Jota.pê equilibra criatividade e essência
Melhor Canção em Língua Portuguesa, Melhor Álbum de Música Popular Brasileira, Melhor Álbum de Engenharia de Gravação. Das três indicações que recebeu no Grammy Latimo 2024, o brasileiro Jota.pê ganhou todas – e voltou de Miami com a mala lotada. Ou quase. O icônico gramofone dourado, afinal, é entregue customizado só algumas semanas depois da […] O post Jota.pê equilibra criatividade e essência apareceu primeiro em Harper's Bazaar » Moda, beleza e estilo de vida em um só site.


Jota.pê – Foto: Divulgação
Melhor Canção em Língua Portuguesa, Melhor Álbum de Música Popular Brasileira, Melhor Álbum de Engenharia de Gravação. Das três indicações que recebeu no Grammy Latimo 2024, o brasileiro Jota.pê ganhou todas – e voltou de Miami com a mala lotada. Ou quase. O icônico gramofone dourado, afinal, é entregue customizado só algumas semanas depois da cerimônia, mas as prateleiras na casa do cantor já estão reservadas. Logo após o evento no final de 2024, Jota.pê me encontrou on-line para falar da vida, dos dez anos de carreira e, mais importante, dos sucessos que já tem e dos que ainda aguarda. Alô!
Guilherme de Beauharnais – Temos muito assunto para cobrir hoje, mas vamos para o mais urgente: você é de Osasco, uma das capitais mundiais do cachorro-quente. Purê de batata no hot dog… pode ou não pode?
Jota.pê – Pode muito! (risos) – Descobri há poucos anos que nem todo o estado faz isso, mas eu amo!
GDB – E o milho, ervilha, cenoura…? As pessoas viajam na maionese, não?
JP – Hoje em dia, tem até feijão!
GDB – Que horror!
JP – Passam dos limites! (risos)
GDB – Que bom que você concorda. Assunto encerrado! Conte-me deste seu chapéu. O acessório virou uma marca registrada. O que você tanto esconde aí?
JP – Nada! (risos) Comecei a usar chapéus na sétima série do colégio. Eu usava bonés antes, mas, como a polícia adora parar adolescente preto de boné na rua, era ruim. Meu avô usava chapéus e, quando a minha mãe me deu um, comecei a usar na escola. A galera achou estiloso, elogiou, e eu não parei mais.
GDB -Fica ótimo em você, assim como os grammys. Só não acha estranho que a premiação latina acontece nos EUA?
JP – Achei inusitado, mas, em Miami, fala-se mais espanhol do que inglês. Não me incomoda, mas ia achar massa se tivesse uma cerimônia no México, na Colômbia… Estava tão animado por estar concorrendo que nem pensei muito nisso.
GDB – Muita gente também questiona a separação da versão latina do grammy “tradicional”…
JP – No Brasil, somos muito fechados. Ouvimos a nós mesmos e aos Estados Unidos. Tem muita coisa bacana acontecendo fora, com artistas maravilhosos como Jorge Drexler, Goyo…
GDB – Como você comemorou suas vitórias?
JP – Antes de ir para lá, eu fiz uma festa na minha casa para celebrar as indicações, independentemente de ganhar. Eu não esperava vencer uma, quem dirá três. Foi surpreendente! Achei que não tivesse nenhuma chance e ganhei! Mas ainda não fiz a festa que quero fazer.

Jota.pê – Foto: Divulgação
GDB – Onde você guardou seus prêmios?
JP – Ainda não recebi. (risos) Chegam depois, porque customizam com o seu nome e a categoria.
GDB – Ouro marrom fala sobre a experiência de um homem negro na terra. Depois de ter vivido em tantos lugares, (rio, fortaleza e salvador), onde você se sente melhor?
JP – São Paulo. Eu me mudei muito na infância e vivi algumas coisas não tão legais. Morei em Sobral, no Ceará, em Fortaleza… foi lá, inclusive, que aprendi a tocar violão. Mas eu estava com saudades de casa e falei para os meus pais: “se vocês não voltarem para São Paulo, eu volto sozinho.”
GDB – E voltou sozinho mesmo?
JP – Veio todo mundo. (risos)
GDB – São paulo é a sua musa na música?
JP – Nós, compositores, fazemos canções a partir de como enxergamos o mundo. Os paulistas em geral acham que São Paulo é o mundo. Mas, dentro do Brasil, há muitos outros “países”. Isso é muito nítido para mim e essa adaptação faz parte da minha música. Eu não seria o artista que sou se não tivesse viajado tanto, descoberto tantas outras culturas…
GDB – Quando foi que você se entendeu artista?
JP – Comecei a compor aos 14 anos, mas não sabia que isso tinha um nome. Eu só fazia música porque vi na Malhação que isso existia. O lance de se entender artista veio bem depois. Aliás, lutei muito contra isso porque achava que não ia ganhar dinheiro. Só com 21 anos é que decidi viver dessa parada.
