Afinal, o que faz um facialista? A resposta está na cara

Entre a estética e a saúde, o trabalho destes profissionais foca-se unicamente no rosto, onde a tecnologia e o poder das mãos se encontram.

Apr 21, 2025 - 12:31
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Afinal, o que faz um facialista? A resposta está na cara
Afinal, o que faz um facialista? A resposta está na cara

Este artigo foi originalmente publicado na revista Time Out Lisboa, edição 672 — Inverno 2025

O azul foi minuciosamente escolhido para absorver os sentidos e criar uma sensação de serenidade e imersão, como quando Inês Rebelo mergulhou no oceano e teve a certeza de que queria transportar aquela mesma visão para dentro de quatro paredes. Em Setembro, ao fim de 16 anos a trabalhar como facialista, instalou-se num espaço moldado à sua imagem. O que aqui faz não tem nada de alquímico – é ciência e tecnologia aplicadas à necessidade de cada rosto.

“Estava tudo na minha cabeça”, começa por explicar. Fala do espaço, mas a frase resume tudo o resto. Há muito que Inês fez da experimentação uma aliada e isso permitiu-lhe criar os próprios tratamentos e aperfeiçoá-los ao sabor dos avanços tecnológicos e cosméticos. O objectivo é melhorar o aspecto, mas também a saúde da pele. “Sou fã da tecnologia. Acredito que conseguimos muito com as nossas mãos, mas a tecnologia traz-nos um resultado diferente, mais eficaz e duradouro. O meu objectivo é conseguir o máximo possível no menor tempo possível, sempre com uma abordagem não invasiva, claro”, resume.

Facialista Inês Rebelo
Manuel Manso

Sem agulhas ou injectáveis, a fama de Inês Rebelo precede-a. É pioneira na redefinição da figura da facialista e percussora de uma nova relação entre as pessoas e o próprio rosto. “É um termo que não existia em Portugal e que voltou a trazer seriedade à estética, algo que se tinha perdido muito ao longo dos anos. Acho que agora há uma preocupação em procurar tecnologias que funcionem, produtos cosméticos que funcionem – não é só juntar estes cremes, fazer este procedimento e já está. Há uma preocupação muito grande em cuidar da pele de forma saudável, respeitando a sua estrutura e isso é muito bom”, continua.

O estúdio é composto por dois gabinetes – um está reservado a Inês e aos seus clientes, no outro encontramos Helena Pinheiro, também ela facialista, braço direito da fundadora. O aparato tecnológico está à vista – electroestimulação, luz LED, peeling ultrassónico e um laser remodelador de última geração – o Lyma –, que os seguidores dos avanços tecnológicos na área da beleza só vão encontrar aqui. Dispositivos usados sobre a pele, mas com acção bem mais profunda, que pode chegar à estrutura muscular do rosto. Massagens e soluções cosméticas fazem parte dos protocolos, com recurso a marcas como a Biologique Recherche, a Mesoestetic e a portuguesa Ignae.

“Como é que podemos dar sempre mais? Procurando tecnologias inovadoras e produtos cosméticos que, de facto, dêem resultados eficazes. Esta foi sempre a minha adição. De um único protocolo, foi crescendo, foi-se modificando. É uma busca constante”, detalha Inês, que trabalha actualmente com cinco protocolos construídos por si, reservando ainda a opção de construir um tratamento do zero para melhor adaptar a sessão às necessidades do cliente. Os preços começam nos 280€.

Facialista Inês Rebelo
Manuel Manso

Inês chegou a estudar engenharia, mas o envolvimento nas clínicas de estética da mãe acabaram por se revelar irreversíveis. “Lembro-me de ir, do cheiro dos cremes, do atendimento às clientes. Mas sempre tentei afastar-me o máximo possível dali. Quando a minha mãe ficou doente, saía da faculdade e ia dar uma ajuda a atender uns telefones. Ao fim de uma semana, pensei: agora como é que digo aos meus pais que quero fazer isto para o resto da vida?”.

