Aos 41, Tatá Werneck revela desejo de ter segundo filho

Ela estourou graças ao raciocínio afiadíssimo e agora equilibra a maternidade, o sucesso e o desejo de tirar um tempo para ter um segundo filho

May 9, 2025 - 14:30
 0
Aos 41, Tatá Werneck revela desejo de ter segundo filho

Sentada ao lado da mãe, em um restaurante na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, a pequena Cacá, de 5 anos, acompanha toda a conversa com atenção. Faz algumas intervenções espontâneas — cobra a sobremesa prometida por Tatá Werneck, pergunta sobre histórias que desconhece, opina se prefere ganhar um irmão ou uma irmã, entrega um desenho carinhoso para a mãe.

Ainda antes da chegada do couvert, Tatá relembra a criação amorosa, porém rígida, que teve dos pais. “Eu queria muito uma menina para poder falar coisas diferentes das que ouvi, educar como eu gostaria de ter sido educada. Meus pais são maravilhosos, tá? Sou apaixonada por eles. E eles mesmos reconhecem que cometeram erros normais da geração deles. Tá tudo certo! Mas eu queria poder fazer diferente e…”

“E você fez, mamãe”, interrompe a garota, sem levantar o olhar do desenho que rabisca num papel, como se não falasse nada demais. A mesa toda ri e suspira diante da doçura de Cacá. “Ai, meu Deus do céu. Minha vida, amor da mamãe, meu tomate-cereja”, diz a humorista, derretida, ao se virar para a filha. Ainda emocionada, volta para a repórter.

“‘E você fez…’ Tá entendendo? Não tem como.” Tatá tivera um dia exaustivo naquele sábado, véspera de Páscoa. Chegou às 13h30 no estúdio de fotos e só saiu de lá depois das 20h. A filha apareceu no final da sessão, com a babá.

Dali em diante, Tatá se dividiu entre looks, poses, “não toca em nada, Cacá, cuidado com os fios”, e as brincadeiras com ela — que se exibia para a câmera, posando com a mãe. Não bastasse a maratona de fotos, a atriz, gentilmente, se ofereceu para continuar a entrevista em um restaurante, onde ficou até quase 11 da noite.

“Eu levo a Cacá comigo quando posso. Trabalho muito e também passo muito tempo com ela, mas qualquer mãe que fique menos de oito horas por dia com o filho vai se sentir culpada. Porque a verdade é que eu queria estar o tempo todo com ela”, conta.

“Mas também quero que ela entenda por que eu saio de casa, o que eu faço, e que a mamãe ama trabalhar. E ela tanto entende que um dia disse que também queria trabalhar. Falei que criança não trabalha, só brinca e estuda.”

Continua após a publicidade

Aos 41 anos, Tatá comanda o Lady Night. O talk show vai ao ar desde 2017, no Multishow — dois anos depois, com o sucesso do programa, a Globo decidiu exibi-lo também no canal aberto, às quintas-feiras. No ano passado, a humorista voltou ao time de jurados do The Masked Singer Brasil, após duas temporadas fora do elenco.

Ao longo da carreira, além de peças de teatro, atuou em cinco novelas, seis filmes, e mais de 10 séries e programas de TV. Tudo fruto de uma trajetória construída com esforço e improviso. Mas, por pouco, o Brasil quase desperdiçou o talento da humorista — em troca, teria ganhado uma bem-sucedida vendedora de maquiagem

A trajetória de Tatá Werneck: de vendedora da Mary Kay a destaque da comédia brasileira

Tatá Werneck fala sobre sua relação com a filha
Conjunto, Mugler para Minha Avó Tinha; Scarpin, Louboutin e Brincos, Débora ParisottoIsa Arruda (notitlemgt)/CLAUDIA

Tatá tentava engatar a carreira de atriz, em 2008, quando recebeu uma proposta de emprego: vender maquiagens para a marca Mary Kay. “A mulher que me contratou disse que tinha um plano de carreira para mim, eu poderia ser diretora. Eu aceitei. Fazia demonstração de produtos nos salões de beleza, uma vez até encontrei amigos da escola lá. Outra vez, uma mulher foi muito grossa, fechou a porta na minha cara. Mas cresci rápido, virei diretora e montei minha equipe”, lembra.

Não que tenha ficado longe dos palcos nessa época — ela ainda atuava em peças apresentadas para eventos de empresas. E lá, ainda longe da fama, encontrava suas amigas de faculdade, com carreiras promissoras, em agências renomadas de publicidade. Tatá se formou em artes cênicas e publicidade — antes disso, tentou os cursos de jornalismo e design industrial.

