O invisível e perfeito estão entre nós em “Natureza Tecida”, de Sandra Anselmi

Nada no trabalho de Sandra Anselmi se impõe como forma acabada. Assim como os fungos se desenvolvem em silêncio sob o solo, sua obra “Natureza Tecida” germinou aos poucos — atravessada pela matéria, pela memória e pelo gesto manual. Iniciada mais de dois anos atrás, a série de esculturas têxteis que hoje se apresenta ao […] O post O invisível e perfeito estão entre nós em “Natureza Tecida”, de Sandra Anselmi apareceu primeiro em Harper's Bazaar » Moda, beleza e estilo de vida em um só site.

May 7, 2025 - 16:57
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O invisível e perfeito estão entre nós em “Natureza Tecida”, de Sandra Anselmi

Sandra Anselmi – Foto: Divulgação

Nada no trabalho de Sandra Anselmi se impõe como forma acabada. Assim como os fungos se desenvolvem em silêncio sob o solo, sua obra “Natureza Tecida” germinou aos poucos — atravessada pela matéria, pela memória e pelo gesto manual. Iniciada mais de dois anos atrás, a série de esculturas têxteis que hoje se apresenta ao público nasceu do encontro entre técnica e intuição, saber e improviso. Como ela mesma descreve, “construo a minha obra de maneira em que as tramas do tricô propõem uma complexidade distinta: cada fio representa um indivíduo; cada nó, um ponto de encontro de histórias e saberes”.

A inspiração para esse processo está no micélio — a parte invisível dos fungos, composta por filamentos que se espalham em rede, formando uma complexa malha de trocas e comunicação. Há quem o considere o primeiro exemplo real de interconectividade, muito antes que a palavra fosse apropriada pela linguagem tecnológica. Aliás, basta pensar: quando se fala em “nuvem”, hoje, o que nos vem à cabeça — o céu ou um servidor digital? A linguagem moderna muitas vezes desconecta os termos de suas raízes naturais, criando significados que apenas tocam a superfície do que essas palavras realmente carregam.

Sandra Anselmi – Foto: Divulgação

Para Sandra, no entanto, o que está sob a terra tem voz. Sua criação parte de uma escuta sensível, não só da natureza ao redor, mas também da natureza que habita o próprio corpo. Ela molda, torce, experimenta e permite que o acaso participe do processo — guiada por uma espécie de inteligência do fazer que transcende a técnica rígida. A artista não se interessa por formas perfeitas, mas por estruturas que respiram, que vibram em rede, que falam por meio do silêncio.

Essa abordagem coloca em xeque ideias que dominaram nossa visão de mundo por séculos: individualidade, autonomia, independência. Em contraponto, o micélio nos lembra da potência da colaboração, da inteligência compartilhada, do apoio mútuo entre organismos. Ele transporta nutrientes entre espécies diferentes, cuida dos mais frágeis, sustenta a vida por meio da conexão. O trabalho de Sandra parece escutar essa sabedoria silenciosa: “Os seres humanos estão interligados por fios invisíveis, conectando elementos como memória, ancestralidade”.

Assim, Natureza Tecida não é apenas uma instalação de esculturas, mas um sistema poético e sensorial que convida à reflexão sobre o modo como vivemos, sentimos e nos relacionamos. Por trás de cada trama, há um gesto de cuidado. Por trás de cada ponto, uma escuta.

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