Hoje vê o seu trabalho como um complemento a outras abordagens da medicina estética. De forma não invasiva, consegue obter resultados na textura da pele, no tamanho dos poros, na redução da rugas ou na reposição da barreira cutânea, o que não significa rejeitar outras formas de tratar estes problemas. “Fazemos sempre essa diferenciação, mas é importante ter as duas abordagens e que as duas convivam sempre que alguém quiser recorrer a ambas. Eu atendo toda a gente, tenha feito ou não procedimentos médicos, com ou sem Botox”, remata.

Numa realidade em que a palavra facialista começa a ser amplamente reconhecida e em que cuidar da pele também já é visto como uma questão de saúde, os objectivos que traça passam todos por continuar a trazer nova tecnologia e avanços cosméticos para dentro do estúdio. Uma experimentação constante que, mais cedo ou mais tarde, culminará no desenvolvimento de uma marca própria. Sempre, claro, de olhos postos no rosto.

O poder das mãos

Sarah Lemos lembra-se bem do dia em que descobriu as maravilhas da massagem facial. “Foi durante a Covid. Eu já seguia aquela que viria a ser a minha professora – a Delphine Langlois. Comprei um gua sha e comecei a fazer certos movimentos. Nunca tinha ouvido falar em massagem facial e, de facto, estava a resultar. Comecei a investigar. Um dia, ela disse-me que ia abrir a primeira escola de facialistas na Europa, em Paris”, começa por contar.

Sarah Lemos, Le Face Studio
Rita ChantreSarah Lemos, Le Face Studio

Para esta francesa, filha de pai português e mãe espanhola, a decisão de regressar a Paris para estudar uma disciplina ainda relativamente desconhecida representou uma mudança de vida bem mais profunda. Na altura, trabalhava como enfermeira nas Urgências Pediátricas do Hospital Dona Estefânia. “Não sabia o que ia fazer, era o trabalho que eu amava. Só que cheguei a um ponto em que não era compatível com a minha vida familiar, com dois filhos. Estava cada vez mais exausta e não queria chegar ao ponto do burnout”, recorda.

No regresso, começou por acumular ambas as vocações – “ainda pior”, com massagens marcadas logo pela manhã, após noites passadas a trabalhar no hospital. A enfermagem acabou por ficar para trás. Veio depois o diploma de facialista e formações em Itália e Espanha, tudo para acumular conhecimento e aperfeiçoar a técnica. “Trabalhei 20 anos e acho que era uma boa enfermeira. Então, precisava de sentir a mesma segurança na área da massagem. Queria ser tão boa como a enfermeira que era”, remata.

A nova profissão acabaria por reconectar Sarah com a anterior. Facialista e enfermeira encontraram-se num mesmo impulso cuidador. Há cerca de um ano, decidiu criar um espaço que agregasse outras facialistas. Nasceu o Le Face Studio, auto-intitulado o primeiro ginásio do rosto do país orientado para promover a beleza natural de cada pessoa. “A nossa grande frase é come as you are e esse é o verdadeiro luxo. As pessoas usam filtros, maquilhagem, unhas falsas, pestanas – pensam que estão a corresponder a um padrão de luxo, mas isso é só uma prisão. Aqui, estamos num ginásio facial e vamos fazer com que a própria pele se potencialize, sem cremes, sem injecções, só com técnica de massagem. Estamos a voltar ao fundamental – limpar a pele, fazer drenagem, tonificar os músculos. Já cheguei a cobrar 200 euros por uma massagem, estou a valorizar as minhas mãos. Há pessoas que pagam 400 ou 500 euros por um tratamento com uma máquina. As minhas mãos valem mais do que isso”, afirma.

Le Face Studio
Rita ChantreSarah Lemos, Le Face Studio

A experiência como enfermeira fê-la partir em vantagem. Existe um conhecimento detalhado da fisiologia do rosto, essencial ao trabalho de um facialista. Hidratar, activar a circulação sanguínea e definir – o processo não é assim tão diferente de quando treinamos qualquer outra parte do corpo e Sarah já se habituou a ilustrar isso da forma mais clara possível. “Quando nutres o músculo, o músculo vai ficar mais definido. As pessoas dizem: a minha pele cai. A pele não cai, o que cai é o que está por baixo. Os músculos vão atrofiando ao longo do tempo, a pele é só um envelope. Quando as pessoas vêem o antes e o depois de uma massagem, vêem que ficam mais cheias e eu não fiz nada à pele. O músculo fica mais definido, vai engordar, a pele vai esticar. Uma vez que as pessoas percebem isto, muda totalmente a forma de perceber o rosto.”

