Arnaldo Antunes e sua distopia solar

Por Zé Antonio Algodoal  Arnaldo Antunes é um dos artistas mais completos do nosso tempo. Poeta reverenciado, com um trabalho provocativo e instigante, é escritor, produtor, artista visual e músico com uma carreira consagrada que teve início há mais de quatro décadas com a banda Titãs. Arnaldo sabe o valor exato das palavras e como […] O post Arnaldo Antunes e sua distopia solar apareceu primeiro em Harper's Bazaar » Moda, beleza e estilo de vida em um só site.

May 8, 2025 - 15:44
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Arnaldo Antunes e sua distopia solar

Arnaldo Antunes – Foto: Leo Aversa

Por Zé Antonio Algodoal 

Arnaldo Antunes é um dos artistas mais completos do nosso tempo. Poeta reverenciado, com um trabalho provocativo e instigante, é escritor, produtor, artista visual e músico com uma carreira consagrada que teve início há mais de quatro décadas com a banda Titãs. Arnaldo sabe o valor exato das palavras e como utilizá-las, consegue compreender e traduzir seu tempo com precisão e elegância. Assim, construiu uma carreira solo que chega agora ao seu 14º disco, “Novo Mundo”.

“Eu acho que, quando as pessoas veem o título do álbum, criam uma expectativa positiva e, quando ouvem a primeira faixa, veem que é um retrato mais distópico do tempo que estamos vivendo, mais crítico, mais ácido do que se esperaria quando você pensa no título isolado, eu acho essa quebra de expectativa uma coisa interessante.” O tom crítico continua em faixas como “Tire seu Passado da Frente” e “Tanta Pressa pra Quê?”. Mas Arnaldo sabe encontrar a dose certa para cada emoção: “a gente precisa encontrar respostas de como reagir a esse mundo, e a primeira coisa é essa tomada de consciência, mas o próprio disco também apresenta um pouco uma possível resposta a isso, tendo um lado ali mais solar, mais afetivo”, diz Arnaldo referindo-se a canções como “Acordarei”, “Primeiro de Janeiro”, “Pra não Falar Mal” e “Pra Brincar”.

Nos últimos anos, além de uma turnê intimista ao lado do pianista Vitor Araújo, Arnaldo também teve um retorno às suas origens roqueiras com uma série histórica de shows que reuniu integrantes da formação clássica dos Titãs. Essa sonoridade mais pesada também tem seu espaço no novo álbum. “Eu acho que já era um movimento natural, eu já tinha uma saudade de fazer um show mais dançante, mais pesado, com banda, mas claro que a turnê com os Titãs trouxe esse gosto da performance do rock’n’roll, trouxe um impulso a mais a esse movimento.” Sempre em busca de renovação, Arnaldo reuniu uma nova banda em estúdio que contou com a participação de Pupillo Oliveira, ex-baterista da banda pernambucana “Nação Zumbi”, que também foi o responsável pela produção do álbum.

Em seua 14º disco, o cantor mistura crítica e afeto, rock e ciranda, com participações de David Byrne, Ana Frango Elétrico e Erasmo Carlos – Foto: Leo Aversa

“Eu, na verdade, gosto de novidades, evito também repetir coisas que já fiz, isso fez eu me aventurar, acho que a produção do Pupillo e a formação instrumental do disco ajudaram muito a realizar esse desejo. O Pupillo trouxe essa coisa dos gêneros, essa mistura, essa liberdade de transitar, tem ciranda, tem rock, tem soul music”, conta Arnaldo.Além de suas composições, Arnaldo abre espaço no disco para outras parcerias, uma delas póstuma, com o cantor Erasmo Carlos na faixa “Viu, Mãe?”.

“Foi uma colaboração diferente das que a gente fez anteriormente. Ele sempre me mandava melodia e eu fazia a letra, agora o Léo Esteves (filho de Erasmo) me presenteou com essa letra, mas eu achei que ficou uma canção muito amorosa, muito afetuosa”. Arnaldo também dividiu composições com sua companheira, Marcia Xavier, e com a amiga de longa data, Marisa Monte. “É sempre uma alegria ter ela por perto, essa parceira de tantos anos é meu porto seguro”. O álbum traz também uma parceria inédita com David Byrne, um dos músicos mais celebrados do mundo, que tem uma grande admiração pelo trabalho de Arnaldo. “Já nos encontramos algumas vezes, mas nunca tínhamos trabalhado juntos. Eu sou fã há muitos anos do trabalho dele, desde os “Talking Heads” até os dias de hoje. Acho que o resultado ficou incrível, de certa forma, é algo que deveria ter acontecido por conta dessa afinidade.” Além da parceria nas composições, Byrne gravou duas das 12 faixas do álbum, “Não dá Pra Ficar Parado aí na Porta” e “Body Corpo”, ambas com versos cantados em inglês e português. O disco conta ainda com as participações especiais do rapper Vandal e de Ana Frango Elétrico, cantora de destaque da nova geração da MPB. Esses convidados realçam a contemporaneidade do trabalho de Arnaldo, que sempre soube aproveitar o melhor de seu tempo de maneira intuitiva e natural. “A música, ela vem, né? Eu vou vivendo, eu sempre gostei de me renovar e também de exercer uma certa liberdade de trabalhar com muitos gêneros, com muitos parceiros, então essas coisas vêm e a gente vai criando sem pensar muito”.

Enquanto trabalha o lançamento do disco, Arnaldo também se dedica à criação do novo show e que, além das músicas novas, incluirá clássicos que se relacionam bem com esse novo repertório. “Eu adoro estar no palco, uma das coisas que mais gosto. Às vezes, eu acho que eu faço disco só para poder fazer show.”

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