Simplifiquemos: no seu muito elaborado brilhantismo, a série
Dia Zero [
Netflix] é uma variação de invulgar contundência e eficácia sobre as matrizes da clássica ficção liberal do (também clássico) cinema de Hollywood.
A saber: uma personagem que encarna a Lei e, mais do que isso, emana dos seus valores — o ex-Presidente dos EUA interpretado por Robert De Niro — assume uma missão em que, precisamente, a pureza da aplicação dessa mesma Lei pode ser prevertida.
Com uma dinâmica realização da veterana
Lesli Linka Glatter,
Dia Zero integra diversos elementos (a aliança política/televisão, a ditadura dos "fazedores" de opinião, a vertigem tecnológica, etc.) que espelham as atribulações do nosso presente, sem nunca ceder a sermões politicamente correctos. E também mostrando que as lições do
thriller mais sofisticado constituem uma herança a ter em conta para lidar com o apocalipse do próprio conceito (também clássico) de
política.