Pela porta entram sobretudo pessoas que procuram uma alternativa à medicina estética invasiva – algumas ficam por aqui, outras acabam mesmo por combinar as duas. Dentro do estúdio, o poder das mãos é sagrado, seja de gua sha em riste ou na aplicação das muitas técnicas que aprendeu a dominar, como a massagem intrabucal, o método kobido (japonês) ou o Stretch & Lift (120€-150€), protocolo criado por Sarah, com acção simultaneamente estética e terapêutica. A facialista recomenda uma massagem a cada 15 dias, embora os resultados beneficiem mais do compromisso a longo prazo do que da frequência intensiva. Tudo, graças à memória muscular.

Do Leste, com amor

Não é preciso tocar à campainha nem entrar num elevador para chegar ao The Face Only. A porta está aberta desde o ano passado e o interior parece-se com um salão de cabeleireiro. Sem tesouras ou secadores, este espaço branco e minimal tem um extenso menu de massagens e tratamentos faciais. Entre mãos vigorosas e tecnologia pesada, o rosto é o centro de todas as atenções.

“O nível da estética em Portugal, digamos, não é muito alto. É uma área que ainda se está a desenvolver”, começa por afirmar Lena Bogacheva, uma das proprietárias do espaço, o primeiro na Europa de uma cadeia que teve origem na Rússia, mas que já se expandiu para a Arménia, Azerbeijão, Cazaquistão e, mais recentemente, para o Dubai. “Fui a um espaço, a outro, e percebi que tínhamos mesmo de abrir algo que tivesse a ver com estética. É um conceito que não existe. O que há são sobretudo clínicas, onde quem quiser fazer algo ao rosto terá de fazê-lo com um médico”, continua. “E nós não somos uma clínica”, esclarece Ilya Zakharevich, a outra metade da dupla que trouxe o The Face Only para Portugal. “Vir a um cosmetologista tem de ser fácil e agradável. Se envolve agulhas, injectáveis, cirurgias, não é connosco”, conclui.

The Face Only
DR

Sem agulhas ou injectáveis, mas com maquinaria pesada. Na base dos tratamentos de rosto estão sempre as massagens manuais. A lista de opções foi pensada para que cada cliente monte a própria experiência, juntando dois ou três momentos, com os preços a oscilar entre os 12€ e os 250€. Depois das mãos, é quase sempre a tecnologia a entrar em acção. A Hydrafacial é uma delas, maquinão capaz de limpar a pele e hidratá-la ao mesmo tempo, tal como o Dermadrop, dispositivo de mesoterapia não invasiva e que Lena garante ser o primeiro da sua espécie a pisar solo nacional. Funciona com ar de alta pressão e com a aplicação de diferentes séruns, escolhidos em função da necessidade de cada pele. O rol continua – microcorrente, terapia com luz LED e, o aparelho mais pequeno de todos, estimulação biomecânica.

Num país onde a relação com a estética é um tanto ou quanto conservadora – pelo menos, foi o que lhes disseram –, o casal surpreendeu-se com o ritmo a que o conceito conquistou clientela portuguesa. Depois de ter atraído sobretudo estrangeiros a viver em Lisboa, nomeadamente americanos, britânicos, franceses e do leste europeu, os locais representam já 70% da carteira de clientes. “Os portugueses dizem-nos: ainda bem que trouxeram este conceito para cá, porque não sabemos como cuidar da nossa pele. E muitos passam várias vezes à porta, olham cá para dentro e umas semanas depois resolvem entrar. E uma vez cá dentro, recebem mais do que um tratamento, recebem uma experiência”, remata Lena.