Por que criador de Black Mirror se recusa a ver Ruptura, do Apple TV+
Charlie Brooker já declarou que não assistirá ao sucesso do streaming. O post Por que criador de Black Mirror se recusa a ver Ruptura, do Apple TV+ apareceu primeiro em Observatório do Cinema.


Charlie Brooker já viu sua obra ser comparada a diversas outras séries, mas nenhuma provocou tanto desconforto quanto Ruptura, da Apple TV+. O criador de Black Mirror, mesmo reconhecido por seu olhar provocador sobre os avanços tecnológicos, revelou recentemente que evita assistir à produção da Apple – e por um motivo bastante compreensível.
Em entrevistas, Brooker admitiu que tem evitado aclamadas produções que o fazem se sentir ultrapassado. No caso de Ruptura, a recusa vem acompanhada de uma frase que resume tudo: “dizem que é parecido com Black Mirror, só que melhor“.
Tanto Ruptura quanto Black Mirror exploram a fragmentação da identidade, os impactos da consciência digitalizada e o controle sobre a autonomia individual. Brooker reconhece a potência dessas ideias, e inclusive já afirmou que o episódio White Christmas influenciou diretamente outros roteiristas – entre eles, o criador de Ruptura, Dan Erickson, que cita a história como uma de suas grandes referências.
Em White Christmas, os chamados cookies representam consciências aprisionadas digitalmente, obrigadas a viver um ciclo eterno de tédio e isolamento. A sequência em que Helly descobre estar presa em uma realidade que não escolheu, e de onde não pode escapar, é herdeira direta do que Brooker fez anos antes. A diferença, claro, está no formato: enquanto as cópias de Black Mirror são digitais, os “innies” de Ruptura existem fisicamente.
Essa diferença dá vantagem narrativa à série da Apple, que consegue acompanhar o desenvolvimento dos personagens ao longo de vários episódios, ao contrário do formato antológico de Black Mirror. Isso permite que as tensões entre Mark e Helly, ou entre Helly e sua versão externa, ganhem mais profundidade do que seria possível em apenas uma hora de episódio.
Ruptura, Black Mirror e o futuro das distopias
Na sétima temporada de Black Mirror, o episódio “USS Callister: Into Infinity” volta a explorar a coexistência entre cópias idênticas com consciências separadas. A dinâmica entre os dois Waltons, por exemplo, remete diretamente ao conflito entre Helena e Helly em Ruptura. Realidades paralelas, consciências rivais, dilemas morais sobre quem merece existir.
Mesmo que Brooker ainda não tenha assistido à série concorrente, sua influência está lá, visível, latente, e reconhecida pelos próprios roteiristas. Sua recusa em assistir à Ruptura diz menos sobre rivalidade e mais sobre o impacto que sua obra teve na televisão contemporânea.
Embora o criador diga com bom humor que não assistirá Ruptura por ciúmes, o desconforto é compreensível. Quando uma nova série aborda com sucesso temas que você mesmo ajudou a popularizar, o sentimento de comparação é inevitável. Ainda mais quando essa nova produção é celebrada como a sucessora da sua obra.
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