Transição de carreira: por que mais mulheres estão mudando de rumo

As motivações femininas para mudar de rota são muitas, de melhorar os rendimentos até equilibrar melhor a vida pessoal e profissional

Apr 16, 2025 - 13:19
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Transição de carreira: por que mais mulheres estão mudando de rumo

Elas inspiram e abrem portas para outras mulheres. Suas jornadas, nada convencionais, são exemplos de que os percursos de vida podem ser mais dinâmicos e adaptáveis. Ana Paula Padrão, Dani Junco e Rachel Maia encararam mudanças na trajetória profissional uma, duas ou mais vezes.

As três concordam: o futuro das carreiras femininas passa pelo autoconhecimento, pelo aprendizado contínuo, pela capacidade de transitar por diferentes mundos com intencionalidade e por enxergar oportunidades que vão além de um único propósito. 

Esse olhar para a transição de carreiras não é apenas uma perspectiva pessoal dessas líderes — ele também reflete uma realidade crescente no mercado de trabalho brasileiro. Uma pesquisa da consultoria de recrutamento Robert Half revela que grande parte dos profissionais brasileiros não está plenamente satisfeita com o trabalho atual.

Segundo a 30ª edição do Índice de Confiança Robert Half (ICRH), 54% dos entrevistados planejam mudar de emprego em 2025, um crescimento de quatro pontos percentuais em comparação ao ano anterior. 

Riscos, erros e acertos 

“Eu não sabia medir o risco quando fiz a mudança do setor financeiro para o de sustentabilidade. Mas, ao longo do tempo, compreendi que o poder de errar também é uma forma de empoderamento”, diz Rachel Maia. Aos 54 anos, ela é fundadora e CEO da RM Cia 360, empresa focada em Impacto Social e Ambiental.

Já foi CEO da Lacoste, Pandora, Tiffany &Co., entre outras organizações. Atualmente é presidente do Conselho de Administração do Pacto Global Brasil, Conselheira Independente na Vale, Conselheira Consultiva no Grupo Mulheres do Brasil, AlmaViva e MyTS. Ávida por conhecimento, concluiu diversos cursos e MBAs em algumas das universidades mais prestigiosas do mundo, como Harvard, USP e FGV.

“Nós nos cobramos tanto que, quando um prato cai, ficamos olhando os caquinhos. Quero olhar para os pratos que continuam inteiros”, Rachel Maia

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Transição de carreira
Gustavo Magalhães/Reprodução

Para Rachel, a transição de carreira é um momento complexo, mas também um processo de transformação pessoal libertador. “Nós nos cobramos tanto que, quando um prato cai, ficamos olhando os caquinhos. Quero olhar para os pratos que continuam inteiros. Se algo me estressa, busco apoio nas pessoas que vieram antes e naquelas que ainda estão por vir”, conta. 

A jornalista e empresária Ana Paula Padrão, perto de completar 60 anos, é outra que mudou de rumo algumas vezes — a mais famosa, de jornalista a apresentadora de programa de entretenimento, o MasterChef Brasil.

Ela destaca que não há idade para iniciar uma transição de carreira. “A expectativa era que eu, aos sessenta, estivesse me aposentando, casada, com três filhos criados. E eu não fiz nada disso. É preciso levar em consideração o que é melhor para você e não o que se espera de você”, diz.  

Com 30 anos de jornalismo, Ana Paula construiu uma trajetória que foi de repórter local a correspondente internacional em regiões de conflito, passando pela bancada de um telejornal em rede nacional e liderando equipes em diferentes emissoras.

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Nesse período, foi funcionária, abriu o próprio CNPJ e se tornou executiva. “Quando pensei ‘já deu de jornalismo’, não sabia a outra coisa que queria fazer. Nessa época, já tinha empresas abertas, uma produtora de vídeo e a Tempo de Mulher (plataforma de conteúdo feminino). Resolvi olhar para o mercado, mas foi o mercado que olhou para mim”, conta.

Ana Paula Padrão falou sobre carreira na Casa Clã 2025

O convite para comandar o MasterChef Brasil veio nessa fase de transição e a levou para o entretenimento por uma década, até 2024. Em outubro do ano passado, mais uma virada: tornou-se sócia da Conquer Unna, unidade da escola de negócios Conquer focada na formação de líderes mulheres. 

vieses femininos traiçoeiros, pondera Ana Paula, quando o assunto é transição de carreira. Para ela, por exemplo, o empreendedorismo que dá certo não é aquele que se faz por paixão, mas sim por oportunidade. 

Os dados indicam que a flexibilidade é uma prioridade para a maioria das mulheres:

55% ​​desejam atuar como consultoras, autônomas ou freelancers 38% têm interesse em empreender 25% querem seguir uma paixão, desejo ou interesse antigo

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“Eu moro em um lugar que não tem padaria. Eu nunca fiz pão, mas vou descobrir como se faz. Isso é oportunidade. Agora, abrir mais um salão de beleza no bairro onde já tem dez porque você é apaixonada por fazer cabelo tem tudo para dar errado. Realmente eu não acho que a coisa que você faz melhor no mundo tem de ser necessariamente a sua grande paixão. O que faço de melhor é ser uma boa líder, uma boa gestora, uma pessoa inquieta e corajosa. E entrego esses atributos em um lugar que não diz respeito apenas à minha paixão”, explica.

