‘Monsieur Aznavour’: a história de um monumento da canção francesa

Tahar Rahim estudou canto e piano para personificar Charles Aznavour no filme biográfico realizado por Mahdi Idir e Grand Corps Malade, que se estreia esta semana em Portugal após triunfar em França.

Mar 17, 2025 - 19:58
 0
‘Monsieur Aznavour’: a história de um monumento da canção francesa
‘Monsieur Aznavour’: a história de um monumento da canção francesa

Como milhões de outros jovens franceses, Mahdi Idir e Grand Corps Malade (nome artístico do rapper, compositor e realizador Fabien Marsaud) cresceram a ouvir os discos de Charles Aznavour tocados pelos pais. Mas sempre apreciaram essas canções, ao contrário de milhões de outros jovens franceses como eles, que não gostavam da música que os pais ouviam e só mais tarde, quando eram mais crescidos, começaram a perceber que havia muita coisa boa entre o que os mais velhos punham a tocar nos seus gira-discos. “Ele sempre fez parte de nós, da família”, sublinharam numa entrevista a propósito de Monsieur Aznavour, o filme biográfico realizado por ambos e com Tahar Rahim no papel do lendário cantor francês de origem arménia, e um monumento da chanson com projecção planetária, admirado pelos mais ilustres dos seus pares, de Frank Sinatra a Johnny Halliday, passando pelos Três Tenores.

Aznavour, que morreu em 2018, com 94 anos, ainda conheceu os dois realizadores, e deu a bênção ao projecto do filme. Ajudou bastante a isso o facto de Jean Rachid-Kallouche, o produtor dos filmes daqueles, ser também genro do cantor, que um dia apareceu para almoçar em sua casa quando Idir e Marsaud também lá estavam a comer. Aznavour  tinha visto o primeiro filme da dupla, Patients, e gostado. E disse a Kallouche que, se algum dia fizessem um filme sobre a sua vida, queria que fosse ele a produzir. O produtor arriscou então que poderiam ser Idir e Marsaud a realizá-lo, e Aznavour respondeu: “Porque não?”.

Os dois realizadores convidaram-no então para ser o consultor do filme, ele aceitou com entusiasmo e o projecto arrancou. Mas Charles Aznavour entretanto morreu e Monsieur Aznavour foi posto de parte durante alguns anos. Até que Idris e Marsaud voltaram a pensar nele, e animados pelo consentimento e pelo apoio que o cantor lhes tinha dado quando era vivo, bem como na autorização da família, na pessoa dos filhos, Mischa e Nicolas Aznavour, que confirmaram a autorização do pai, e lhes deram acesso ao acervo de papéis pessoais, documentos, composições e filmes amadores de Aznavour (muitos destes já vistos no documentário de 2019 Aznavour por Charles, do próprio e de Marco di Domenico). 

Para o interpretar, foi escolhido Tahar Rahim (O Passado, Um Profeta, a série The Serpent), também ele grande admirador de Charles Aznavour. Rahim teve aulas de canto intensivas para a voz durante meio ano, para ficar com uma tessitura próxima da dele, aprendeu a tocar piano e estudou a sua dicção, bem como a sua gestualidade em palco. Monsieur Aznavour conta a vida de Charles Aznavour desde a infância pobre em Paris, até à década de 70, quando da morte do seu filho Patrick, passando por fases tão importantes da sua carreira como o duo com o seu grande amigo Pierre Roche entre 1942 e 1949, a protecção, o apoio e o incentivo dados por Edith Piaf, a dificuldade que teve em se afirmar a solo, contra uma crítica que o chegou a insultar baixamente, e a sua inquebrantável vontade e enorme capacidade de trabalho.

O filme estreou em França a tempo das comemorações do centenário do nascimento de Aznavour, no ano passado, vendeu mais de dois milhões de entradas nas bilheteiras francesas e foi nomeado para quatro Césares. Mas Tahar Rahim disse, numa entrevista à Vogue francesa, que a sua maior recompensa foi quando Katia Aznavour, filha do cantor, foi certo dia assistir à rodagem de Monsieur Aznavour, e após a filmagem de uma sequência de interiores, chegou ao pé dele e lhe disse: “Vi em si o meu pai”.