UX na indústria 4.0
Um pouco da minha experiência como designer em um ritmo intenso e contínuo de fábricas.Foto feita por mim na entrada da fábrica Vivix Vidros Planos.Quando pensamos em UX/UI Design, o que vem em nossas cabeças geralmente são apps, plataformas digitais, startups. Tudo muito ágil, fluido, moderno, digital.Agora, imagina colocar esse conceito de design numa fábrica, onde o tempo é dinheiro — não que em outras áreas também não sejam — e qualquer parada no processo custa caro.É nesse cenário que atuei e, em algumas ocasiões, ainda atuo como UX/UI Designer.E sendo sincera com você leitor, é desafiador mas ou mesmo tempo, transformador.Evolução Industrial: da mecanização com força a vapor (Indústria 1.0) até a era atual de sistemas cibernéticos e inteligência artificial (Indústria 4.0) Fonte: Automation MagazineA fábrica não parou para me receberEntrar no universo de indústrias foi sair totalmente da minha zona de conforto como designer.A rotina fabril é intensa, cronometrada, com operações acontecendo o tempo inteiro. Não existe “Vamos dar uma pausa para participar de uma entrevista com o usuário” ou “Vamos parar para fazer esse teste de usabilidade rapidinho aqui”.Tudo precisa ser bem pensado, adaptado e, além de tudo, cuidadoso com o tempo e dinâmica de quem está ali fazendo a engrenagem girar, literalmente.No início, confesso que me senti deslocada. As metodologias que eu dominava precisaram ser repensadas e adaptadas.Eu não poderia chegar com um Design Sprint tradicional de uma semana, se o operador da máquina só podia parar 10 minutos entre uma atividade ou outra.Eu também não poderia marcar reuniões ou planejar pesquisas demoradas se todo minuto ali dentro daquele universo contava como se fosse único, e é. Mas daí a gente repensa, aprende e reaprende a ser resiliente e criativa de verdade.Reflexo meu usando colete de segurança enquanto aguardo para acessar uma área da fábrica.Os desafios no universo fabrilEntre as principais adversidades, estão:A cultura fabril, que valoriza a eficiência acima de tudo (e com razão). Cada hora, minuto, segundo importa, e precisamos nos adaptar a isso.O usuário não tem tempo (ou paciência) para entrevistas longas. É nessa hora que precisamos fazer o que fazemos de melhor como designers, observar.Sistemas mais antigos e pouco intuitivos, que ainda são amplamente utilizados.Stakeholders que, algumas vezes nunca ouviram falar de UX/UI, e tudo certo, a gente explica. Apesar disso, tive sorte com alguns stakeholders que sabiam bastante e davam a devida importância ao design e seus resultados.E mesmo com esses desafios, ou talvez até por conta disso, o impacto do design é imenso quando a gente consegue atuar.Ouvir mais, interromper menosSe tem uma coisa que aprendi nessa jornada, foi observar mais e falar menos.Em alguns casos, um bom shadowing (acompanhar o usuário enquanto ele trabalha) diz muito mais que uma entrevista elaborada. Anotar tudo, observar padrões, listar insights, olhar ao redor, se questionar:Esses operadores analisam dados de qual forma?Qual ferramenta costumam utilizar?Como esses dados são visualizados? Monitor? Celular? Tablet?Quando há um espaço para conversar com alguém, é preciso aproveitar ao máximo, fazer perguntas-chave e sem rodeios.O ponto está na adaptabilidade, não se espera o “momento ideal”, a gente se encaixa nas brechas.Usando metodologias, mas mantendo os pés no chãoÉ possível sim usar metodologias, mas de uma maneira adaptada, mais simplificada.Podemos reduzir um Design Sprint? Claro. Lean Inception? Nossa, vira seu melhor amigo. Prototipação rápida, que mostra valor sem tomar tempo demais das pessoas.E quando há um espaço para um teste, ele acontece em tempo real na fábrica, direto, funcional e prático. E sabe o que acho incrível?Quando você demonstra que está ali para somar, as pessoas dão seu máximo para colaborar.Operadores compartilham suas dores, engenheiros enxergam valor e o design começa, de fato, a fazer parte daquele processo.Registro de um momento especial com o time durante uma dinâmica de cocriação (Lean Inception) utilizando o Miro.Experiências que me marcaramNo universo da indústria 4.0, tive algumas experiências que me marcaram profundamente como profissional. Posso citar duas delas:1. Núcleo de Gestão do Porto Digital. Recife, PETive a oportunidade de atuar como designer no projeto DigitalPE. Em resumo, esse projeto tinha como objetivo promover a Transformação Digital por meio da Inovação Aberta, em pequenas, médias e grandes empresas do estado de Pernambuco.Meu papel, como designer, era conduzir toda a etapa de discovery. Por meio da mediação de workshops, eu precisava, junto a stakeholders e funcionários-chave, descobrir qual era, de fato, o gargalo no fluxo daquela empresa. O problema estava travando um desempenho ideal de resultados.Foi gratificante ver o como, em equipe, através da mediação e das experiências ali compartilhadas, conseguimos identificar o verdadeiro problema e assim resolvê-lo através de inovação.Post do

Um pouco da minha experiência como designer em um ritmo intenso e contínuo de fábricas.

