Azzas 2154 rumo a uma moda mais inclusiva, circular e transparente

A fusão entre a Arezzo&Co e o Grupo SOMA deu origem ao Azzas 2154, hoje o maior grupo de moda da América Latina. Com uma cadeia produtiva extensa, marcas com forte presença no varejo e consumidores cada vez mais atentos às práticas das empresas, a sustentabilidade tornou-se um eixo estratégico central. À frente dessa missão […] O post Azzas 2154 rumo a uma moda mais inclusiva, circular e transparente apareceu primeiro em Harper's Bazaar » Moda, beleza e estilo de vida em um só site.

May 6, 2025 - 14:36
 0
Azzas 2154 rumo a uma moda mais inclusiva, circular e transparente

Sustentabilidade em escala! Azzas 2154 quer transformar a moda brasileira – Foto: Pexels

A fusão entre a Arezzo&Co e o Grupo SOMA deu origem ao Azzas 2154, hoje o maior grupo de moda da América Latina. Com uma cadeia produtiva extensa, marcas com forte presença no varejo e consumidores cada vez mais atentos às práticas das empresas, a sustentabilidade tornou-se um eixo estratégico central. À frente dessa missão está Suelen Joner, head de ESG do grupo. Nesta entrevista, ela detalha os principais pontos do primeiro Relatório de Sustentabilidade da companhia, fala sobre os desafios de integrar legados distintos, metas ambiciosas como o Net Zero até 2050 e o compromisso com uma moda mais inclusiva, circular e transparente. Um retrato de como a moda brasileira pode ser vanguarda — não só em estilo, mas também em responsabilidade.

HBB – O primeiro Relatório de Sustentabilidade do Azzas 2154 marca uma nova fase do grupo. Quais foram os principais desafios e aprendizados na consolidação das práticas ESG após a fusão entre Arezzo&Co e Grupo SOMA?

SJ – Todo o processo de consolidação das práticas ESG, com legados tão relevantes, em uma só visão estratégica e operacional exigiu uma escuta ativa, um olhar apurado para as conquistas de cada marca e, principalmente, o cuidado de garantir que todas as frentes continuassem evoluindo juntas e com consistência.

Nosso principal aprendizado foi entender que a diversidade de experiências e práticas pré-existentes era um ativo valioso, o que nos permitiu acelerar a construção de um modelo robusto, sistêmico e coletivo de sustentabilidade. A integração das BUs, com autonomia e metas comuns, fortaleceu nossa capacidade de gerar impacto positivo em larga escala, sempre com consistência.

HBB – O grupo definiu metas bastante ambiciosas, como o Net Zero até 2050. Quais são hoje os maiores obstáculos para atingir esse objetivo — especialmente no que diz respeito às emissões de escopo 3?

SJ – Sem dúvida, o maior desafio está nas emissões de escopo 3, que representam a maior parcela da nossa pegada de carbono e abrangem etapas da cadeia sobre as quais temos influência, mas não controle direto — como fornecedores, transporte, uso e descarte de produtos. A complexidade da cadeia de valor da moda, com múltiplos níveis de fornecedores e grande variabilidade geográfica, exige um esforço constante e articulado de engajamento, rastreabilidade, inovação e gestão de riscos.

Para enfrentar esse desafio, estruturamos nossa atuação com ações como a rastreabilidade completa até 2030 e 2040, com 100% do couro rastreado até a fazenda de cria em 2030 e 100% do algodão rastreado até 2040. Essa ação nos permite maior visibilidade da cadeia produtiva e possibilita a mitigação de riscos sociais, ambientais e climáticos associados às matérias-primas.
Outro passo importante é o engajamento da cadeia de fornecimento com metas baseadas na ciência (SBTi). Até 2040, buscamos engajar 100% dos fornecedores relevantes a adotarem metas climáticas alinhadas à ciência. Esse processo está planejado e deve envolver capacitação técnica, incentivo à inovação em processos de menor impacto e auditorias para garantir transparência e aderência às metas.

A companhia também investe em inovação em materiais e circularidade, com pesquisa e desenvolvimento de matérias-primas de menor impacto, como tecidos reciclados ou regenerativos. Promovemos circularidade por meio de projetos de reinserção de resíduos na cadeia produtiva, além de ações como o redesenho de produtos para facilitar o reuso e a reciclagem. A meta de implementar logística reversa em 100% das lojas até 2035 reforça esse compromisso com o ciclo completo do produto.

Além disso, a gestão climática da cadeia é um passo importante para a obtenção do Net Zero. Um estudo aprofundado conduzido pelo Azzas 2154 analisou riscos físicos e de transição relacionados ao clima — como escassez de matérias-primas, eventos extremos e vulnerabilidades logísticas. Esse diagnóstico orienta medidas de adaptação e investimentos em resiliência, como o uso de energia renovável nas unidades próprias (100% até 2030) e projetos de reflorestamento e geração de energia limpa para compensação de emissões residuais.

Mantemos também o inventário de GEE atualizado com base no GHG Protocol, o que nos permite monitorar e reportar avanços com rigor técnico. A integração das práticas ESG após a fusão entre Arezzo&Co e Grupo SOMA fortaleceu ainda mais esse plano de ação estruturado, com metas claras para 2030, 2035, 2040 e 2050 — todas voltadas para a transformação sistêmica necessária para atingir o Net Zero. O caminho até 2050 exige consistência, colaboração e coragem para transformar uma indústria historicamente emissora em uma cadeia mais consciente, eficiente e regenerativa.

HBB – A rastreabilidade do couro e o uso de blockchain são iniciativas de destaque no relatório. Como tem sido a receptividade dos fornecedores e como vocês garantem o engajamento de toda a cadeia produtiva nesse processo?

