Myspace, Beyoncé e “Donkey”: a primeira entrevista do CSS na Noize
Para celebrar o álbum "CSS" (2005), lançamento em vinil do mês no Noize Record Club, lembramos a primeira matéria com o Cansei de Ser Sexy feita na Revista Noize, em 2008. The post Myspace, Beyoncé e “Donkey”: a primeira entrevista do CSS na Noize appeared first on NOIZE | Música do site à revista.

Para celebrar o álbum CSS (2005), lançamento em vinil do mês no Noize Record Club, lembramos a primeira matéria com o Cansei de Ser Sexy feita na Revista Noize. A entrevista saiu lá na edição #20, em 2008, quando a revista tinha recém-completado um ano de vida.
Nela, os integrantes falam a Carolina de Marchi sobre o segundo álbum, Donkey (2008), — até então, o lançamento da vez — a importância da “web” na música, o sucesso internacional e como é o público em Londres, cidade para onde haviam recém se mudado.
Eles não estão nem aí se você acha brega. A música número um do seu playlist é uma versão do hino nacional brasileiro gravada pelo Olodum. Pop nu e cru é hype, que é CSS. Nessa conversa, o quinteto se mostra igual a sua música: enérgicos, divertidos, adolescentes e escrachados. Após falar pelos cotovelos sobre tudo e mais um pouco, ainda me chamaram para dançar ao som de Beyoncé, no camarim. You better get your move on – não tem como cansar.
Vocês estão fazendo shows quase sem parar, pararam só durante uns três meses pra gravar Donkey. Como está essa rotina frenética?
Lovefoxx: A gente nem pensa mais, fazemos o show e pronto. É uma coisa que um tempo atrás a gente ficava pensando e sofrendo. Agora a gente não pensa mais, a gente faz o show e pronto.
Adriano: O bom é que estamos na reta final.
Lovefoxxx: Só faltam 26 shows para gente entrar de férias.
Ana: Fazer o show é a coisa mais legal, o chato é ficar viajando, dormindo no ônibus, esperando para depois fazer o show.
Vocês esperavam de alguma forma um sucesso internacional rápido?
Adri: Não… A gente pôs nossas músicas na Trama Virtual e aí eles contrataram a gente pra fazer um disco. Depois a Subpop quis lançar.
Lovefoxxx: Desde 2003 a gente já tocava bastante no Brasil. Nós fazíamos uns quatro shows por semana, que é bastante.
Luiza Sá: Sabemos o quanto trabalhamos pra chegar aonde chegamos.
Lovefoxxx: Agora, passando bastante tempo na Inglaterra, o que eu acho que é rápido são as bandas lá.
Adri: A banda faz três shows, nem grava um disco, já assina um contrato de um milhão de libras, já estão na capa da NME, já tem fã-clube, site. A gente neste sentido foi tão devagarinho… Nunca assinamos contrato milionário com ninguém. Pra gente não existe isso, isso é só pra bandas inglesas.
O que vocês acham desse fenômeno da música na web (MySpace, etc)? É uma coisa positiva pelo fato de democratizar a música ou negativa por às vezes jogar bandas na fama sem que elas tenham tempo de amadurecer?
Adri: Acho que a mídia é muito imediatista, só querem saber de novidade. Hoje em dia, ninguém quer saber do segundo disco da banda.
Lovefoxxx: Ah, mas isso não é culpa do MySpace!
Adri: Não, realmente não é culpa do MySpace, mas tem muita gente que usa o MySpace como meio para se tornar conhecida rapidamente na rede.
Ana: É, mas eu acho ótimo que você não depende mais de uma grande gravadora para as pessoas ouvirem a sua música. E as pessoas são mais proativas, não estão mais esperando o que o radio vai tocar ou que um disco caia na cabeça delas.
Em 2006 vocês declararam que ainda não sabiam se eram famosos e não se consideravam músicos, mas hoje em dia, como vocês se vêem?
Ana: Ah, não achamos que somos famosos. É muito esquisito, só nos conhecem as pessoas que conhecem a nossa música. Outra coisa é você estar na rua a e as pessoas reconhecerem você, o que acontece às vezes, mas só se a gente estiver andando no quarteirão do show.
Carol: Acaba fazendo parte da sua vida, mas não chega a ser uma coisa que atrapalha.
Lovefoxxx: Mas a gente não se vê como a banda do momento e as pessoas que estão olhando são distantes.
Ana: Pelo contrário, até acho que as pessoas se identificam com a gente justamente porque vêem que temos um jeito muito natural no palco, toca, para, dá risada, essas coisas.
Lovefoxxx: A gente é a turma de amigos que virou uma banda. É como se o Melrose Place virasse uma banda.
As influências de vocês vão além da música, isso é claro. Podem comentar um pouco sobre as influências de arte, cinema e moda?
Lovefoxxx: As nossas grandes influências não só na música como na vida, são as Drag Queens de São Paulo. Elas são do jeito que elas são, Come as You Are.
Luiza Sá: A gente teve a oportunidade de conhecer muitas delas no mundo inteiro, mas as de São Paulo…não tem nada parecido.
Lovefoxxx: E de música, a gente ouve de tudo um pouco.
Adri: A gente gosta de música pop.
Luiza: A gente tem escutado axé, Olodum…O Olodum tem uma versão do hino nacional que é incrível.
Lovefoxxx: Gipsy Kings… é sério!
Ana: Destiny’s Child… músicas extrovertidas… A gente fica até com vergonha entre si de ouvir banda nova e boa.
Todos: É verdade!
