'Portugal Pop' chega ao MUDE com 50 anos de moda
A exposição 'Portugal Pop: A Moda em Português' instala-se em Lisboa após seis meses no WoW em Matosinhos. Com novas peças, convida a olhar para a roupa como uma manifestação cultural e histórica.


O que é a identidade nacional e como é que nos influencia? Como é que a moda se alterou face às mudanças económicas e políticas do país? O que é que significa ser português? As questões flutuam na nossa mente e vão encontrando respostas à medida que exploramos a nova exposição do MUDE. Em conjunto com a Casa do Design de Matosinhos, "Portugal Pop: A Moda em Português", que pode ser vista a partir de sexta-feira, 21 de Março, chega à capital para nos fazer reflectir sobre a moda e o que ela tem representado nos últimos 50 anos. Entre 140 coordenados de diferentes designers, o Museu do Design e da Moda leva o visitante numa viagem no tempo que tem início nos anos 1970 e só termina cinco décadas depois – agora.
“Com esta exposição, pretende-se compreender como é que a moda portuguesa expressa a ruptura e vanguarda ligadas à moda e como espelha a nossa memória colectiva, sendo plasmada na nossa cultura visual”, escreve a directora do museu e curadora da mostra Bárbara Coutinho no seu Ensaio Curatorial, onde explora o contexto que levou à execução desta exposição e a complexidade teórica que envolveu este trabalho. Portugal Pop é "um termo ambíguo": refere-se a pop como uma abreviatura de popular mas também como uma cultura designada para o consumo de massas. No mesmo texto, a especialista explica ainda que a exposição é um trabalho em aberto, “uma plataforma que queremos dinamizar (…) com debates, com conversas, com visitas, com encontros”.
Embalados por uma trilha sonora compilada ao longo de 20 anos pelo realizador Tiago Pereira (criador do projecto A Música Portuguesa A Gostar Dela Própria), os visitantes têm três núcleos temáticos para atravessar no primeiro piso do MUDE. O primeiro chama-se Memória Coletiva e Identidade Nacional e abre logo com um conjunto de saia e blusa que não podia ser mais português: assinado por Luís Buchinho, tem um Galo de Barcelos bordado. Também damos de caras com os típicos vestidos em preto integral de Amália Rodrigues, homenagens em tecido à dolorosa história de amor de D. Pedro I e D. Inês de Castro e roupas inspiradas na arte barroca.
A cultura nacional é ainda representada pelos fatos de António Variações, os lenços dos namorados em t-shirts e bordados de Castelo Branco e Viana do Castelo da pioneira Maria-Thereza Mimoso e reinterpretações mais modernas de Nuno Gama da imagem de Amália. A literatura portuguesa ao serviço da moda vê-se, por exemplo, nos vestidos de José Carlos e Storytailors inspirados em Fernando Pessoa.
Do geral para o particular
Entramos no segundo núcleo: Territórios Pessoais: A Intersubjetividade na 1ª Pessoa do Singular. Aqui, as memórias pessoais cruzam-se com a nostalgia e a tradição nacional, mostrando peças únicas. Voltamos ao negro integral de Amália com colecções de Maria Gambino e Dino Alves, que fizeram conjuntos com objectos do nosso quotidiano: bolsas, lenços, atacadores ou alfinetes de dama.
Bem presentes estão também os trajes regionais de festividades populares, quer seja na interpretação dos caretos do Alto-Douro e Trás-os-Montes de Luís Buchinho ou em coisas mais reconfortantes como os casacos feitos de cobertores de papa de Alexandra Moura ou Filipe Faísca e a mistura do bordado tradicional de Joana Duarte e Anabela Baldaque.
Numa exposição de cultura pop em Portugal, não poderia faltar um espaço dedicado a Joana Vasconcelos. Famosa pelas suas obras grandiosas, inovadoras e com um toque de provocação, tem usado vestidos de designers portugueses, como Alexandra Moura ou Filipe Faísca, agora aqui expostos ao lado da Barbie que a artista desenvolveu para os Barbie Awards.
Em destaque neste eixo temos também Ana Salazar e Manuela Gonçalves que ajudaram a reformular aquilo que era tomado como feminino – tornando o vestido mais cómodo e interpretando-o de formas diferentes e revolucionárias.
A moda que vem do Portugal profundo
O último núcleo é o Eco-lógico: Antropologia de Lugares, Matérias e Saberes, criado para enaltecer os ofícios antigos no mundo da moda, a sua actualização e sustentabilidade. A questão da sustentabilidade é, aliás, visível durante todo o percurso, com o desperdício de lã que rodeia o chão à volta dos manequins.
Nesta última parte brilha Helena Cardoso e a sua colaboração com artesãs de forma a entender várias técnicas ancestrais, quebrando a dicotomia entre o antiquado e o inovador através de saias, camisas ou perneiras. Destaca-se À Capucha, em que a designer pegou num tradicional molde das capas de burel e adaptou-o para um estilo mais contemporâneo.
Os saberes antigos estão também à vista no projeto Arkhétypon de Miguel Rios, que desafiou vários designers a pegarem em princípios tradicionais da moda portuguesa e adaptá-los. O resultado são ideias tão inovadoras como uma reinterpretação das sete saias da Nazaré juntas numa única saia com várias camadas que pode ser transformada numa mala e muito mais.
Nunca fugindo à portugalidade, temos ainda peças com influências estrangeiras, claro, como a colecção Bestiário de Alexandra Moura. A narrativa da moda não foge à música e há coordenados de Conan Osíris, Sónia Tavares e Cláudia Pascoal, cada um com o seu estilo único, mas sempre com uma forte carga nacional.
Apesar de existirem eixos temáticos, é importante notar que as peças não estão encapsuladas mas sim em diálogo umas com as outras. Para ver até 12 de Outubro
MUDE - Museu do Design e Moda. 21 Mar-12 Out. Ter-Qui 10.00-19.00. Sex-Sáb 10.00-21.00. Dom 10.00-19.00. 11€-15€