Ana Paula reforça também que o possível não é pouco. “Eu quero o possível porque ele já dá um trabalho danado, tem que dedicar muito para fazê-lo bem”, explica.

Desejo e coragem 

O Brasil está envelhecendo, e a força de trabalho acompanha essa tendência. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos no país aumentou 57,4% em 12 anos — e mais de 22 milhões de pessoas (11% da população) têm mais de 65 anos.

Já uma projeção da Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que, até 2040, 57% dos trabalhadores terão mais de 45 anos. Se, por um lado, a maturidade traz mais segurança, por outro, pode despertar o desejo de mudança e a coragem para trilhar um novo caminho profissional. 

Transição de carreira: entenda as motivações femininas para mudar de rota são muitas, de melhorar os rendimentos até equilibrar melhor a vida pessoal e profissional
Gustavo Magalhães/Reprodução
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Um estudo da Maturi, plataforma voltada ao mercado de trabalho 50+, em parceria com a NOZ Inteligência, empresa de pesquisa e inteligência de negócios, revelou que sete em cada dez mulheres nessa fase da vida estão em processo de transição de carreira. 

As principais motivações para guinadas profissionais incluem a busca por melhores condições financeiras, um maior equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e novos desafios.

Os dados indicam que a flexibilidade é uma prioridade para a maioria das mulheres: 55% desejam atuar como consultoras, autônomas ou freelancers, 38% têm interesse em empreender e 25% querem seguir uma paixão, desejo ou interesse antigo (a pesquisa permitiu selecionar mais de uma alternativa).

Maternidade 

A carreira profissional não segue mais uma trajetória linear, ou seja, com um início, meio e fim bem delineados e previsíveis. Para Dani Junco, fundadora da B2Mamy e especialista em empreendedorismo materno, a maternidade é um dos grandes pontos de inflexão.

“Eu acredito que todas, em algum momento, farão uma transição pós-maternidade”, afirma. No entanto, essa mudança não se resume a um pedido de demissão. É um momento de reflexão sobre o que realmente se deseja para o futuro, levando em conta fatores como flexibilidade, propósito e estabilidade financeira.

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Dani trabalhou por nove anos na indústria farmacêutica antes de se tornar mãe e iniciar questionamentos como: “Quero isso? Quero ser mãe integral? Minha carreira ficou pequena demais para mim?”.

O título de seu livro, Mãe, Por Que Você Trabalha? (Editora Planeta) sintetiza essa busca por significado, algo que muitas mulheres enfrentam ao tentar equilibrar trabalho e maternidade. Em 2016 criou a comunidade B2Mamy, que já capacitou mais de 100 mil brasileiras a empreender ou a se recolocar no mercado. 

“Não é sobre estar em um lugar ou outro, mas sobre transitar por diferentes mundos com segurança e propósito”, reflete Dani. “De um lado, está a maternidade. Do outro, o etarismo. No meio, novas tecnologias”, analisa ela sobre os desafios enfrentados pelas mulheres atualmente.

Com carreiras cada vez mais fluidas e múltiplas possibilidades de atuação, a chave para uma transição bem-sucedida está na autonomia, na busca por aprendizado contínuo e na capacidade de redefinir o próprio caminho.

Por onde começar 

Para uma mudança de carreira bem-sucedida, é essencial investir em autoconhecimento, capacitação, networking e planejamento financeiro. Compreender habilidades, interesses e valores é o primeiro passo para direcionar essa nova fase com clareza. Além disso, buscar cursos e treinamentos que atualizem ou complementem competências é fundamental.

Manter e expandir a rede de contatos profissionais pode abrir novas oportunidades e oferecer suporte ao longo do processo. Por fim, um planejamento financeiro sólido garante mais segurança para enfrentar possíveis períodos de instabilidade com tranquilidade.

Ana Paula, Dani e Rachel, ao longo de suas jornadas, também perceberam a importância do descanso: “Aprendi a descansar, algo que não fazia parte da minha biografia. Relaxar me dá saúde mental e espaço para o novo. Quando olhamos só para relatórios, perdemos a perspectiva do horizonte.

O descanso me lapida, otimiza meu brilho e fortalece minha capacidade de inspirar”, afirma Rachel. “Eu preciso de linha reta, de horizonte, como ver o mar. Isso mexe com a minha capacidade de foco, de concentração, de relaxamento, de ir além”, disse Ana Paula. Se reinventar profissionalmente exige coragem, mas também pausa. Porque é no intervalo entre um passo e outro que encontramos clareza para seguir em frente. 

 

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