“Descobri minha sexualidade através da música”, diz Marina Lima
A artista, um dos destaques do Lollapalooza 2025, fala sobre maturidade, sexualidade e como suas canções seguem atuais

Marina Lima é uma artista livre! Com mais de quatro décadas de carreira, ela canta e cria canções sobre sexualidade, sociedade e reflexões sobre a complexidade do sentimento humano. Seu primeiro disco, Simples Como Fogo, lançado em 1979, deu início a uma trajetória que transitou entre o pop, rock, blues e música eletrônica.
Ao longo dos anos 1980, consolidou sua carreira com álbuns icônicos como Fullgás, que a projetou para o grande público. Sua parceria de longa data com o irmão, o poeta Antônio Cicero, de quem se despediu em 2024, também foi um marco em sua trajetória musical. Neste fim de semana, Marina se apresenta no Lollapalooza, festival que acontece no Autódromo de Interlagos. Abaixo, confira a entrevista completa:
CLAUDIA: Você tem mais de 40 anos de carreira e já passou por diversas transformações musicais. Como você percebe sua evolução artística do começo até hoje?
Sim, passei por algumas transformações musicais e, ao todo, tenho 22 discos lançados e 45 anos de carreira. A minha música, os meus discos e a minha obra sempre buscaram soar livres e contemporâneos. O que me interessa é tentar descrever o meu tempo. E o meu tempo é um tempo que não é datado. É um tempo de pausas, acelerações e freadas bruscas. É o tempo da vida. Acho que a minha revolução artística vem daí.
CLAUDIA: Fullgás é um hit que marcou a música pop brasileira. Você imaginava que depois de tanto tempo, ela ainda seria atual?
A música tem a capacidade de afagar ou eternizar momentos e pessoas. Meu objetivo sempre foi traduzir meu interior. E esse foi o meu desafio. Fico orgulhosa de ver que Fullgás atravessa gerações e ainda está presente nas pistas de dança por aí.
Você não imagina a quantidade de vídeos que meus amigos me mandam de festinhas e baladas com som dessa música. Os DJs descobriram e perceberam que, ao tocar ela, a pista de dança ferve! Fico orgulhosa de ver que ela ainda soa atual e alegra a vida das pessoas!
CLAUDIA: Você já mencionou que a maturidade trouxe novas perspectivas para sua vida e arte. A idade também mudou sua forma de ver o mundo?
Mudou, sim! Eu já vivi todos os anos anteriores, né?! Já vivi minha infância, minha adolescência, meus 20, 30, 40, 50, 60 anos…. E não fiquei presa nessas idades. A verdade é que sou muito curiosa com as coisas que a vida me mostra ou propõe.
Só comecei a dominar mesmo a minha vida depois dos 60 anos – e vou fazer 70 em setembro deste ano. A maioria das pessoas estão presas a esse problema de envelhecer. A questão principal para mim é manter a minha vida o mais saudável possível para poder desfrutar dessa experiência que é amadurecer. David Bowie tem uma frase linda a respeito: “envelhecer é um processo extraordinário em que você se torna a pessoa que você sempre deveria ter sido“.
Com o tempo, a gente vai se sentindo mais segura e até merecedora de nossas escolhas, com bem menos preocupação do julgamento alheio. Eu quero descobrir o que há de libertador agora, nesse processo e idade em que me encontro. Quero seguir cuidando da minha saúde, exercer minha empatia, sempre trocando com meus amigos e com meu amor.
CLAUDIA: A liberdade sempre foi um tema forte na sua trajetória, tanto na arte quanto na vida pessoal. O que significa ser uma mulher livre?
Sempre me senti livre e ainda me sinto! Na verdade, o maior preço que paguei durante esses anos todos foi o de ser mulher. Desde o início de minha carreira, o fato de eu ser mulher já criava uma tensão e a desigualdade se estabelecia de cara. Hoje mudou, está caminhando para um lugar mais justo, mas ainda não está tudo dominado.
Sinto orgulho das mulheres, da população LGBTQIAPN + e dos pretos também. Toda a nossa maioria – porque somos maioria mesmo, está levando adiante essa luta pela liberdade!
CLAUDIA: Em suas letras, há muito espaço para o desejo, a sensualidade e a intensidade dos sentimentos. Como você enxerga o amor e os relacionamentos hoje?
Acredito que o amor e os relacionamentos hoje em dia podem ser exatamente como cada um deseja e quer.
CLAUDIA: Sua parceria com Antônio Cicero rendeu letras marcantes. Após sua passagem, ele ainda deixa esse trabalho sólido que atravessa gerações. Como você percebe isso?
O Cicero partiu repentinamente para todos. Mas a presença dele está por toda parte. Nós fomos irmãos na vida e na arte. Nada de nós era estranho para um ou para o outro. Ele foi coerente com tudo o que pensava até o fim.
Eu fiz mais de 200 músicas com meu irmão. Eu vejo vários outros autores e escritores dizendo que se sentem estrangeiros e é o que acontece quando você não segue a norma: ou você sucumbe àquilo ou inventa um mundo novo – é o que fiz com Cicero. As músicas que compomos falam sobre a nossa vida, sobre uma outra forma de viver e, a partir disso, todos os sonhos do mundo.
Descobri minha sexualidade. Que eu poderia, sim, ser uma mulher bissexual, através da música. Quando Cicero começou a se misturar, a vivenciar a sexualidade dele, e eu a minha, nosso mundo se modificou e isso mudou nossa música. A gente não queria dizer que tem que ser gay ou bissexual. O importante para nós é que cada um achasse a sua tradução e vivesse a sua liberdade. E isso atravessa gerações porque são questões que todos passam em suas vidas. O público se identifica com essas canções.
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