GDB – E o nome artístico Jota.Pê é apelido de infância?
JP – Exatamente. Meu professor de Geografia começou com esse apelido na quinta série e pegou. Quando comecei a pensar em ter um nome artístico, já não dava mais tempo de mudar. (risos) Inclusive, nem acho tão bom!
GDB – Sua família o apoiou na carreira?
JP – Ganhei meu primeiro violão da minha mãe, mas, como criança preta no mundo, meus pais sempre foram muito realistas sobre a dificuldade de se viver de arte no Brasil. Não tínhamos referências próximas de pessoas que conseguiam pagar as contas fazendo música. E nem estou falando sobre ser rico. Além disso, meu pai fez parte de uma banda e muitos dos colegas dele se perderam nas drogas. Ele tinha medo de que isso acontecesse comigo.
GDB – Aconteceu em algum momento?
JP – Não. Sou birrento e quis provar para meu pai que não precisava de nada disso. (risos)
GDB – Birrento e sonhador. (risos) seu primeiro álbum, inclusive, se chama “crônicas de um sonhador” (2015). Ainda assim, você já teve medo de não dar certo?
JP – Ainda tenho, na real!
GDB – Mesmo depois de três grammys? (risos)
JP – Sim! (risos) De vez em quando, bate uma insegurança, mas estou mais tranquilo. Quando a gente sonha demais, tudo fica muito romantizado, inalcançável. Não pode ser só assim! Eu amo o que faço, mas, muitas vezes, durmo mal, fico em hotéis estranhos, derrubo o violão no chão e tenho que pagar o conserto… É um trampo! Encarar as coisas de forma realista e manter os pés no chão torna tudo mais fácil.
GDB – Já pensou em desistir?
JP – Muitas vezes. Vou fazer dez anos de carreira em 2025, mas as coisas só ficaram estáveis, financeiramente, há uns três. O público e meus amigos foram e são as pessoas que mais me mantém no caminho da música. Por isso, me considero o resultado de muita ajuda, mas de esforço também.
GDB: Você é do tipo que escuta as próprias músicas?
JP – Sim. (risos) E, quando escuto músicas antigas, fico chateado com algumas coisas que fiz e outras que não. Minha evolução, nos níveis vocal e instrumental, é muito nítida para mim. E acho que para as pessoas também. Mas me orgulho de tudo que já fiz.
GDB – Quem é esse cachorrinho passando atrás de você?
JP – É a Garoa, minha cachorrinha. Um cavalo, na verdade (risos). Tem 1,40m de altura. É gigante, mas tão carinhosa que parece um Shih Tzu!
GDB – Ah! (risos) que fofa! na sua opinião, o que é mais difícil no processo de composição?
JP – O mais difícil é saber o que não usar. Cheguei, por exemplo, a gravar uma versão de “Ouro Mar- rom” com piano. Ficou lindo, mas os produtores disseram que estava tão bonito que atrapalhava. (risos) O foco era a letra, a voz e o violão.
GDB – Você já disse que nunca sonhou com a fama. Hoje, tem alguma coisa nela que é um pesadelo?
JP – Eu passei muito tempo me preparando para isso. Hoje, tenho um nível de fama saudável.
GDB: Defina “saudável”.
JP – Quando decidi que ia trabalhar com música, sabia que deveria cuidar da minha saúde mental. Vi muitos documentários sobre artistas e saquei que o grande problema era o despreparo para o nível de fama que alcançaram, além de questões de dinheiro, família e amigos interesseiros. Também vi muita gente frustrada. Desde muito
cedo, então, percebi que meus objetivos não poderiam ser fama e dinheiro. Isso precisa ser uma consequência. Eu amo fazer música e me divirto. Se ficar milionário, vou achar massa, mas não vou me perder nisso. Olho para o lado e vejo pessoas que sonhavam em serem músicos e viraram profissionais em aparecer em reality show. (risos)
GDB – E sair na rua?
JP – Ir na padaria é importante para caramba para mim. O Zeca Pagodinho, por exemplo, continua indo na padaria. Quero fazer isso sem que se torne um evento.
GDB – E se acontecer?
JP – Paciência. Mas a verdade é que nós artistas somos meio carentes. Quando alguns não são reconhecidos na rua, entram em deses- pero e precisam gerar uma polêmica para aparecer. (risos)
GBD – Mas e você? Já está pensando em desaparecer um pouquinho? Tirar férias?
JP – Ainda não estou podendo tirar um sabático! (risos) Mas por motivos financeiros mesmo. Espero, um dia, poder fazer isso. O máximo que consigo, agora, é tirar trinta dias de férias.
GBD – Trinta dias? que luxo! E o novo álbum, então?
JP – Já comecei a trabalhar nele, mas ainda estou coletando possibilidades e referências. Ainda não sei exatamente o que quero fazer, mas quero viajar para conhecer a música de outros lugares, especialmente da Africa.
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