Quando pensamos em UX/UI Design, o que vem em nossas cabeças geralmente são apps, plataformas digitais, startups. Tudo muito ágil, fluido, moderno, digital.
Agora, imagina colocar esse conceito de design numa fábrica, onde o tempo é dinheiro — não que em outras áreas também não sejam — e qualquer parada no processo custa caro.
É nesse cenário que atuei e, em algumas ocasiões, ainda atuo como UX/UI Designer.
E sendo sincera com você leitor, é desafiador mas ou mesmo tempo, transformador.
A fábrica não parou para me receber
Entrar no universo de indústrias foi sair totalmente da minha zona de conforto como designer.
A rotina fabril é intensa, cronometrada, com operações acontecendo o tempo inteiro. Não existe “Vamos dar uma pausa para participar de uma entrevista com o usuário” ou “Vamos parar para fazer esse teste de usabilidade rapidinho aqui”.
Tudo precisa ser bem pensado, adaptado e, além de tudo, cuidadoso com o tempo e dinâmica de quem está ali fazendo a engrenagem girar, literalmente.
No início, confesso que me senti deslocada. As metodologias que eu dominava precisaram ser repensadas e adaptadas.
Eu não poderia chegar com um Design Sprint tradicional de uma semana, se o operador da máquina só podia parar 10 minutos entre uma atividade ou outra.
Eu também não poderia marcar reuniões ou planejar pesquisas demoradas se todo minuto ali dentro daquele universo contava como se fosse único, e é. Mas daí a gente repensa, aprende e reaprende a ser resiliente e criativa de verdade.
Os desafios no universo fabril
Entre as principais adversidades, estão:
- A cultura fabril, que valoriza a eficiência acima de tudo (e com razão). Cada hora, minuto, segundo importa, e precisamos nos adaptar a isso.
- O usuário não tem tempo (ou paciência) para entrevistas longas. É nessa hora que precisamos fazer o que fazemos de melhor como designers, observar.
- Sistemas mais antigos e pouco intuitivos, que ainda são amplamente utilizados.
- Stakeholders que, algumas vezes nunca ouviram falar de UX/UI, e tudo certo, a gente explica. Apesar disso, tive sorte com alguns stakeholders que sabiam bastante e davam a devida importância ao design e seus resultados.
E mesmo com esses desafios, ou talvez até por conta disso, o impacto do design é imenso quando a gente consegue atuar.
Ouvir mais, interromper menos
Se tem uma coisa que aprendi nessa jornada, foi observar mais e falar menos.
Em alguns casos, um bom shadowing (acompanhar o usuário enquanto ele trabalha) diz muito mais que uma entrevista elaborada. Anotar tudo, observar padrões, listar insights, olhar ao redor, se questionar:
- Esses operadores analisam dados de qual forma?
- Qual ferramenta costumam utilizar?
- Como esses dados são visualizados? Monitor? Celular? Tablet?
Quando há um espaço para conversar com alguém, é preciso aproveitar ao máximo, fazer perguntas-chave e sem rodeios.
