No que se apoiar quando design não tem mais sentido?

Ou “o que ainda me vicia em Design”.Jaime Jacob — How to be more empatheticEstamos vivendo (ou sempre estivemos?) uma época de questionamento profissional:É isso mesmo que eu deveria estar fazendo? Deveria buscar propósito no trabalho? Como trabalhar menos? Por que eu continuo aqui? Meu trabalho tem relevância?Nisso, é comum ouvir relatos de pessoas que perderam o interesse na sua área de atuação. Querem migrar de área, ou se mantém fazendo o mínimo pois estão em constante pressão.E a pergunta que fica é: existe algo que ainda faça sentido?Pra mim, tem uma coisa que sempre retorna e que me dá uma sensação de clareza e quero compartilhar com você hoje.O trabalho de quem atua com Design tem muitas atividades. Como designer, diria que todas tem sua importância. Como pessoa, digo que tem uma que importa mais que todas as outras: falar com as pessoas.Com muito esforço da equipe, hoje temos um processo de recrutamento muito simples. Podemos fazer um disparo pela manhã e falar com clientes à tarde, no mesmo dia. Essa facilidade fez com que eu tivesse muito contato com clientes.Pra fins de comparação, entre 2017–2020 — um período de 3 anos — eu havia falado com cerca de 30 usuários/clientes. Em 2021, quando lançamos esse novo processo, falamos com 41 pessoas só nos primeiros três meses. Uma média de 3 pessoas por semana. Resumindo: criei gosto.Depois que comecei a assumir outras/mais responsabilidades, falar com clientes foi se tornando bem mais esporádico. Mais quando surgia a necessidade. O que foi o caso dessas últimas semanas. Mas, por que isso significa tanto pra mim?Acho que, antes de tudo, tem uma questão de quem você atende, quem são seus clientes ou usuários.No meu caso, hoje atendo empreendedores. Quando comecei, meu foco era no microempreendedor — na pessoa que tá ralando na rua, vendendo almoço pra comprar a janta (literalmente), pessoas com múltiplos (sub) empregos. Ou seja, o trabalho que fazemos nos produtos impacta muito o dia a dia dessas pessoas.E aí vem o que fez isso significar tanto:Ouvir diretamente da pessa impactada o quanto o seu trabalho impacta a vida dela — seja positivamente pra te dar motivação e orgulho, ou negativamente pra te trazer pra realidade de gerar um choque de urgência — te muda como profissional.­Era muito comum eu ouvir coisas como:“Eu não tinha dinheiro para comprar uma maquininha e vocês lançaram a função pra vender pelo celular, e hoje consigo parcelar e vender mais.”“Depois que vocês fizeram a atualização [x], minha vida ficou muito mais fácil.”“Por conta da [feature x] eu consegui fazer uma renda extra e hoje estou quitando meu carro.”­Mas também ouvíamos muitas reclamações, que nos ajudavam a dar noção da escala e do tamanho das dores dos clientes pra outras pessoas.Saber como minhas ações e decisões ajudam (ou dificultam) a vida das pessoas é algo que mexe muito comigo. E tem duas frases que sempre escuto e que me fazem ter ainda mais certeza disso:Consideração pela dor.As pessoas não são ouvidas; ou quando são, não sentem que são ouvidas. Ouvir um “Parabéns pelo seu trabalho. É muito legal ver que vocês querem saber a opinião dos clientes. Sou cliente de [x] há vários anos e ninguém nunca veio falar comigo”, mostra o quanto as pessoas se sentem gratas de poder colaborar e que tudo o que querem, muitas vezes, é apenas sentir que a dor delas está sendo considerada.­Contentamento e gratidão.Imagina você encerrar uma entrevista com uma pessoa — que claramente passa por dificuldades financeiras — e falar “obrigado pela sua participação. A bonificação de R$X vai cair na sua conta em breve” e a pessoa te responder: “Magina, nem foi pelos R$X. Eu só queria poder falar com vocês e deixar o meu feedback”.O incentivo financeiro não foi um motivador tão grande. A pessoa veio falar com você porque ela sentiu que aquilo era importante. Porra… Isso me pega muito.­De verdade: são nessas horas que sinto o peso do ofício e o quanto é bom ser designer.Não quero romantizar a pressão e o constante sentimento de ‘pré-burnout’ que muitas pessoas passam — vamos nos cuidar e (tentar) nos desligar completamente do trabalho quando for possível, porque é sim difícil.Mas, lembrar por quem estamos fazendo algo e o quanto nosso trabalho influencia a vida dessas pessoas é o choque de realidade que não podemos nunca deixar passar batido.E você, tem falado com quem usa sua solução?­ClicouSe for ver um link essa semana, veja esse.Sabemos que planejar um trabalho e executar esse trabalho são coisas completamente diferentes. O legal aqui é conseguir visualizar isso.Esse artigo traz uma análise e interpretação detalhada do e dos trabalhos — visíveis e invisíveis. Aquele tipo de texto que só de ler, seu cérebro já muda.The work is never just “the work”Pra viagemLeve com você nessa semana.Essa semana, Thiago Hassu, divulgou o lançamento de uma nova iniciativa: a Meio, um portal de conteúdo ESG — Environmental, Social and Governance (ou Ambiental, Social e Governança).Uma iniciativa muito legal com conteú

Mar 24, 2025 - 11:31
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No que se apoiar quando design não tem mais sentido?

Ou “o que ainda me vicia em Design”.