Continua após a publicidade

A vida de vendedora era um atraso quase inesperado na ascensão da carreira, que começou bem cedo. Aos 9 anos, uma professora orientou a mãe dela a colocá-la no curso de teatro. E ali se encontrou. Dois anos depois, aos 11, já participava do programa da Xuxa, o Xuxa Park.

“Eu fazia umas perguntas do tipo ‘Quanto você ganha?’, ‘Quem pagou sua passagem para vir para cá?’, umas curiosidades assim. Aí a Marlene me demitiu. Mas a Xuxa sentiu falta, falou ‘Cadê aquela pequenininha? Traz ela de volta’. Eu fiz um teste no palco e fui recontratada.” 

Depois foram anos sem sinal de Tatá Werneck nas telinhas. Mas no teatro ela seguia. Em 2003, ainda na faculdade, criou o grupo “Os Inclusos e os Sisos — Teatro de Mobilização pela Diversidade”, com peças focadas na acessibilidade. Era uma ideia inspirada no trabalho da mãe, a jornalista e escritora Claudia Werneck, referência na luta por acessibilidade de pessoas com deficiência e inclusão social.

“Minha mãe falava sobre inclusão. E as pessoas reclamavam que o teatro vivia vazio. Por que a gente também exclui qualquer pessoa com deficiência, né? Faz peças em lugares não acessíveis, não tem intérprete de libras, nem material em braile ou audiodescrição. A gente rodou o país com peças gratuitas, também apresentamos em empresas, para falar sobre a importância da acessibilidade. Foi maravilhoso”, conta.

“Então, no teatro eu estava superbem, ganhava prêmios. Mas não tinha espaço para mim na televisão. Eram outros tempos. Na Malhação eram só aquelas meninas belíssimas.”

Continua após a publicidade

A descoberta do TDAH

Tatá Werneck faz revelação surpreendente sobre família
Tatá Werneck tem uma relação positiva com a própria beleza e personalidade, mas nem sempre foi assimIsa Arruda (notitlemgt)/CLAUDIA

Tatá sabe reconhecer a própria beleza. No estúdio, enquanto olhava uma das fotos, brincou: “Gente, pausa rapidinho, olha essa bunda!”. Mas nem sempre foi assim — na infância, a extroversão ainda era uma característica admirada apenas em meninos. “Quando eu era mais nova, eu desejava ser uma menina meiga, delicada.

Mas eu era, sei lá, uma ratazana, fazendo coisas, sendo expulsa de colégios [ela foi expulsa de duas escolas por “conduta inadequada”]. Uma vez chamaram minha mãe e disseram que não sabiam o que fazer comigo. Ela respondeu: ‘nem a gente’.” Nem os pais, nem Tatá sabiam, mas a desatenção da garota seria diagnosticada apenas na vida adulta: transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).

Os testes para personagens também colocavam à prova a confiança da atriz — e escancaravam a falta de espaço para mulheres comediantes. Em um dos testes, dois avaliadores conversavam, na frente dela, sobre ela não ser nem bonita, nem gostosa. E ela brincou: “Bonita eu não sei, mas gostosa ainda dá tempo”.

O machismo que Tatá Werneck enfrentou na carreira

Tatá Werneck conta detalhes sobre sua família e carreira
O humor ainda é um espaço majoritariamente masculinoIsa Arruda (notitlemgt)/CLAUDIA
Continua após a publicidade

No humor, sempre dominado por homens, o desafio de ser mulher se mostrava de outra forma — mas pelo mesmo e conhecido viés do julgamento sobre o corpo. Para ter seu talento reconhecido, em batalhas de rima e improviso, Tatá usava roupas largas e tênis surrado para anular sua feminilidade. 

“Hoje, as coisas mudaram, e eu poderia me vestir como bem quisesse. Mas foi uma luta individual mostrar que eu poderia fazer a mesma coisa que aquela galera fazia sendo mulher”, conta.

“Eu entendi, com o tempo, que poderia ser do jeito que eu sou. Sempre me perguntam em entrevistas, com exceção desta aqui, se me acho bonita. E sempre penso: ‘bom, eu sim, mas você não deve achar, para me perguntar isso’. Mas minha vaidade não está nesse lugar, do físico, está no meu trabalho. Se dizem que a cena ficou ruim… meu Deus!”

A vida mudou em 2010, quando conquistou espaço nos programas de humor e improviso da MTV, e enterrou de vez a bem- sucedida carreira de vendedora. A atriz estreou no programa Quinta Categoria, de improviso, e pulou para vários outros: Comédia MTV, Furo MTV, Acesso MTV.

O raciocínio brilhante e rápido nas piadas — ponto positivo do TDAH, que ajuda Tatá a criar conexões inesperadas — conquistou o público. E fez a Globo bater à porta. Lá, estourou com o papel de Valdirene, na novela Amor À Vida, em 2013.