O ponto está na adaptabilidade, não se espera o “momento ideal”, a gente se encaixa nas brechas.
Usando metodologias, mas mantendo os pés no chão
É possível sim usar metodologias, mas de uma maneira adaptada, mais simplificada.
Podemos reduzir um Design Sprint? Claro. Lean Inception? Nossa, vira seu melhor amigo. Prototipação rápida, que mostra valor sem tomar tempo demais das pessoas.
E quando há um espaço para um teste, ele acontece em tempo real na fábrica, direto, funcional e prático. E sabe o que acho incrível?
Quando você demonstra que está ali para somar, as pessoas dão seu máximo para colaborar.
Operadores compartilham suas dores, engenheiros enxergam valor e o design começa, de fato, a fazer parte daquele processo.
Experiências que me marcaram
No universo da indústria 4.0, tive algumas experiências que me marcaram profundamente como profissional. Posso citar duas delas:
1. Núcleo de Gestão do Porto Digital. Recife, PE
Tive a oportunidade de atuar como designer no projeto DigitalPE. Em resumo, esse projeto tinha como objetivo promover a Transformação Digital por meio da Inovação Aberta, em pequenas, médias e grandes empresas do estado de Pernambuco.
Meu papel, como designer, era conduzir toda a etapa de discovery. Por meio da mediação de workshops, eu precisava, junto a stakeholders e funcionários-chave, descobrir qual era, de fato, o gargalo no fluxo daquela empresa. O problema estava travando um desempenho ideal de resultados.
Foi gratificante ver o como, em equipe, através da mediação e das experiências ali compartilhadas, conseguimos identificar o verdadeiro problema e assim resolvê-lo através de inovação.
2. Mekatronik
Outra experiência que me marcou bastante foi quando atuei como designer pela Mekatronik, uma empresa pioneira em inovação industrial e transformação digital.
Nesse período, fui alocada para trabalhar na Vivix Vidros Planos, uma das mais modernas fábricas de vidros planos do mundo e a única no país com o capital 100% nacional, localizada na cidade de Goiana, em Pernambuco.
Dentre os vários projetos em que pude participar e mediar junto às equipes da Mekatronik e da Vivix, um que me marcou bastante foi o desenvolvimento do Engenheiro Virtual, criado em parceria com a Deloitte e a Amazon Web Services (AWS).
Esse projeto tinha como objetivo integrar dados de produção e qualidade em uma plataforma digital, reduzindo em mais de 80% o tempo de resposta às reclamações dos clientes.
Com a implementação de inteligência artificial, incluindo um chatbot, o projeto melhorou significativamente a eficiência na resolução dos problemas de qualidade. Tive o privilégio de ser a designer responsável por toda a fase de discovery, conduzindo pesquisas, construindo personas-chave e mapeando a jornada do usuário, entregas que trouxeram insumos valiosos para o desenvolvimento e sucesso do projeto.
O projeto foi tão bem recebido que conquistou o Prêmio ABINC de IoT em 2024, ficando em primeiro lugar na categoria “Empresas Consolidadas”, destacando-se pela integração eficiente entre dados de produção e qualidade.
Caso você queira saber mais sobre este projeto e o prêmio.
O que tirei de aprendizado com tudo isso
Design não é só sobre telas bonitas, fluidez digital ou estética moderna. É também sobre observação, escuta, adaptação e principalmente impacto.
Trabalhar como UX/UI designer na Indústria 4.0 me fez valorizar cada segundo com o usuário, a prototipar com propósito. E talvez, o maior aprendizado de todos: entender que, às vezes, a maior inovação que podemos fazer é simplificar.
Ainda tem muito chão de fábrica (literalmente) para caminhar, mas o design já começou a ocupar seu espaço nesse universo fabril.
E se você, designer, assim como eu, tem curiosidade de sair da bolha digital e se jogar no mundo real, saiba que é desafiador, sim. Mas é também uma experiência bastante rica para ser vivida no seu desenvolvimento profissional.
Agradeço sua leitura até aqui. E desejo a nós: coragem, e ainda mais desafios a serem enfrentados.
Referências
Leituras complementares
UX na indústria 4.0 was originally published in UX Collective