Costurando um “Escândalo Íntimo”: o visual que traduziu o álbum de Luísa Sonza 

Quem são os stylits por trás do conceito estético da nova era da cantora. The post Costurando um “Escândalo Íntimo”: o visual que traduziu o álbum de Luísa Sonza  appeared first on NOIZE | Música do site à revista.

May 6, 2025 - 18:03
 0
Costurando um “Escândalo Íntimo”: o visual que traduziu o álbum de Luísa Sonza 

Quando sobe ao palco, Luísa Sonza sabe que cada elemento de sua performance conta uma história. Da escolha das músicas à coreografia, tudo é pensado para transmitir uma narrativa — e os figurinos têm um papel fundamental nesse processo.  

Com o lançamento de Escândalo Íntimo (2023), a cantora tinha duas certezas: queria se mostrar mais vulnerável e, ao mesmo tempo, resgatar suas raízes no interior. Nascida em Tuparendi, no Rio Grande do Sul, uma cidade de cerca de 7 mil habitantes, Luísa trouxe essa referência para a estética da nova era.  

NRC+ lança Escândalo Íntimo em vinil

“A Luísa pensa em cada detalhe, não só das canções, mas também do figurino. Para esse momento, queríamos algo que trouxesse a ideia de ‘princesa do interior’, e trabalhamos por dois anos para construir esse conceito”, explica Victor Miranda, stylist da artista há cinco anos.  

Para traduzir essa estética, Miranda mergulhou em uma pesquisa minuciosa. “Buscamos referências nas cantoras dos anos 2000, no boho chic e no western. Também garimpei muitas peças em brechós para trazer essa vibe vintage que o álbum pedia. E tudo passava pela Luísa. Brinco que ela era nossa Anna Wintour”, conta.  

Outro ponto fundamental era transmitir a vulnerabilidade presente nas letras, em que a artista canta sobre anseios e crises pessoais, como, por exemplo, sua ansiedade e saúde mental. Em faixas como “Principalmente me Sinto Arrasada” ou “Campo de Morango”, esses temas ganham tons lúdicos, quase oníricos.  

O desafio foi atrelar a estética cowgirl à inocência dela, tudo isso para remeter à Luísa do interior, não à estrela pop. Para essas canções, optamos por peças leves, em tons claros, que contrastavam com os momentos mais intensos do show, mas que também transmitisse leveza”, acrescenta.  

O estilo pop  

Moda e música são formas de expressão que, quando combinadas, amplificam a mensagem de um artista. No universo pop, essa conexão ajuda a construir narrativas tanto visuais como sonoras.  

A estilista Mayari Jubini, criadora da Artemisi Gallery, já fez peças para famosas como Katy Perry, Demi Lovato, Anitta e Gloria Groove. E Também trabalhou com Luísa durante as eras Doce22 (2021) e Escândalo Íntimo. “Foi uma transição muito forte de imagem, eu diria. No segundo álbum, Luísa estava com looks mais pesados e os cabelos platinados. No Escândalo, ela já quis trazer essa vibe mais do campo, bucólica e mais leve”, explica.  

“Nessa fase, ela trabalha muito com couro, corsetes, botas e chapéus de cowboy. São arquétipos imagéticos muito usados por divas pop atuais como Olivia Rodrigo, com sua regata branca e hot pants, Chappell Roan, com seus looks de drag queen ou Sabrina Carpenter, com sua estética de pin-up moderna. A ideia é que, ao bater o olho em uma peça, o fã pense: ‘Isso aqui remete ao álbum ou ao momento da minha cantora preferida’”, pontua.  

Arquétipos imagéticos são construções visuais que evocam símbolos e narrativas reconhecíveis pelo público, ajudando a reforçar a identidade de um artista. No pop, eles são essenciais para criar personagens icônicos: Madonna explorou a figura da “Material Girl” e da “Santa e Pecadora”; Britney Spears se tornou o ícone da “Menina Americana” antes de assumir uma imagem mais rebelde; Beyoncé transita entre a “Rainha Poderosa” e a “Divindade Afrofuturista”. Lady Gaga, por sua vez, usa a moda para encarnar diferentes personas, da androide de Born This Way (2011) à estética mística de Mayhem (2025).  

