A primeira tarefa do designer é aprender a ver
Sobre o Config e otras cositas más.“Octavio Paz do ‘O Labirinto da Solidão’ diz que os indígenas, quando Colombo chegou, não viram as caravelas. Elas estavam ali fundeadas, mas não havia cognição para poder representar cerebralmente uma imagem que era absolutamente incompatível com o quadro mental de uma cultura que não tinha elementos para visualizar. Por isso que os gregos diziam que theoria (θεωρία) significa ‘aquele que vê’. A gente só vê o que tem cognição pra ver.”— José GeraldoO Config aconteceu na última semana e tivemos diversos tipos de comentários. Da euforia à crítica, da preocupação com os preços a antigos lembretes.Queria compartilhar uma “visão” um pouco diferente.Não sou antropólogo e não arrisco nada sobre antropologia, mas uma coisa que me fascina nessa disciplina é como as pessoas vivem os fenômenos.Elas não estudam sobre favela em livros. Elas vão a favela.Sinto que nós, designers, temos um vício de analisar fenômenos e eventos do lado de fora. Do lado de quem não assiste, não participa, não entra na roda. É como aquela áurea de superioridade que vem de tempos em tempos; parecida com a “vá ler um livro” em tempos de reality shows:Novas ferramentas? Elas vem e vão. O importante é o que você faz com ela.Se animou com isso? É por isso que a maturidade de design não aumenta.Novos lançamentos? O importante é pensar estrategicamente.De que adiantam ferramentas se você não domina os princípios?E assim parece que tentamos ocultar nossas inseguranças no domínio de habilidades técnicas, nos escoramos em princípios não aplicados no dia a dia, e rejeitamos o novo na tentativa de aparentar inteligência ou superioridade.Mas o ponto nem é esse.Nem tudo que se vê, se enxergaEnxergar um evento de design como lançamento de ferramentas é reducionismo. Não ao evento. Mas a nossa própria capacidade de compreender além.Ao ver um evento como um evento (assim como talvez a antropologia faria), temos infinitas oportunidades. Algumas vêm à mente; como eu poderia:Divulgar melhor as funcionalidades do produto que eu trabalho?Chamar pessoas renomadas da área — assim como o Figma chamou o Jeremy Hindle da série Ruptura — para ensinar pessoas do meu time?Criar novas fontes de receita elevando a voz de Design da empresa?Transmitir a missão e visão de Design de uma forma cativante?Conquistar pessoas para quererem trabalhar comigo?Ensinar como usar novas funcionalidades de forma aprofundada (e interativa!) e criar um senso de pertencimento e colaboração?Ajudar a aumentar o valor de marca da minha empresa?Ver um evento com a “antena” ligada nos faz enxergar muito mais do que apenas lançamentos de ferramentas.“Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.”— Rubem Alves. Texto A Complicada Arte de Ver (ou em vídeo).Esse pensamento não é uma crítica às análises e reflexões que surgiram. É um alerta.Será que estamos querendo fazer uma crítica real? Ou estamos, pouco a pouco, míopes de oportunidades e usando óculos com lentes de ameaças?Força, designers.Porque é preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê.E você? Conseguiu tirar alguma lição do Config além de ferramentas? Me conta :)ClicouSe for ver um link essa semana, veja esse.Que a Work & Co é referência em design todos sabemos.O que talvez você não saiba é que eles publicaram um documento contando mais da sau abordagem própria para criar produtos digitais.Eu não só leria como baixaria o PDF — nunca se sabe quando um ouro desse pode sair do ar.Principles Over Process: The Work & Co Approach to Superior Digital ProductsPra viagemLeve com você nessa semana.Sabia que a culpa era dos usuários até 1947? Ou que carros e aviões começaram a profissão de UX?Esse post pode te fazer ter mais orgulho de ser designer. Te desafio contar pra colegas e encontrar alguém que já saiba de algum dos fatos.10 poderosos fatos históricos que designers devem saberps: na verdade são 9 fatos. O autor se confundiu rsO que achou dessa edição?Comente ou responda a esse e-mail e vamos conversar :)Nota:O título é uma adaptação de uma frase atribuída a Nietzsche: “A primeira tarefa da educação é ensinar a ver” e o texto de Rubem Alves fala de “olhos de poeta”. “Ver” aqui nesse texto não é literal — tanto que posso dizer que conheço profissionais com deficiência visual que “veem” melhor do que eu. “Ver” ou “enxergar” aqui é no sentido de interpretar, perceber, sentir. Acredito que usar outro termo pra evitar capacitismo, seria justamente acreditar que você que me lê não tem a capacidade de “ver” e interpretar o título além do literal. Agradeço o aviso e a sensibilidade de pessoas como Marina Oliveira que “viram” problemática no título, mas nesse caso, o título também faz parte da mensagem.

Sobre o Config e otras cositas más.

