Mark Arm (Mudhoney) revela seus três discos favoritos da vida
Mark Arm listou os seus discos favoritos da vida, sendo que o primeiro ele comprou quando tinha 12 ou 13 anos (entre 1974 e 1975). Anote e vá atrás!

entrevista de Luiz Mazetto
foto de Fernando Yokota
Mark Thomas McLaughlin, mais conhecido como Mark Arm, formou o Mudhoney em 1988, mas antes, em 1984, ele já estava à frente do Green River, banda seminal do rock (grunge) de Seattle que, após seu fim, serviu de base não só para o Mudhoney (com Mark Arm e Steve Turner) como para o Pearl Jam (Jeff Ament e Stone Gossard) e Mother Love Bone (Jeff Ament, Bruce Fairweather e Stone Gossard).
O Scream & Yell já teve o prazer de conversar com o Mudhoney três vezes: Steve Turner falou sobre os 30 anos de “Every Good Boy Deserves Fudge” em um bate papo com Leonardo Tissot em 2021, e o próprio Tissot voltou a conversar com a banda, desta vez com o próprio Mark Arm, no primeiro semestre de 2025 como aquecimento para os shows que eles fizeram no país em março (saiba como foram os shows no Rio e em São Paulo).
Em 2023, Mark Arm atendeu a uma videochamada de Luiz Mazetto para falar sobre cachorros, o então novo disco do Mudhoney, “Plastic Eternity”, relembrar os shows anteriores da banda no Brasil e contar como foi cantar no MC5. Na conversa, Mark Arm listou os seus discos favoritos da vida, sendo que o primeiro ele comprou quando tinha 12 ou 13 anos (entre 1974 e 1975). Anote e vá atrás:
“Vou começar com o ‘Desolation Boulevard’ (1974), do Sweet. Esse foi o primeiro disco que comprei com o meu próprio dinheiro. Quando estava crescendo, ouvir rock não era algo realmente permitido na minha casa. Não era nada cristão ou relacionado a moralismo, mas porque a minha mãe era uma cantora de ópera e ela apenas pensava que era uma música de merda. Eventualmente, as regras foram um pouco relaxadas e pude comprar um disco. E, nesse ponto, eu já vinha comprando discos de 7 polegadas de 45RPM, porque eles eram pequenos o bastante para entrar com eles em casa e esconder na gaveta, para escutá-los quando os meus pais tivessem saído. Eu tinha o ‘Fox on the Run’ (1974), que era um sucesso na rádio. Então o ‘The Ballroom Blitz’ (outro single de 1974) saiu e eu fiquei pensando ‘Porra, já são duas músicas muito boas, aposto que o resto do disco também é’ (risos). E, felizmente, esse era o caso (risos). Não sei o quanto você está familiarizado com esse disco, mas a versão do Reino Unido tem algumas músicas diferentes. Há um outro disco da mesma época (‘Sweet Fanny Adams’, também de 1974) e esses dois álbuns foram combinados para a versão de ‘Desolation Boulevard’ nos EUA. O disco original (no Reino Unido) tinha um cover do The Who (de ‘My Generation’), mas a versão dos EUA meio que condensa tudo, e acho que eles fizeram realmente uma ótima escolha em escolher as melhores músicas”, conta Mark.
Mark Arm também inclui “Q: Are We Not Men? A: We Are Devo” (1978), álbum clássico do Devo, em sua lista: “Eu os perdi nas primeiras turnês, mas os vi na tour do ‘Freedom of Choice’ (1980). Isso foi na época que eu estava começando a curtir punk e descobrindo algumas coisas mais underground. Eu já tinha ido a alguns shows em arenas, que eram esses eventos gigantes em que você se sentia uma formiga em um mar de gente. E as bandas ficavam no palco lá longe. O que parecia Ok até eu assistir ao show do Devo em uma casa de shows pequena, que era um antigo salão de bailes que tinha uma pista de dança de madeira. Todo mundo estava pulando, e não tinha como não pular porque o lugar estava muito cheio. De alguma forma, eu consegui ir passando em meio ao público até chegar a um ponto em que só tinha uma pessoa na minha frente antes do palco. A banda estava logo ali e lembro que, em um determinado momento do show, o Bob 1 (Bob Mothersbaugh) estava fazendo um solo de guitarra e eu meio que acabei chegando perto dele e toquei no braço da guitarra e ele me acertou na cabeça e eu fiquei: “Isso não é algo que acontece no show de arena”. Para mim, a partir daquele momento, passei a preferir sempre shows pequenos, em casas de shows, tanto para tocar quanto para ir assistir algum artista. Há algo meio selvagem e louco em tocar em estádios de futebol gigantes, como quando tocamos com o Pearl Jam no Brasil (no Pacaembu em 2005), com dezenas de milhares de pessoas em sincronia, há algo incrível sobre isso. Mas eu sinto que se eu fosse uma dessas pessoas, eu preferiria não…Quer dizer, é claustrofóbico, você sente que pode ser pisoteado (risos)”.
Para fechar sua lista, Mark Arm escolheu “Funhouse” (1970), do Stooges: “Acho que escutar o Stooges foi o que me colocou na trajetória que eu acabei seguindo desde então. O primeiro disco deles que eu escutei, na verdade, foi o ‘Raw Power’ (1973), porque estava disponível em alguma promoção. Basicamente não estava vendendo, por isso eles baixaram o preço. E eu pensei “Isso é legal, é estranho”, eu não sabia exatamente o que pensar da mixagem na época, porque soava muito diferente do que você ouvia no rádio com bandas como Boston ou Journey, essas merdas. Então foi algo meio desnorteante. E ouvir o primeiro disco deles (autointitulado, de 1969) foi meio que um choque. Tinha uma loja que tinha os dois primeiros discos em versões canadenses. Comprei o primeiro disco e a única coisa que eu conseguia comparar, que eu entendia na época, era um pouco como o The Doors, um pouco como o Jimi Hendrix, mas claramente o jeito de tocar não era como o Jimi Hendrix, de maneira alguma. É mais alguém que não é tão talentoso, mas surgindo com o seu próprio lance (risos). E não tinha a pretensão do The Doors, o aspecto poético ou qualquer coisa do tipo. Era algo meio direto e simples, mais relacionável. Eu comecei a curtir os Stooges porque quando estava começando a curtir punk, eles eram um nome que sempre surgia, algo como ‘Essa é a base, a fundação desse novo movimento’. E sinto que o ‘Funhouse’ realmente é o seu próprio lance. Você consegue ouvir influências de James Brown, do Pharoah Sanders, especialmente no labo B. A construção de músicas como ‘TV Eye’ e ‘Down on the Street’, elas são muito diferentes do que era feito na época. E elas são muito agressivas, o que eu gostava muito. Nos 1970, a fusão de rock e jazz era algo, mas no final dos anos 1970 já estava soando um pouco fraco, não era mais o Miles Davis ali no canto. Era algo que você acha que é rock, acha que é jazz. Mas se você escutar o ‘Funhouse’, essa é a fusão entre rock e jazz que deveria ter acontecido. É um disco pesado e há ali um componente de liberdade, há barulhos por todos os lugares. Acho que foi uma oportunidade perdida para todos os outros proponentes da fusão entre jazz e rock (risos)”.
Leia a entrevista completa de Luiz Mazetto com Mark Arm