SJ – A receptividade tem sido positiva, mas desafiadora. A rastreabilidade total exige mudanças estruturais, especialmente para fornecedores menores. Por isso, nosso papel tem sido o de educar, apoiar e criar incentivos para a adequação.

Em 2024, 38,6% do couro utilizado na produção de calçados e acessórios da BU Arezzo&Co já era rastreado, e essa expertise está sendo expandida para todo o grupo. O uso de blockchain garante transparência e solidez das informações, fortalecendo a segurança e o comprometimento da cadeia. A auditoria socioambiental obrigatória para 100% dos fornecedores diretos nacionais também tem sido fundamental para esse avanço.

HBB – No pilar social, os investimentos em segurança alimentar e economia criativa são bastante expressivos. Como o grupo mede o impacto dessas ações nas comunidades envolvidas e nas marcas do portfólio?

SJ – O Azzas 2154 entende que o impacto social vai além de iniciativas pontuais — trata-se de gerar transformações consistentes nas comunidades em que está presente. Por isso, adotamos uma abordagem estruturada para medir e acompanhar os resultados dos investimentos sociais, combinando indicadores quantitativos (como número de refeições doadas, projetos financiados e resíduos reaproveitados) com análises qualitativas do engajamento comunitário, fortalecimento de redes locais e transformação de realidades.

Um exemplo de alto impacto é o programa 1P=5P, que desde 2016 transforma cada peça vendida pelas marcas Reserva, Reserva Mini e Reserva Go em cinco pratos de comida para pessoas em situação de insegurança alimentar. Em parceria com o Banco de Alimentos e a Connecting Food, a iniciativa vai além da doação, pois também reduz o desperdício, ao reaproveitar excedentes de mercados e hortifrutis.

Outro exemplo é a Loja dos Sonhos, um modelo de loja social desenvolvido em parceria com o Instituto Costurando Sonhos, que atua na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo. A iniciativa tem como principal objetivo promover o desenvolvimento profissional e a autonomia financeira de mulheres em situação de vulnerabilidade social e violência doméstica. Desde sua criação, a Loja dos Sonhos já impactou mais de 40 mil pessoas, capacitou mais de 1.000 mulheres e gerou mais de R$ 230 mil em receita para a instituição parceira.

O grupo também participa do Pacto Contra a Fome, reforçando seu papel institucional em uma coalizão nacional para erradicar a fome até 2030. Em 2024, a companhia destinou R$ 410 mil à iniciativa, beneficiando projetos como o Quebrada Alimentada, por meio do Instituto Capim Santo.

Na frente da saúde e bem-estar, a Hering mantém há quase 30 anos a campanha “O Câncer de Mama no Alvo da Moda”, revertendo parte das vendas ao IBCC Oncologia — somente em 2024, foram mais de 6.200 peças vendidas.

Já o programa RE-FARM Cria, da FARM Rio, mostra o compromisso com a economia criativa na Amazônia Legal. Em sua terceira edição, 20 projetos comunitários receberam R$ 25 mil cada, totalizando R$ 500 mil investidos — somando 469 iniciativas apoiadas desde o início.

A Fundação Hermann Hering também cumpre papel essencial nesse ecossistema, promovendo moda com propósito. Projetos como o ReTrama, que já ressignificou 412 kg de resíduos têxteis, criam oportunidades para costureiras autônomas e cooperativas locais.
Para acompanhar os impactos dessas ações, o grupo adota uma visão sistêmica que cruza resultados sociais com os valores das marcas envolvidas, reforçando reputação, engajamento dos consumidores e vínculos com as comunidades.

HBB – Diversidade e equidade de gênero aparecem com força nos dados do relatório. Quais práticas internas têm se mostrado mais eficazes para alcançar e manter essa representatividade, especialmente em cargos de liderança?

SJ – A incorporação da diversidade e da inclusão como estratégia transversal tem sido um fator-chave. A integração das diretrizes dos antigos grupos Arezzo&Co e SOMA resultou em metas claras, como a de 28% dos cargos de liderança, a partir da função de gerente, ocupados por pessoas negras, e o compromisso com o movimento Elas Lideram, focando em mulheres na alta liderança.

Iniciativas como cartilhas de letramento inclusivo, treinamentos recorrentes e ações afirmativas foram e continuam sendo fundamentais. Além disso, políticas de mobilidade interna e programas de desenvolvimento criam um pipeline consistente de talentos diversos prontos para cargos de liderança.

HBB – 6. Como você enxerga o papel da moda brasileira na agenda global de sustentabilidade? E de que forma o Azzas 2154 quer contribuir para posicionar o país como referência nesse movimento?

SJ – A moda brasileira tem uma riqueza criativa e cultural única, com potencial para liderar um movimento global que une estilo, identidade e responsabilidade. Acreditamos que ser protagonista da moda latino-americana exige também liderar essa agenda com boas práticas e articulação entre os players do mercado.

Temos trilhado esse caminho com base em nossa estratégia, projetos, movimentos e parcerias setoriais, além de metas atreladas à sustentabilidade que foram incorporadas à remuneração variável dos executivos de todas as unidades de negócio. Ações como o uso de tecnologias limpas, o desenvolvimento de produtos com menor impacto, a rastreabilidade e as metas de Net Zero mostram que é possível fazer moda com propósito. Queremos não apenas inspirar outras empresas, mas também posicionar o Brasil como uma potência criativa e ética na moda global, honrando nossa diversidade e contribuindo ativamente para um futuro mais justo e sustentável.

O post Azzas 2154 rumo a uma moda mais inclusiva, circular e transparente apareceu primeiro em Harper's Bazaar » Moda, beleza e estilo de vida em um só site.