Das conservas à publicidade, a sardinha tem muita história para contar no Padrão dos Descobrimentos
A 11 de Maio, inaugura, no monumento em Belém, uma exposição sobre a história deste peixe, que está tão presente na cultura portuguesa. Para entrar no espírito dos Santos e ver até ao final do ano.


A sardinha é talvez o peixe mais associado à cultura portuguesa. É nos nossos mares que a pescamos e é nas ruas, ao longo do Verão, mas em especial na época dos Santos Populares, que lhes sentimos o cheiro e o sabor, depois de acabadas de grelhar. E além de ser uma iguaria da gastronomia nacional, é também um símbolo da cidade e do país, que já foi muitas vezes utilizado como objecto político. É um peixe que conta muitas histórias e, por isso, é o ponto central de "O Milagre da Sardinha – Memórias e Mistérios de um Ícone Nacional", a mais recente exposição no Padrão dos Descobrimentos. Inaugura este domingo, 11 de Maio.
A exposição tem curadoria e coordenação científica de Francisco Henriques e procura representar as diferentes gerações que tornaram a sardinha acessível a todos, através de uma viagem que vai da presença deste peixe no mar português ao seu processo de conserva e à publicidade. Cada núcleo baseia-se num verbo de ação, associado a tarefas relacionadas com a sardinha.
O primeiro núcleo parte do verbo alimentar e debruça-se sobre os primórdios da venda da sardinha em Portugal, levando-nos ao Império Romano, altura em que o garum, molho de peixe fermentado que tinha como base a sardinha, era produzido em Lisboa, então designada de Olisipo, e distribuído por todo o império. Seguem-se passagens pelo século XIV e pelo final do século XIX, em que a crise financeira levou ao aumento dos impostos sobre a sardinha. Aqui, entre outras imagens, vamos poder ver uma fotografia de Amadeu Ferrari, que data entre 1950 e 1970 e que ilustra duas mulheres a vender sardinhas.
A secção seguinte parte do verbo viajar e procura dar-nos conta de como nasceram e evoluíram as conservas que conhecemos hoje, que no final do século XIX e início do século XX se destinavam a abastecer o mercado francês. As primeiras a aparecer destacavam-se pelas ilustrações fantásticas e naturalistas, que davam primazia a figuras como a rainha Cleópatra ou a deusa Vénus, ou noutros casos figuras portuguesas, como as varinas ou minhotas adornadas com filigrana. A partir da década de 1930, as marcas portuguesas passam a ter a denominação obrigatória de Sardinhas Portuguesas, como se pode ver no anúncio da Fábrica Nun’Álvares exposto. Também em exposição, está a primeira campanha publicitária de conservas de sardinha, desenhada, em 1935, por Raul Caldevilla.
A mostra prossegue depois para as técnicas de pesca, que vão das mais tradicionais às mais modernas, com destaque para a pesca de cerco, fundamental para a sustentabilidade económica e social do litoral. Uma das fotografias que acompanha este núcleo, do Arquivo Municipal de Lisboa e tirada por Artur Pastor, mostra-nos, precisamente, um grupo de mulheres a puxar uma rede do mar.
O verbo preservar toma conta do penúltimo núcleo, que se vira para questões como a gestão de stock de sardinha, que desde 2021 é feita entre Portugal e Espanha, e a monitorização da sardinha, a partir de campanhas científicas na costa portuguesa. O último núcleo da exposição é dedicado ao carácter simbólico da sardinha no contexto da cidade e das Festas de Lisboa, bem como da forma como continua a ser reinventada em vários objectos.
“O Milagre da Sardinha – Memórias e Mistérios de um Ícone Nacional” está patente até 30 de Dezembro e, até lá, inclui actividades complementares pensadas para toda a família. A primeira é a 1 de Junho e inclui uma sessão de leitura do livro A Sardinha no Meio dos Tubarões!. No fim do mês, a 29, os mais novos são convidados a criar o seu próprio cartaz publicitário da sardinha. As actividades estão sujeitas a marcação prévia através dos contactos disponíveis no site do Padrão dos Descobrimentos.
Avenida Brasília (Belém). 11 Mai-30 Dez. Seg-Dom 10.00-19.00 (Março-Setembro), Seg-Dom 10.00-18.00 (Outubro-Fevereiro). 2,50€-5€