Priscilla Mattar: a médica que viu o Ozempic nascer
A endocrinologista foi contratada, há 13 anos, com sete meses de gravidez. De lá para cá, assistiu ao nascimento da filha e do Ozempic

A medicina quase perdeu Priscilla Matar. Aos 17 anos, sem condições financeiras para bancar os custos de uma universidade privada, ela se matriculou no curso de enfermagem. “Não passei em medicina, mas entrei na USP em enfermagem. Era na área de saúde, algo próximo, tentei. Em seis meses, entendi que ainda não era isso e abandonei”, conta. O sonho falou mais alto: se dedicou em um cursinho pré-vestibular e, depois de um ano todo focada nos estudos, conquistou a vaga.
Foi um esforço coletivo. O pai trabalhava como comerciante, enquanto a mãe cuidava da casa e dos três filhos. “Nós chegamos a passar por algumas situações difíceis, mas sempre tive o incentivo deles. Meus pais fizeram um esforço coletivo para investir em educação”, lembra. Em 2007, Priscilla se tornou a primeira da família a concluir o ensino superior – e não em qualquer lugar: na Universidade Federal de São Paulo, uma das mais concorridas do Brasil.
Na medicina, escolheu a endocrinologia como especialidade. Passou em um concurso público para trabalhar no centro de intoxicações de um posto de saúde, deu plantões, e atendeu no consultório de um professor.
Em 2010, migrou para a indústria farmacêutica, no cargo de gerente médica da Novartis. Quase três anos depois, prestes a sair de licença maternidade, com sete meses de gestação, recebeu um convite inesperado: assumir o cargo de consultora médica da Novo Nordisk, empresa dinamarquesa.
Dois nascimentos

Entre os inícios das conversas com a Novo Nordisk até a última entrevista, havia passado tanto tempo que a segunda gravidez de Priscilla já estava nos meses finais. E ela cogitou declinar quando recebeu a ligação da empresa.
“Eu não tinha nem roupa, não via nenhum sentido em ir para a entrevista. Estava com sete meses de gestação, só pensava na licença-maternidade. Aí meu marido me incentivou a ir, dizendo que eu não tinha nada a perder”, diz.
“Me chamaram depois e quase não aceitei também, porque não via sentido. O que eu ia fazer lá? Só tinha mais um mês, não daria tempo nem de lembrar o nome das pessoas. Mas topei, porque aquilo, lá em 2011, já me mostrou muito sobre a cultura da empresa, de igualdade, equidade.”
Enquanto via os filhos crescerem, presenciou – e participou ativamente – também o nascimento de novos medicamentos. Um dos maiores orgulhos dela foi ter visto o desenvolvimento de um remédio importante no combate à obesidade e para o tratamento para diabetes: o Ozempic.
“Acompanhei o nascimento de várias moléculas que hoje fazem muito sucesso no mercado. E quando ainda eram só um projeto, um desenho de estudo. Eu vi o Ozempic nascer. Quando entrei na indústria, não existia uma solução efetiva e eficaz para a obesidade, que controle o peso com segurança. A gente encontrou a pedra fundamental desse tratamento! Só vai melhorar, e eu tô vendo isso acontecer”, relembra.
“Trouxemos para o Brasil. Então precisamos construir um time de pesquisa, queria que vissem nosso país como um país potencial. Quero que os pesquisadores brasileiros também tenham acesso aos novos produtos.”
Priscilla ainda atende alguns pacientes em sua clínica particular – e segue incansável nas pesquisas. Mas não há nada que a anime mais do que o ambiente de novos conhecimentos e estudos científicos para os quais a Novo Nordisk abre as portas.
“No consultório, tomo as decisões muito sozinha, sempre seguindo os mesmos protocolos de tratamento, claro. Mas aqui é muito dinâmico. Cada dia é uma coisa nova, algo diferente. Essa questão do dinamismo é o que mais faz meus olhos brilharem”, conta.
O brilho nos olhos e a dedicação de Priscilla renderam a ela quatro promoções. A última e mais importante é o cargo de vice-presidente médica da Novo Nordisk no Brasil.
“Comecei repassando informações para nossos clientes. Ou seja, atender ligações de médicos, por exemplo, que tenham alguma dúvida, precisam de alguma informação científica. Fui aumentando o escopo dentro da empresa, assumindo cada vez mais responsabilidades”, diz.
“Em 2019, assumi a diretoria da área médica, mais semelhante ao escopo que tenho hoje. Fiquei e ainda sou responsável pela área médica, área de qualidade, de pesquisa clínica e regulatória. Cresci verticalmente. Hoje, meu time tem quase 140 pessoas.”
Enquanto pesquisa novos medicamentos e observa com entusiasmo o nascimento deles, Priscilla também acompanha os passos de seus filhos. Sem nunca deixar os compromissos com eles de lado – nem mesmo em viagens internacionais.
“Eu já voltei antes de congressos só para pegar uma festa junina deles. Tem os eventos de final de ano, tipo a competição de tênis, que eu também nunca perco. Tem todo ano, mas eu nunca deixo de ir. Isso é muito importante para mim.”
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