Jaime Jacob — How to be more empathetic

Estamos vivendo (ou sempre estivemos?) uma época de questionamento profissional:

É isso mesmo que eu deveria estar fazendo? Deveria buscar propósito no trabalho? Como trabalhar menos? Por que eu continuo aqui? Meu trabalho tem relevância?

Nisso, é comum ouvir relatos de pessoas que perderam o interesse na sua área de atuação. Querem migrar de área, ou se mantém fazendo o mínimo pois estão em constante pressão.

E a pergunta que fica é: existe algo que ainda faça sentido?

Pra mim, tem uma coisa que sempre retorna e que me dá uma sensação de clareza e quero compartilhar com você hoje.

O trabalho de quem atua com Design tem muitas atividades. Como designer, diria que todas tem sua importância. Como pessoa, digo que tem uma que importa mais que todas as outras: falar com as pessoas.

Com muito esforço da equipe, hoje temos um processo de recrutamento muito simples. Podemos fazer um disparo pela manhã e falar com clientes à tarde, no mesmo dia. Essa facilidade fez com que eu tivesse muito contato com clientes.

Pra fins de comparação, entre 2017–2020 — um período de 3 anos — eu havia falado com cerca de 30 usuários/clientes. Em 2021, quando lançamos esse novo processo, falamos com 41 pessoas só nos primeiros três meses. Uma média de 3 pessoas por semana. Resumindo: criei gosto.

Depois que comecei a assumir outras/mais responsabilidades, falar com clientes foi se tornando bem mais esporádico. Mais quando surgia a necessidade. O que foi o caso dessas últimas semanas. Mas, por que isso significa tanto pra mim?

Acho que, antes de tudo, tem uma questão de quem você atende, quem são seus clientes ou usuários.

No meu caso, hoje atendo empreendedores. Quando comecei, meu foco era no microempreendedor — na pessoa que tá ralando na rua, vendendo almoço pra comprar a janta (literalmente), pessoas com múltiplos (sub) empregos. Ou seja, o trabalho que fazemos nos produtos impacta muito o dia a dia dessas pessoas.

E aí vem o que fez isso significar tanto:

Ouvir diretamente da pessa impactada o quanto o seu trabalho impacta a vida dela — seja positivamente pra te dar motivação e orgulho, ou negativamente pra te trazer pra realidade de gerar um choque de urgência — te muda como profissional.

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Era muito comum eu ouvir coisas como:

  • “Eu não tinha dinheiro para comprar uma maquininha e vocês lançaram a função pra vender pelo celular, e hoje consigo parcelar e vender mais.”
  • “Depois que vocês fizeram a atualização [x], minha vida ficou muito mais fácil.”
  • “Por conta da [feature x] eu consegui fazer uma renda extra e hoje estou quitando meu carro.”
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Mas também ouvíamos muitas reclamações, que nos ajudavam a dar noção da escala e do tamanho das dores dos clientes pra outras pessoas.

Saber como minhas ações e decisões ajudam (ou dificultam) a vida das pessoas é algo que mexe muito comigo. E tem duas frases que sempre escuto e que me fazem ter ainda mais certeza disso:

  1. Consideração pela dor.
    As pessoas não são ouvidas; ou quando são, não sentem que são ouvidas. Ouvir um “Parabéns pelo seu trabalho. É muito legal ver que vocês querem saber a opinião dos clientes. Sou cliente de [x] há vários anos e ninguém nunca veio falar comigo”, mostra o quanto as pessoas se sentem gratas de poder colaborar e que tudo o que querem, muitas vezes, é apenas sentir que a dor delas está sendo considerada.
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  2. Contentamento e gratidão.
    Imagina você encerrar uma entrevista com uma pessoa — que claramente passa por dificuldades financeiras — e falar “obrigado pela sua participação. A bonificação de R$X vai cair na sua conta em breve” e a pessoa te responder: “Magina, nem foi pelos R$X. Eu só queria poder falar com vocês e deixar o meu feedback”.
    O incentivo financeiro não foi um motivador tão grande. A pessoa veio falar com você porque ela sentiu que aquilo era importante. Porra… Isso me pega muito.
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De verdade: são nessas horas que sinto o peso do ofício e o quanto é bom ser designer.

Não quero romantizar a pressão e o constante sentimento de ‘pré-burnout’ que muitas pessoas passam — vamos nos cuidar e (tentar) nos desligar completamente do trabalho quando for possível, porque é sim difícil.

Mas, lembrar por quem estamos fazendo algo e o quanto nosso trabalho influencia a vida dessas pessoas é o choque de realidade que não podemos nunca deixar passar batido.

E você, tem falado com quem usa sua solução?­

Clicou

Se for ver um link essa semana, veja esse.

Sabemos que planejar um trabalho e executar esse trabalho são coisas completamente diferentes. O legal aqui é conseguir visualizar isso.
Esse artigo traz uma análise e interpretação detalhada do e dos trabalhos — visíveis e invisíveis. Aquele tipo de texto que só de ler, seu cérebro já muda.
The work is never just “the work”

Pra viagem

Leve com você nessa semana.

Essa semana, Thiago Hassu, divulgou o lançamento de uma nova iniciativa: a Meio, um portal de conteúdo ESG — Environmental, Social and Governance (ou Ambiental, Social e Governança).
Uma iniciativa muito legal com conteúdos, cases, histórias, lições e reflexões sobre como design pode e deveria ser sobre fazer a diferença.
Meio: Portal de conteúdo ESG