte ainda dá vazão para o seu lado sensível e romântico. No trabalho mais recente, conseguiu testar novas possibilidades: ”Eu fui muito sincera em vários aspectos. Eu acho que esse é o meu melhor disco. As minhas músicas são como um remédio para mim e é isso que salva o meu rap. Eu ainda faço para mim mesma, não apenas para o público”.

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