Adri: Mas normalmente quando a gente ouve bandas “sérias” são as bandas com quem a gente faz turnê e que a gente gosta. Tilly and the Wall, Ssion, Natalie Portman’s Shaved Head. Aí ouvimos abertamente.
The Clash com Pussy Cat Dolls, Sex Pistols com Spice Girls, satanic samba, qual foi a melhor definição de si mesmos que vocês já ouviram?
Lovefoxxx: The Clash com Pussy Cat Dolls. Tinha uma também que era algo como Ramones com Spice Girls.
Ana: Somos mais Spice Girls do que Pussy Cat Dolls, a gente não rebola tanto que nem elas!
Por que morar em Londres? Vocês acham que a cultura musical lá é mais forte?
Ana: Porque é mais fácil. Nosso visto foi feito lá, nosso agente tá lá, nosso empresário, nosso publishing, nosso cartão de crédito, agência bancária. É conveniente. Também porque lá tem uma cultura musical muito forte, todos gostam muito de shows, de rock, …
Adri: Sim, existe uma indústria atrás da música que não tem em nenhum outro lugar do mundo.
Ana: A Ivete Sangalo de lá é o Coldplay, ou o Franz Ferdinand. Em qualquer hora você liga a TV e tem algum show ou entrevista rolando com alguma banda que você nunca ouviu falar.
Adri: Isso compensa todo o resto que não presta! A escuridão, a chuva, a comida ruim.
Vocês disseram que o público de lá é louco, mas também é muito exigente…
Lovefoxxx: O público de lá adora se divertir.
Adri: Se eles saíram de casa, querem beber até cair, se faz cinco graus eles vão tirar a roupa e achar que é verão, é muito legal.
Lovefoxxx: Em Glastonbury, com toda aquela chuva, e eles nem aí, dançando na lama, durante uma semana, uhuuuuuu!
As raízes de vocês são underground, mas acabaram fazendo muito sucesso no mainstream. Vocês se consideram under ou mainstream?
Ana: A gente não tem muito problema com isso, o lance é não se sentir desconfortável. No Brasil, por exemplo, nos chamaram para ir no Faustão e a gente disse que não.
Adri: Já se fosse ao programa da Hebe, daí a gente ia com certeza!
Ana: Não temos essa coisa de “ah, estão se vendendo”. Não teríamos nenhum problema em ser uma banda gigante dessas que toca em arena, mas a gente nunca vai ser.
Lovefoxxx: Aaaai Ana!!
Ana: Não, gente, a gente nunca vai ser a Mariah Carey, por mais que eu quisesse!
Adri: Abrir o show para a Gwen Stefani foi o mais próximo que a gente chegou dessa realidade.
Ana: Preferimos abrir 80 turnês pra Gwen Stefani do que abrir uma turnê para uma banda séria, tipo Radiohead. Primeiro que a gente ia morrer, porque as pessoas iam jogar coisas na gente.
Adri: Quando abrimos para o Bloc Party, eu saí de lá com uma diarreia só de olhar para a cara daquelas pessoas olhando o nosso show com cara de choro.
Ana: Nosso público é o do Holiday On Ice!
Adri: Mães, crianças, adolescentes, alcoólatras, e não estudante de filosofia que vai ficar sofrendo com uma cara de quem tá com diarreia.
Como foi o processo de gravação do segundo disco? E como foi a volta ao Brasil?
Adri: A gente tava em turnê desde 2006, completamente loucos fazendo show, mas eu sou meio workaholic. Viajo com meu computador e estava toda hora fazendo música. Aí chegou um dia: ó, temos essas músicas que a gente pode gravar. Tínhamos três meses pra gravar o novo disco.
Ana: As músicas ficaram muito legais de tocar ao vivo. Foi a primeira vez que voltamos sem estar fazendo turnê.
Adri: Pensamos: vamos deixar simples, vamos gravar esse disco da maneira que a gente vai tocar, até porque não tinha muito tempo para produzir. Fizemos um álbum que é a nossa cara. Foi super bom, rápido de gravar, indolor.
Carol: Ir pra São Paulo e não ter que fazer nada é ótimo, pois naquela cidade só pra ir a um lugar fazer algo, você já perde metade do seu dia. Então estar lá fazendo o seu tempo é ótimo.
Ana: Fazer isso em São Paulo é um privilégio, é um luxo.
Luiza: E o show no Terra foi muito foda.
Lovefoxxx: A gente queria muito fazer um show no Brasil agora, mas ninguém, nos convidou…
O que vocês estariam fazendo se não fosse música?
Adri: Faríamos o que sempre fizemos em SP: teríamos a banda, empregos normais, odiando, xingando e bebendo mais.
Ana: Porque em SP é assim, você trabalha, mas sai de segunda a segunda, acorda de ressaca, fica vomitando no trabalho. Então na verdade ficamos mais saudáveis do que a gente era.
Lovefoxx: Agora não tem aquele mesmo desespero pela festa.
E quando acabar essa turnê? Brasil ou Inglaterra?
Luiza: Dia 21 de dezembro.
Adri: Eu volto para o Brasil em janeiro e no fim de fevereiro temos uma turnê na Austrália. Daí vamos ficar uns seis meses de férias e depois vamos começar a pensar no disco tipo em julho, agosto.
Ana: Precisamos dessa pausa. Apesar de que durante este tempo vamos acabar nos vendo todos os dias. É muito engraçado porque às vezes nas bandas os caras nem se falam entre si, mas a gente não pode passar muito tempo sem se falar, sem se mandar e-mails.
Luiza: Já temos um mundo muito nosso, que fica até difícil compartilhar com outras pessoas.
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