Três perguntas: Zepelim & o Sopro do Cão fala sobre o single/clipe “LARA” e a parceria com o selo DoSol
O tema de “LARA” é a tradicional larica que algumas pessoas têm após fumar um charo, que às vezes gera uma nóia ou uma bad trip lombrada em meio a chapação.

A banda Zepelim & o Sopro do Cão, de Campina Grande, entra em uma nova fase com o lançamento de “LARA”, novo single/clipe que marca o primeiro trabalho da banda pelo selo potiguar DoSol. Após o lançamento, a banda entra em estúdio para seguir com a produção de seu novo álbum, que será gravado e lançado pelo selo DoSol, com produção de Capilé (Sugar Kane).
“LARA” é uma música que já faz parte do set list da banda há tempos. Com uma pegada ska tropical e praieira, a faixa se conecta também ao “CARANGUEJO DE AÇUDE”, primeiro álbum do Zepelim & o Sopro do Cão, lançado em janeiro de 2024. “É como se a gente tivesse se despedindo de toda a herança anterior a essa nova formação para estabelecer nossa estética e funcionalidade a partir do que a banda realmente é hoje”, comenta o vocalista Babu.
O tema de “LARA” é a tradicional larica que algumas pessoas têm após fumar um charo, que às vezes gera uma nóia ou uma bad trip lombrada em meio a chapação. “O clipe é um reflexo da música, que passa essas várias sensações, indo de momentos festivos para mais pesados, saindo do ska para o hardcore e o prog, cheio de altos e baixos”, pontua o guitarrista Dede, que assina a direção ao lado do artista visual Bruno Caniello. Joálisson Cunha, conhecido pelo seu papel como Tirolesa na série “Cangaço Novo”, e que agora atua na série “Maria do Cangaço”, marca presença no vídeo capitaneado pela Bode Verde Produções.
“Confesso que fiz muito por mim, pra ter um experimento novo na minha atividade de ator, sabe? Depois de ter feito e acompanhado a produção do clipe até ver o resultado final, estou bem satisfeito de ter experimentado esse tipo de linguagem audiovisual, aonde o foco não está na minha interpretação, mas de como ela compõe a história da música”, comenta Joálisson. “O audiovisual quando bem trabalhado em momentos de vídeos curtos, cria raízes com o ouvinte e atrai mais artistas”, complementa Dede, que fala um pouco mais abaixo junto com Babu.
O tema da música é recorrente na Zepelim, a marijuana. Eu queria entender o uso da ironia ou de histórias que podem ser vistas como engraçadas no universo canábico. Por exemplo, a sinopse do clipe me fez rir e eu acho que isso é proposital. Em contrapartida, o clipe tem, talvez, uma estética mais peculiar e menos irônica, por vários momentos as cores são escuras e a procura do sertanejo por comida beira o desespero e terror (por mais que seja leve e tenha toda a ironia da lombra). Isso foi proposital? E o uso do sertão como fundo também é uma auto referência?!
Dede: Totalmente (haha)! Quando o nosso personagem se encontra sob o efeito da lombra, sua percepção da realidade vai se alterando e se agravando à medida que vai em busca de sua solução. É um reflexo da música, que passa essas várias sensações, indo de momentos festivos para mais pesados, saindo do ska para hardcore e o prog, cheio de altos e baixos. A gente tenta, nas nossas produções, priorizar e valorizar os cenários, locais/regiões dos nossos arredores, que fazem parte da nossa vivência. Como o clipe foi idealizado em um local isolado, onde o nosso protagonista estaria refém do que possui em casa para se alimentar, a gente procurou um local mais afastado da cidade, aqui vizinho, em Barra de Santana (município).
Quais elementos visuais predominam no videoclipe e como eles contribuem para a atmosfera geral da música?!
