Mon Mothma: a trágica heroína de Andor

Entre a política e a família, o drama íntimo de Mon Mothma revela o custo emocional de lutar por uma galáxia livre

Apr 27, 2025 - 22:02
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Mon Mothma: a trágica heroína de Andor

Já na primeira temporada de Andor a trama deu bastante destaque à Senadora Mon Mothma que, para os nãos iniciados de todo universo Star Wars, só lembraria dela nas reuniões decisórias dos Rebeldes nos filmes da saga criada por George Lucas. Ela sempre foi tão relevante na luta contra o Império como Padmé Amidala. Isso mesmo. Mega relevante.

E nessa segunda temporada ela é, ao lado de Cassian Andor, uma das protagonistas. Seu envolvimento na rebelião é relutante como o piloto, num espelho onde ela está no topo da pirâmide, mas tem empatia pelo resto da galáxia e se opõe ao Império.

Interpretada por originalmente por Caroline Blakiston, em O Retorno de Jedi, desde A Vingança dos Sith está com a canadense Genevieve O’Reilly, que voltou em Rogue One, Ahsoka e Andor. E depois da cena agora icônica da senadora dançando e bebendo sua dor na festa de casamento da filha, certamente você quer saber mais sobre ela. Para isso estou aqui.

Trajetória Política

(L-R) Perrin Fertha (Allistair Mackenzie), Mon Mothma (Genevieve O'Reilly) and Luthen Rael (Stellan Skarsgård) in Lucasfilm's ANDOR Season 2, exclusively on Disney+. Photo courtesy of Lucasfilm. ©2025 Lucasfilm Ltd. & TM. All Rights Reserved.
Lucasfilm/Reprodução

Natural do planeta Chandrila, as afiliações políticas de Mon ao longo da saga são Senado da República Galáctica, Senado Imperial, Aliança Rebelde, e o Governo de Transição da Nova República.

Na República, Mon Mothma foi eleita senadora de Chandrila ainda jovem, sendo considerada uma prodígio política. Desde o início, mostrou-se uma idealista moderada, mas convicta defensora da democracia. Durante as últimas décadas da República, ela já questionava a corrupção do Senado e se opunha ao aumento de poder do Chanceler Palpatine.

Quando Palpatine se proclama Imperador, Mothma continua como senadora — agora do Senado Imperial — mas atua secretamente para enfraquecer o regime. Em Andor, vemos o início de seu dilema: conciliar sua posição privilegiada com seu crescente envolvimento com a dissidência.

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A virada e o envolvimento total com a rebelião é o coração dessa nova e última temporada de Andor. Ao fim, Mon Mothma emerge como uma das figuras mais trágicas da galáxia. Vence guerras, muda regimes, inaugura uma nova ordem.

Mas quando se deita, sabe que perdeu aquilo que não se reconstrói: o vínculo com a filha e vários amigos que deixou pra trás. A rebelião triunfa. A República ressurge. Mas em Chandrila, há uma menina que carrega seu nome — e que talvez jamais perdoe a mulher por trás da lenda.

Antes de falar do futuro de Mon na saga, é preciso destacar seu maior sacrifício que é “perder” sua única filha, Leida Fertha.

Há algo de devastadoramente silencioso na relação entre Mon Mothma e Leida. Uma quietude cortante, um abismo que não se manifesta em gritos ou confrontos — mas em olhares que não se encontram, em presenças que se anulam dentro de uma mesma casa, em uma intimidade corroída pela ausência. É no espaço doméstico — onde, ironicamente, o Império não entra — que Mon Mothma vive sua derrota mais íntima.

Enquanto o universo de Star Wars é conhecido por laços de sangue épicos — pais que viram tiranos, filhos que se redimem no último instante, irmãos que se reconhecem na guerra —, a história de Mon e Leida é banal e terrena.

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E é exatamente por isso que ela fere mais fundo: não há sabres de luz, mas tradições opressoras. Não há confrontos cósmicos, mas cerimônias de casamento arranjado. A maternidade de Mon Mothma é uma tragédia política disfarçada de vida normal.

Tradição, dever e uma filha que rejeita a mãe

(LR): Mon Mothma (Genevieve O'Reilly), Leida Mothma (Bronte Carmichael) and Perrin Fertha (Alastair Mackenzie) in Lucasfilm's ANDOR, exclusively on Disney+. ©2022 Lucasfilm Ltd. & TM. All Rights Reserved.
Lucasfilm Ltd. & TM/Reprodução

Mon Mothma é uma mulher que, por vocação, sacrifica. Sacrifica seu nome, sua liberdade, sua fortuna, seu casamento — e, por fim, sua filha. Mas o que torna essa decisão particularmente cruel não é o gesto político em si, mas o fato de que Leida parece aceitar de bom grado o destino que a mãe gostaria de poupá-la. Leida se refugia justamente naquilo que Mon combate: os rituais ortodoxos chandrilanos, as doutrinas que cerceiam a autonomia feminina, as ideias de honra, dever e submissão.

Leida, ainda adolescente, se envolve com um círculo de moças que recitam cânticos e praticam obediência como virtude. Para Mon, é como ver a filha se afogando com um sorriso no rosto.

Essa inversão é o motor trágico da personagem. A filha não é vítima de opressão direta — ela a escolhe. E, ao escolher, rechaça não apenas os valores da mãe, mas a própria figura dela. Mon Mothma, que luta contra um império galáctico, não consegue vencer uma batalha dentro de casa. Sua eloquência nos palcos políticos vira silêncio em família. Sua coragem pública contrasta com sua impotência emocional. Em vez de diálogo, o que se vê entre mãe e filha são concessões. E silêncio.