“Octavio Paz do ‘O Labirinto da Solidão’ diz que os indígenas, quando Colombo chegou, não viram as caravelas. Elas estavam ali fundeadas, mas não havia cognição para poder representar cerebralmente uma imagem que era absolutamente incompatível com o quadro mental de uma cultura que não tinha elementos para visualizar. Por isso que os gregos diziam que theoria (θεωρία) significa ‘aquele que vê’. A gente só vê o que tem cognição pra ver.”
— José Geraldo
O Config aconteceu na última semana e tivemos diversos tipos de comentários. Da euforia à crítica, da preocupação com os preços a antigos lembretes.
Queria compartilhar uma “visão” um pouco diferente.
Não sou antropólogo e não arrisco nada sobre antropologia, mas uma coisa que me fascina nessa disciplina é como as pessoas vivem os fenômenos.
Elas não estudam sobre favela em livros. Elas vão a favela.
Sinto que nós, designers, temos um vício de analisar fenômenos e eventos do lado de fora. Do lado de quem não assiste, não participa, não entra na roda. É como aquela áurea de superioridade que vem de tempos em tempos; parecida com a “vá ler um livro” em tempos de reality shows:
- Novas ferramentas? Elas vem e vão. O importante é o que você faz com ela.
- Se animou com isso? É por isso que a maturidade de design não aumenta.
- Novos lançamentos? O importante é pensar estrategicamente.
- De que adiantam ferramentas se você não domina os princípios?
E assim parece que tentamos ocultar nossas inseguranças no domínio de habilidades técnicas, nos escoramos em princípios não aplicados no dia a dia, e rejeitamos o novo na tentativa de aparentar inteligência ou superioridade.
Mas o ponto nem é esse.
Nem tudo que se vê, se enxerga
Enxergar um evento de design como lançamento de ferramentas é reducionismo. Não ao evento. Mas a nossa própria capacidade de compreender além.
Ao ver um evento como um evento (assim como talvez a antropologia faria), temos infinitas oportunidades. Algumas vêm à mente; como eu poderia:
- Divulgar melhor as funcionalidades do produto que eu trabalho?
- Chamar pessoas renomadas da área — assim como o Figma chamou o Jeremy Hindle da série Ruptura — para ensinar pessoas do meu time?
- Criar novas fontes de receita elevando a voz de Design da empresa?
- Transmitir a missão e visão de Design de uma forma cativante?
- Conquistar pessoas para quererem trabalhar comigo?
- Ensinar como usar novas funcionalidades de forma aprofundada (e interativa!) e criar um senso de pertencimento e colaboração?
- Ajudar a aumentar o valor de marca da minha empresa?
Ver um evento com a “antena” ligada nos faz enxergar muito mais do que apenas lançamentos de ferramentas.
“Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.”
— Rubem Alves. Texto A Complicada Arte de Ver (ou em vídeo).
Esse pensamento não é uma crítica às análises e reflexões que surgiram. É um alerta.
Será que estamos querendo fazer uma crítica real? Ou estamos, pouco a pouco, míopes de oportunidades e usando óculos com lentes de ameaças?
Força, designers.
Porque é preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê.
E você? Conseguiu tirar alguma lição do Config além de ferramentas? Me conta :)
Clicou
Se for ver um link essa semana, veja esse.
Que a Work & Co é referência em design todos sabemos.
O que talvez você não saiba é que eles publicaram um documento contando mais da sau abordagem própria para criar produtos digitais.
Eu não só leria como baixaria o PDF — nunca se sabe quando um ouro desse pode sair do ar.
Principles Over Process: The Work & Co Approach to Superior Digital Products


Pra viagem
Sabia que a culpa era dos usuários até 1947? Ou que carros e aviões começaram a profissão de UX?
Esse post pode te fazer ter mais orgulho de ser designer. Te desafio contar pra colegas e encontrar alguém que já saiba de algum dos fatos.
10 poderosos fatos históricos que designers devem saber
ps: na verdade são 9 fatos. O autor se confundiu rs


O que achou dessa edição?
Comente ou responda a esse e-mail e vamos conversar :)
Nota:
O título é uma adaptação de uma frase atribuída a Nietzsche: “A primeira tarefa da educação é ensinar a ver” e o texto de Rubem Alves fala de “olhos de poeta”. “Ver” aqui nesse texto não é literal — tanto que posso dizer que conheço profissionais com deficiência visual que “veem” melhor do que eu. “Ver” ou “enxergar” aqui é no sentido de interpretar, perceber, sentir. Acredito que usar outro termo pra evitar capacitismo, seria justamente acreditar que você que me lê não tem a capacidade de “ver” e interpretar o título além do literal. Agradeço o aviso e a sensibilidade de pessoas como Marina Oliveira que “viram” problemática no título, mas nesse caso, o título também faz parte da mensagem.
A primeira tarefa do designer é aprender a ver was originally published in UX Collective