Dede: Por ser um curta, que é uma espécie de slasher também, o clipe tem esse ar mais sombrio e tal, com esses contrastes entre luz e sombra, cores avermelhadas, acentuando mais esses momentos meio “Suspiria” (1977) da vida. Também tem suas horas mais divertidas, com algumas ações e referências, easter eggs, que estão ali espalhados para formar também o perfil do nosso protagonista, ajudar a especular quem é essa pessoa nessa casa e que vibe ela passa. Ainda dentro dessa lógica de representar elementos da nossa vivência local, tornar aquilo mais nosso, é onde a gente consegue encontrar referências a times locais, como o galo da borborema (Treze Futebol Clube), à própria banda, com o quadro original que deu origem à capa do “CARANGUEJO DE AÇUDE” (2024) e diversos outros elementos da casa e do cenário que são habituais na vida do nordestino, que vive nos arredores da metrópole interiorana (Campina Grande), sua dinâmica rural, com sua vida na fazenda, entre os apegos ao passado e a nostalgia, como com a TV de tubo na sala, e a loucura da modernidade sci-fi representada pela Praia de Campina virtual, ali disposta em sua televisão, referência para quem já assistiu a algum show da banda com projeção… Essa atmosfera sombria e ruidosa corrobora para que a música passe sua ironia, mas também seus momentos mais pesados, algo que ao vivo produz roda de pogo, mosh e muita loucura, principalmente aliada a nossa entrega no palco. Pra arrematar, temos uma surpresa no fim do clipe, uma versão de uma de nossas músicas, feita pelo nosso querido fã de 9 anos de idade, Miguel César.
“LARA” abre um novo momento pra banda, com um novo álbum que sairá em parceria com o DoSol, inclusive gravado em Natal e com produção do Capilé (que é do Sugar Kane, e também da Camarones de Natal). O que muda do primeiro álbum? Existem faixas antigas que nunca foram gravadas novamente ou são novas composições para um novo momento?! O que esperar desse novo álbum?
Dede: Essas novas composições refletem nosso novo momento, um momento de muita urgência para se produzir e fazer acontecer, se aproveitando dessas oportunidades que apareceram em nossa vida. Do final do ano passado pra cá foram muitos infortúnios para a banda e na vida pessoal de cada um, mas também muita coisa boa que veio de repente e precisou ser abraçada. O lançamento de “LARA” é um bom reflexo desse momento que vem sendo vivido, um atribulado fim de ciclo junto a uma nova perspectiva para a banda.
Babu: “LARA” é uma dessas faixas mais antigas e está sendo lançada como single neste momento pré disco, justamente para funcionar como um divisor de águas para a banda. É como se a gente tivesse se despedindo de toda a herança anterior a essa nova formação para estabelecer nossa estética e funcionalidade a partir do que a banda realmente é hoje. Quando falo em divisor de águas, não é como se a gente quisesse matar nosso passado e recriar tudo do zero, mas sim conseguir instaurar uma nova era com músicas totalmente novas e compostas pela banda especialmente para este novo momento. Mas sempre mantendo a nossa pegada de letras, que criam cenários e sons que refletem o imaginário das pessoas que vão ouvir. Alguns sons a gente já toca ao vivo, a galera curte muito e já fomos bastante cobrados pelos fãs para que eles estejam no disco. Então nesse disco novo a gente quer refletir uma maior presença minha enquanto letrista e criador dos conceitos que envolvem o álbum, e também conta com uma presença mais ativa de Dede junto a Igor (baixista) e Igor (guitarrista), pois no primeiro disco Dede era coprodutor, participou ativamente da lapidação do disco, mas não na criação desde a sua raiz. E só depois do disco pronto foi que ele entrou na banda de vez. A ideia de convidar Capilé para a produção foi primeiramente por admirar o trabalho dele como músico e produtor, mas para que ele pudesse de fato capitanear a produção com a responsa que a gente sabe que ele tem. E a partir daí, ajudar a lapidar nossas ideias e arranjos, elevando o som a um nível maior e alcançar um resultado que esteja muito mais dentro dos padrões do mercado da música. Não que a gente queira se colocar dentro de uma caixinha, pelo contrário, nosso desejo é manter nossa essência, nosso sotaque e nossa forma de fazer música, que nunca teve e nem nunca terá fórmula, só que dessa vez com um produtor com larga experiência para reforçar nossa essência a partir do repertório de produção dele. Vale também ressaltar a importância do DoSol nessa nova etapa, deixar um abraço em Foca, Ana, Yves e todo o pessoal que faz aquilo ali funcionar lindamente. Então vem por aí um disco mais maduro, bem mais pesado e bom pra carai, pelo menos eu acho haha espero que a galera curta!
– Diego Albuquerque é o criador do blog Hominis Canidae, um dos maiores repositórios de discos brasileiros da última década. O blog foi criado em 2009, no Recife, e divulga novos artistas e nomes indies da música brasileira, de norte a sul do país.