“Descobri minha sexualidade através da música”, diz Marina Lima

A artista, um dos destaques do Lollapalooza 2025, fala sobre maturidade, sexualidade e como suas canções seguem atuais

Mar 28, 2025 - 15:37
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“Descobri minha sexualidade através da música”, diz Marina Lima

Marina Lima é uma artista livre! Com mais de quatro décadas de carreira, ela canta e cria canções sobre sexualidade, sociedade e reflexões sobre a complexidade do sentimento humano. Seu primeiro disco, Simples Como Fogo, lançado em 1979, deu início a uma trajetória que transitou entre o pop, rock, blues e música eletrônica​. ​

Ao longo dos anos 1980, consolidou sua carreira com álbuns icônicos como Fullgás, que a projetou para o grande público. Sua parceria de longa data com o irmão, o poeta Antônio Cicero, de quem se despediu em 2024, também foi um marco em sua trajetória musical​. Neste fim de semana, Marina se apresenta no Lollapalooza, festival que acontece no Autódromo de Interlagos. Abaixo, confira a entrevista completa:

CLAUDIA: ⁠Você tem mais de 40 anos de carreira e já passou por diversas transformações musicais. Como você percebe sua evolução artística do começo até hoje?

Sim, passei por algumas transformações musicais e, ao todo, tenho 22 discos lançados e 45 anos de carreira. A minha música, os meus discos e a minha obra sempre buscaram soar livres e contemporâneos. O que me interessa é tentar descrever o meu tempo. E o meu tempo é um tempo que não é datado. É um tempo de pausas, acelerações e freadas bruscas. É o tempo da vida. Acho que a minha revolução artística vem daí.

CLAUDIA: Fullgás é um hit que marcou a música pop brasileira. Você imaginava que depois de tanto tempo, ela ainda seria atual?

A música tem a capacidade de afagar ou eternizar momentos e pessoas. Meu objetivo sempre foi traduzir meu interior. E esse foi o meu desafio. Fico orgulhosa de ver que  Fullgás atravessa gerações e ainda está presente nas pistas de dança por aí. 

Você não imagina a quantidade de vídeos que meus amigos me mandam de festinhas e baladas com som dessa música. Os DJs descobriram e perceberam que, ao tocar ela, a pista de dança ferve! Fico orgulhosa de ver que ela ainda soa atual e alegra a vida das pessoas!

CLAUDIA: Você já mencionou que a maturidade trouxe novas perspectivas para sua vida e arte. A idade também mudou sua forma de ver o mundo?

Mudou, sim! Eu já vivi todos os anos anteriores, né?! Já vivi minha infância, minha adolescência, meus 20, 30, 40, 50, 60 anos…. E não fiquei presa nessas idades. A verdade é que sou muito curiosa com as coisas que a vida me mostra ou propõe

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Só comecei a dominar mesmo a minha vida depois dos 60 anos – e vou fazer 70 em setembro deste ano. A maioria das pessoas estão presas a esse problema de envelhecer. A questão principal para mim é manter a minha vida o mais saudável possível para poder desfrutar dessa experiência que é amadurecer. David Bowie tem uma frase linda a respeito: envelhecer é um processo extraordinário em que você se torna a pessoa que você sempre deveria ter sido“.

Com o tempo, a gente vai se sentindo mais segura e até merecedora de nossas escolhas, com bem menos preocupação do julgamento alheio. Eu quero descobrir o que há de libertador agora, nesse processo e idade em que me encontro. Quero seguir cuidando da minha saúde, exercer minha empatia, sempre trocando com meus amigos e com meu amor. 

CLAUDIA: ⁠A liberdade sempre foi um tema forte na sua trajetória, tanto na arte quanto na vida pessoal. O que significa ser uma mulher livre?

Sempre me senti livre e ainda me sinto! Na verdade, o maior preço que paguei durante esses anos todos foi o de ser mulher. Desde o início de minha carreira, o fato de eu ser mulher já criava uma tensão e a desigualdade se estabelecia de cara. Hoje mudou, está caminhando para um lugar mais justo, mas ainda não está tudo dominado. 

Sinto orgulho das mulheres, da população LGBTQIAPN + e dos pretos também. Toda a nossa maioria – porque somos maioria mesmo, está levando adiante essa luta pela liberdade! 

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CLAUDIA: ⁠Em suas letras, há muito espaço para o desejo, a sensualidade e a intensidade dos sentimentos. Como você enxerga o amor e os relacionamentos hoje?

Acredito que o amor e os relacionamentos hoje em dia podem ser exatamente como cada um deseja e quer. 

Reprodução/Instagram
Marina Lima e Antônio CiceroReprodução/Instagram/Reprodução

CLAUDIA: ⁠Sua parceria com Antônio Cicero rendeu letras marcantes. Após sua passagem, ele ainda deixa esse trabalho sólido que atravessa gerações. Como você percebe isso?

O Cicero partiu repentinamente para todos. Mas a presença dele está por toda parte. Nós fomos irmãos na vida e na arte. Nada de nós era estranho para um ou para o outro. Ele foi coerente com tudo o que pensava até o fim.

Eu fiz mais de 200 músicas com meu irmão. Eu vejo vários outros autores e escritores dizendo que se sentem estrangeiros e é o que acontece quando você não segue a norma: ou você sucumbe àquilo ou inventa um mundo novo – é o que fiz com Cicero. As músicas que compomos falam sobre a nossa vida, sobre uma outra forma de viver e, a partir disso, todos os sonhos do mundo.

Descobri minha sexualidade. Que eu poderia, sim, ser uma mulher bissexual, através da música. Quando Cicero começou a se misturar, a vivenciar a sexualidade dele, e eu a minha, nosso mundo se modificou e isso mudou nossa música. A gente não queria dizer que tem que ser gay ou bissexual. O importante para nós é que cada um achasse a sua tradução e vivesse a sua liberdade. E isso atravessa gerações porque são questões que todos passam em suas vidas. O público se identifica com essas canções.

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