“No caso de Luísa Sonza, o figurino de Escândalo Íntimo reforça o arquétipo da ‘princesa do interior’, resgatando sua origem sulista enquanto dialoga com tendências contemporâneas como o boho chic e o western”, conclui o stylist.  

De uma diva do campo para outra

Enquanto montava o moodboard de referências para a última era, Victor Miranda se deparou com peças de couro detalhadas e camisetas customizadas. “Foi quando descobri a estilista Lígia Morris — ela acabou sendo o fio condutor para a estética que a gente procurava para o álbum”, revela.

Com cinturas baixas, t-shirts recortadas e looks ousados, a estética dos anos 2000 marcou uma geração — e Lígia teve um papel fundamental nessa construção. A brasileira com sua marca, a Primal Stuff, vestiu nomes como Shakira, Jennifer Lopez, Lady Gaga, Iggy Pop, Guns N’ Roses e Cher. Hoje, vive em uma fazenda orgânica no interior de Minas Gerais. “Passo metade do meu tempo cuidando das coisas da fazenda e a outra metade no meu ateliê… Uma coisa meio Hannah Montana, talvez”, brinca, ao telefone.

Foi nos Estados Unidos que ela começou a trabalhar com moda: primeiro reciclando roupas, depois desenhando coleções para marcas locais. Aos poucos, passou a vender suas criações em couro na Trash & Vaudeville, loja da cena punk e rocker em Nova York, frequentada por nomes importantes do pop e do rock nas décadas de 70 e 80 — incluindo a cantora Cher.

“Ela foi à loja, gostou das minhas peças e quis saber quem eu era”, relembra. “Pegou meu número, me ligou e pediu um catálogo. Meu marido na época não acreditou que era ela no telefone, mas no fim ela encomendou 40 peças”.

E com a retomada dos anos 2000 na moda, o trabalho da estilista, que já era amplamente aclamado, ganhou ainda mais notoriedade no Brasil após fazer criações exclusivas para Luisa Sonza e também para Marina Sena, durante a turnê da cantora pela Europa. 

Ligia e Victor trabalharam juntos para confeccionar as peças que marcaram essa era da cantora, como o vestido branco estruturado usado durante o Grammy Latino, o conjunto de vaqueira com detalhes em coração ou no Prêmio Multishow, com um corselete em couro com calça de cintura baixa. 

“Foi engraçado porque quando o Victor começou a me mandar algumas referências, ele acabou mandando peças que fiz. Mas foi um trabalho muito legal e como vivo mais afastada da cidade, ele me mandou as medidas e fui fazendo. Não precisou de nenhuma alteração”, celebra. 

Morris toma o cuidado para cada peça ser única, desde o corte do tecido até a costura, tudo é feito a mão, com uma mistura que ela diz ser meio fetichista e meio apocalíptica. 

“É um trabalho manual que não se vê com tanta frequência. Esse cuidado todo que tenho e esse estilo foi muito copiado, mas não é a mesma coisa”, pontua a estilista. 

A nova era? 

Com o encerramento da turnê de Escândalo Íntimo, Victor já trabalha ao lado de Luísa na criação da próxima identidade visual. “O que eu sei é que ela vai começar o camping para o novo álbum, ainda iremos discutir todo o conceito. Quando a estética de um trabalho já está consolidada, ela começa a buscar o que vem depois”, explica.  

Se a era Escândalo Íntimo expôs suas fragilidades com um visual que flertava com a doçura e a força da mulher do interior, o que virá a seguir continua engatinhando para algo. 

Mas uma coisa é certa: a próxima fase vai, mais uma vez, passar pelo corpo, pela roupa e pelo desejo de contar uma história através da imagem.

The post Costurando um “Escândalo Íntimo”: o visual que traduziu o álbum de Luísa Sonza  appeared first on NOIZE | Música do site à revista.