Continua após a publicidade

“Mesmo nesse teste, quando me chamaram, disseram ‘piriguete não precisa mais ser gostosa, a gente pensou logo em você’. Agradeci. Mas depois pensei… Ela nem falou por mal, mas assim…” Depois de Valdirene, Tatá estrelou filmes e novelas. E nunca mais deixou os estúdios da emissora.

A gravidez difícil de Tatá Werneck e a depressão após a morte de Paulo Gustavo

Tatá Werneck fala sobre a família
Tatá Werneck entrou em depressão depois de perder o amigo, Paulo Gustavi, na pandemia de Covid-19 e ficar afastada da família e amigosProdução de moda/ Juny Martins/ Assistentes de fotografia/ Felipe Viveiros e Patrick/ Assistentes de beleza/ Bea e Lucas Luz/ Assistente setdesign/ Gustavo Luz/ Camareira/ Salvadora Nasciment/ Estúdio Motus/ Conjunto, Mugler para Minha Avó Tinha; Scarpin, Louboutin e Brincos, Débora Parisotto/CLAUDIA

A imagem da piriguete ou da apresentadora escrachada das telas esconde a personalidade caseira e religiosa de Tatá. Casada com o ator Rafael Vitti — os dois estão juntos desde 2017 —, ela vai à missa todos os domingos, e prefere reunir os amigos em casa para jogos, tipo “cidade dorme”, a topar convites para festas.

“Acho que as minhas maiores qualidades não são mostradas na TV. Eu sou uma supermãe, uma superfilha. Sou aquela neta que cuida de cada detalhe, cuido da minha família inteira”, conta.

O lado mãe guia o sonho e os planos para os próximos três anos: dar um irmão à Cacá — intuitiva, ela tem certeza que desta vez será um menino. “Minha primeira gravidez não foi fácil. Tenho certeza que vou ter outro filho, não sei como vai ser o caminho. Já passei por dois processos de congelamento de óvulos. Eu amo muito meu irmão, não queria tirar da minha filha a oportunidade de ter um irmão.”

Tatá tem endometriose, o que reduz a chance de engravidar, e durante a gestação teve hiperêmese gravídica — chegava a vomitar até 40 vezes por dia. Nem mesmo o puerpério foi fácil. O teste do pezinho, feito assim que o bebê chega ao mundo, indicava que Cacá teria uma doença genética grave. Foi só aos dois meses de vida que os pais descobriram o erro no exame.

Pouco depois, veio a pandemia. As mortes devido ao Covid-19, como do amigo e comediante Paulo Gustavo, a distância da família, fizeram o corpo e a mente pedirem socorro — ela entrou em depressão e chegou a quase 50% de gordura corporal. Assim, Tatá e o marido decidiram alugar outra casa e morar juntos com toda a família, por oito meses. E foi dessa forma que superou a doença e o sedentarismo.

Tatá Werneck deseja pausar a carreira para ter outro filho

Tatá Werneck fala sobre sua relação com a filha
Tatá Werneck tem o desejo de pausar a carreira para ter segundo filhoIsa Arruda (notitlemgt)/CLAUDIA

Na segunda gravidez, a apresentadora quer fazer diferente: tirar um tempo para ela, longe das câmeras. Mas o medo de perder espaço na profissão a preocupa.

“O lugar da mulher comediante é difícil. Tem espaço para vários homens — Defante, Porchat etc. Para mulher é diferente. Quero tirar um tempo, mas tenho medo de ficar fora.” Felizmente, Tatá já provou que não precisa mais correr atrás do próprio palco. Se o roteiro mudar e deixá-la de lado, quem perde somos todos nós.

Créditos

  • Fotos Isa Arruda
  • Styling Bruno Pimentel
  • Beleza Carla biriba (com produtos Fenty) e Henrique Martin
  • Set design Vitor Roque
  • Direção de arte Kareen Sayuri

Assine a newsletter de CLAUDIA

Receba seleções especiais de receitas, além das melhores dicas de amor & sexo. E o melhor: sem pagar nada. Inscreva-se abaixo para receber as nossas newsletters:

Acompanhe o nosso WhatsApp

Quer receber as últimas notícias, receitas e matérias incríveis de CLAUDIA direto no seu celular? É só se inscrever aqui, no nosso canal no WhatsApp

Acesse as notícias através de nosso app 

Com o aplicativo de CLAUDIA, disponível para iOS e Android, você confere as edições impressas na íntegra, e ainda ganha acesso ilimitado ao conteúdo dos apps de todos os títulos Abril, como Veja e Superinteressante.

Publicidade