Por que Balenciaga, o mestre da alta costura, criou uniformes para a Air France?
Com a assinatura de grandes nomes da moda, os uniformes das companhias aéreas poderiam ser verdadeiros itens de prêt-à-porter. Exceto os da Balenciaga

Foi durante um longo voo de férias que me vi analisando os movimentos dos uniformes das comissárias de bordo: a modelagem, o caimento do tecido e como as cavas se comportavam ao levantar e abaixar os braços. Me peguei aflita com uma das mangas, que puxava toda a estrutura do casaco e deixava a peça alguns centímetros mais curta a cada movimento da tripulante.
Pensei em quanto essa cena seria um verdadeiro drama para Cristóbal Balenciaga — e, de fato, pensar em uniformes para mais de uma centena de aeromoças foi um pesadelo para o estilista espanhol. Mas por que o mestre da alta-costura impecável poderia temer inofensivas cavas e mangas?
Para o Sr. Balenciaga, perfeição não combinava com produção em escala industrial, ou prêt-à-porter. Introduzido à moda a partir da experiência com alfaiataria, o costureiro tinha obsessão por adaptar — e alterar inúmeras vezes — suas criações a ponto de reproduzir de maneira fidedigna o corpo da cliente.
Tais características, acompanhadas de tecidos nobres e acabamentos sublimes, são correspondentes à categoria que ele pertencia: a Couture. Entre as décadas de 1940 e o final de 1970, ele ficou conhecido por desenvolver modelos icônicos que, até hoje, carregam uma combinação entre ousadia, elegância e modernidade para a época.
No entanto, tudo era produzido nas salas do seu ateliê em Paris. Quando a crise na Couture se tornou realidade, graças à modernização da indústria, a aventura de Cristóbal parecia estar chegando ao fim, a ponto de decidir fechar as portas da sua maison para não ter que se render ao ready-to-wear.
Foi assim que o desenvolvimento das peças para a Air France tornou-se o mais próximo que o estilista chegou de uma produção em larga escala. Em 1968, aceitou explorar o desconhecido: uma fábrica da Mendès, fabricante francês de prêt-à-porter de luxo.
O que aterrorizou Balenciaga foi entender que as mais de mil funcionárias da maior companhia aérea da época precisariam se adequar aos padrões de medidas. Mas não só.
Diferentemente de suas clientes, que eram vestidas para festas e compromissos sem muito esforço, ele precisou compreender que sua preocupação em desenvolver mangas perfeitas tinha ganhado mais um desafio: além de bonitas, deveriam permitir mobilidade para colocar uma mala no compartimento superior (eis a conexão com a cena que presenciei).
A ideia de aceitar que tudo fosse desenvolvido por máquinas não parecia suficiente para o estilista. Ele decidiu organizar agendamentos com cada uma para ajustar suas medidas.
Essa percepção é uma das principais características do Sr. Balenciaga, pois ainda que estivesse cedendo às máquinas, suas criações jamais deixariam de acompanhar a particularidade do corpo de cada aeromoça.
Por isso, os looks eram formados por casaco de abotoamento duplo, saia acima do joelho, capa de chuva, luvas, lenço, boné e sapatos com salto. As coleções foram pensadas em versões para inverno e verão, em lã e tergal, e foram usadas por uma década.
Versões do uniforme desenvolvido por Balenciaga, usado por uma década pela Air FranceFotos Cortesias SFO Museum, Museu Cristóbal/ Colagem: Luana Alves/Reprodução
Além dessa conexão, outros grandes nomes levaram sua expertise para o vestuário das tripulações. Três anos antes de Balenciaga transformar o aeroporto de Orly em seu ateliê, o italiano Emilio Pucci levou suas cores vibrantes para os uniformes da extinta Braniff International.
Na década de 1980, foi a vez de Yves Saint Laurent levar para a Qantas Airways sua ideia de moda para os ares — com direito a padronagem de cangurus coloridos.
E como seria se Giorgio Armani criasse um uniforme de tripulação? Em 1991, a Alitalia convidou o designer para traduzir sua alfaiataria impecável para um guarda-roupa de bordo.
O resultado foi uma série de jaquetas, casacos e ternos em tonalidades que já fazem parte da estética Armani, como marrom, areia e azul marinho.
O conforto foi o mesmo pelo qual o italiano ficou conhecido na década de 1970, quando revolucionou a silhueta masculina e levou seus estudos também para a feminina. Um encontro elegante, confortável e sem restrições.
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