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Um sacrifício sem redenção

(L-R) Leida Mothma (Bronte Carmichael) and Mon Mothma (Genevieve O'Reilly) in Lucasfilm's ANDOR Season 2, exclusively on Disney+. Photo courtesy of Lucasfilm. ©2025 Lucasfilm Ltd. & TM. All Rights Reserved.
Lucasfilm Ltd. & TM/Reprodução

Em um dos momentos mais cruciais da série Andor, Mon se vê encurralada. Seus fundos foram rastreados. O Império se aproxima. A rebelião, ainda clandestina, precisa de meios para continuar. E ela, sem saída, decide aceitar o acordo de um banqueiro criminoso: sua filha será apresentada ao filho dele, segundo os costumes chandrilanos, abrindo caminho para um casamento futuro.

Um gesto que Mon sempre desprezou. Um ritual que ela sempre rejeitou para si — mas que agora aceita, como quem oferece um cordeiro em sacrifício para garantir a travessia do povo.

Mon não força a filha. Não precisa. Leida já está lá, de véu e cabeça erguida, cumprindo um papel que acredita ser seu. O que Mon sacrifica, na verdade, não é o futuro da filha — é a esperança de que Leida um dia a entenda. Ela mata a ponte afetiva. E faz isso com os olhos secos, com a compostura de quem lidera uma revolução. O rosto dela nesse momento não é o de uma mãe, mas o de uma mártir que já perdeu tudo antes mesmo de vencer.

A mãe que permanece — e falha

A maternidade de Mon Mothma contrasta fortemente com outras figuras do cânone de Star Wars. Shmi Skywalker entrega seu filho à liberdade, mas vê o surgimento de Darth Vader. Padmé, grávida, morre acreditando que ainda há bondade em Anakin — e deixa para Leia e Luke o legado da esperança. Leia, por sua vez, vive o dilema de ver o próprio filho, Ben Solo, se tornar Kylo Ren. Todas essas mães são vítimas de forças maiores.

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Já Mon Mothma é vítima do próprio silêncio.

Ela é a única mãe de Star Wars que cria o filho. Que está ali. Que compartilha o mesmo teto, as mesmas refeições. Mas é como se morassem em galáxias distintas. O que Leida rejeita é o projeto de futuro da mãe. Rejeita sua frieza, seu distanciamento, sua constante evasão emocional. Mon não tem tempo para festas, nem para conselhos, nem para consolo. E, talvez, nunca tenha aprendido a demonstrar afeto sem controle. Em uma casa onde tudo é medido — falas, passos, gestos —, o amor se torna um risco.

O preço da nova república

Mon Mothma ama Leida. Mas seu amor é pesado, medido em custos e consequências. Não é o amor que Leida quer. E é nesse descompasso que a relação se rompe: não por uma grande tragédia, mas por erosão lenta. Como uma represa que vaza aos poucos até o rompimento.

Psicologia e Camadas Dramáticas

Andor, temporada 2.
Reprodução/Reprodução

Mon Mothma é frequentemente associada à figura da mártir política. Sua força não está nos campos de batalha, mas no controle de informações, alianças estratégicas e na habilidade de mover peças em um jogo mortal — mesmo quando isso lhe custa tudo.

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Ela é uma personagem de sacrifício constante: abdica da família, do conforto, do amor e até da liberdade. Andor aprofunda essa dimensão ao mostrar uma mulher que precisa esconder sua verdadeira missão até mesmo daqueles que ama. O peso da responsabilidade moral e política a consome silenciosamente.

O Futuro

Não darei spoilers de como o drama pessoal de Mon Mothma se resolve, mas é emocionante. A série explora com delicadeza o isolamento emocional e político da personagem, inclusive dentro da própria casa, com um marido alienado e uma filha presa a tradições conservadoras de Chandrila.

Como uma das arquitetas da Aliança Rebelde seu ponto alto entrou para a história como o “Discurso de Chandrila”, que só acontece quando a trama sobre o planeta Ghorman chegar ao auge e, finalmente, a senadora denuncia publicamente Palpatine, se tornando uma criminosa política e uma rebelde abertamente. Na clandestinidade, ela é vital para unir facções rebeldes dispersas, incluindo Saw Gerrera, Bail Organa e Luthen Rael.

Por causa se Rogue One e Star Wars A Nova Esperança sabemos que os rebeldes derrubam o Império. Assim é Mon Mothma que lidera o governo interino da Nova República, sendo a primeira Chanceler. Seu projeto político é desmilitarizar a galáxia — uma decisão ética, mas que se mostrará perigosa com a ascensão da Primeira Ordem.

Legado

(L-R) Mon Mothma (Genevieve O'Reilly) and Tay Kolma (Ben Miles) in Lucasfilm's ANDOR Season 2, exclusively on Disney+. Photo courtesy of Lucasfilm. ©2025 Lucasfilm Ltd. & TM. All Rights Reserved.
Lucasfilm Ltd. & TM/Reprodução

Mon Mothma é, em essência, a contraparte pacífica e estratégica de figuras como Leia e Cassian. Se Leia é fogo, Mothma é gelo — serena, mas cortante. Se Cassian é ação, ela é razão. E onde Saw Gerrera explode tudo, Mothma constrói silenciosamente alianças frágeis com base em confiança e sacrifício.

Sua trajetória lembra figuras históricas como Eleanor Roosevelt, além de personagens de ficção como Lady Macbeth invertida: o poder vem pelo autocontrole, não pela ambição. E nós já somos seus fãs.

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