Álbum de Vovô Bebê mistura rock noventista e TV aberta em conceito bem amarrado
"Bad English" remete ao rock feito por Back ou Cake, junto a reflexões sobre passado e presente. Leia faixa a faixa. The post Álbum de Vovô Bebê mistura rock noventista e TV aberta em conceito bem amarrado appeared first on NOIZE | Música do site à revista.

Experimentalismos sonoros, reflexões sobre passado e presente, guitarras distorcidas e uma certa nostalgia dos programas de TV dos anos 90. Todas essas referências estão no quinto álbum de Vovô Bebe, Bad English, lançado em abril. O carioca vem muito bem acompanhado por uma banda formada por Chico Neves (que também assina a produção), Ana Frango Elétrico, Biel Basile e Guilherme Lírio.
O processo de produção do disco começou ainda na pandemia, em 2020, e remete ao rock noventista de nomes como Cake ou Beck, contando até com doses de psicodelia, como na “Intro de End of the moon”.
“Esse disco é como uma volta no tempo, uma espécie de retorno ao período quando eu me formei musicalmente, que, no caso, foi na minha adolescência, nos anos 90″, conta o artista, que, por trás do pseudônimo, atende pelo nome de Pedro Dias Carneiro. “Na verdade, é um recorte bem específico de uma época: Rádio Cidade, grunge, Gugu, Spice Girls, bandas gringas e o rock nacional com suas misturas inusitadas.”
O resultado de todas essas miscelâneas distintas é mais que uma sensação estética. “Eu me permiti revisitar essas referências e usá-las como guia na hora da produção, depois de mais de 20 anos. Ou seja: é outra coisa!”, conceitua.
Já o nome “Bad English” brinca com as traduções abrasileiradas que, ainda assim, têm seu charme. É, também, uma forma de mostrar que cabem ao som e à palavra múltiplas interpretações, a critério do ouvinte. O álbum foi gravado no estúdio 304, em Nova Lima (MG) e lançado pelo mesmo selo, com capa assinada por Maria Cau.
Confira Bad English faixa a faixa:
“INTRO / END OF THE MOON“: É a faixa de introdução. Tem duas músicas nela, a primeira é curtinha e simples, uma espécie de apresentação quase formal. Gravei umas flautas que foram processadas e editadas pela Rafa Prestes, sempre com o filtro e acabamento do Chico. Explica um pouco o procedimento do disco, de recorrer a outra língua que a gente mal sabe pra expressar algo que a gente mal entende, que talvez não se tenha palavras pra dizer, e que vira outra coisa quando dita. Na sequência começa “End of the Moon”, uma música que tem ares de sonho, a ideia de viajar pelo próprio corpo e a volta pra chamada realidade, é ida e vinda, viagem. Lembra um pouco rock inglês do final dos anos 60, com delays e vozes dobradas.
“STAR SMOKE SUCKER“: Única música não inédita do disco, uma parceria-homenagem-brincadeira com Dede Teicher. Vai narrando um dia ocioso na vida de um personagem praiano, com brincadeiras poéticas e mudanças de sentido permitidas pelas traduções literais e irresponsáveis. Expressões como ˜ make up your mind ˜ e o próprio título da música, que pode significar ˜ chupa fumo da estrela ˜ são bons exemplos disso. Tinha sido gravada no EP da Dedê ˜ Vôngole ˜ numa versão voz e violão, e aqui a Ana Frango deu a ideia na hora da gravação de fazer ela meio disco. Foi o que fizemos, não sei se soa exatamente isso, tem uma guitarra um pouco fora desse contexto, mas foi um pouco o norte. A bateria do Biel e os baixos do Gui ajudam a deixar essa sensação, além dos synths que a Ana gravou.
“FOREST BABY“: Musiquinha safada, meio rock balada, fala de um jeito bem indireto e genérico sobre a formação de uma cidade, uma selva de pedra qualquer, e sobre a sensação de um personagem atual porém enterrado junto com a história por baixo do asfalto, onde antes corria um rio que não há mais, e agora só queria ser uma plantinha num canto. Uma curiosidade é que esse vocal PAPAPA quem inventou foi o Biel baterista. Não sei se de propósito, quando eu mandei as músicas voz e violão pra ele conhecer e já ir pensando em idéias, ele me mandou um áudio tocando um groove e cantando a música sem letra, só com PAPAPA. Aí convencidos pelo enorme carisma de Bielzinho do Bielzinho Bielzinho colocamos esses vocais na música. Outra coisa digna de nota é a participação do grande Marcelo Costa nessa faixa, que estava no estúdio gravando outro disco e no final da sessão ouviu a música e tocou lindamente.
“WRONG TICKET“: Um blues com uma estética mais rock, tem um baixo synth somando ao baixo e uma drum machine com a bateria, o que talvez leve pra uma vertente de um rock mais eletrônico que eu não sei nomear (mas deve ter um nome). No final, tem um solo que pode parecer guitarra, mas é voz cantando no kazoo com distorção. A letra é um pouco apocalíptica, como se a gente tivesse nascido no lugar ou na hora errada, com o ingresso errado da vida. Ou sobre inadequação, talvez exclusão. Na hora da festa, com ingresso ou não, você está fora.
“LITTLE SUN”: Começa remetendo ao grunge dos anos 90, com guitarra distorcida e harmonia intuitiva. Porém, mais para o final, a música fica um pouco mais swingada e tem uns vocais em coro e efeitos criados pelo Chico que levam a música para outro lugar, menos rock, mais sombrio. A letra é quase autoajuda ou uma ode à confiança no caminho, sobre a necessidade de se continuar seguindo a vida até o seu final, o último e pequeno sol apagando no horizonte.
“NIGHT AWAY“: Retoma, de uma forma um pouco mais leve e esperançosa, a ideia de confiança no caminho, dessa vez refletindo sobre as possíveis perspectivas de um mesmo fato, e questionando a diferença entre o que chamamos de realidade e aquilo que está ˜apenas˜ na cabeça de alguém. Talvez a composição mais complexa do disco, com mais variação harmônica, mas o arranjo e o jeito que o Chico conduziu as coisas acaba compensando um pouco. Acho que ficou leve. Gosto muito da solução do groove do Biel na bateria. O Guilherme foi fundamental nas ideias de piano e metalofone, além de ter colocado a sua já clássica máquina de bateria Maestro a partir da segunda metade, e a Ana arrematou nos teminhas de synth.
“BRAZIL COMMODITY“: Essa reverbera um pouco aquela onda ska das bandas de pop rock nacional. Tem achados sonoros muito legais que o Chico arrumou, como no final, as flautas processadas com uma viola e voz num midi alucinado, e também a bateria, que passou pelo seu velho e bom Moog – e fez umas coisas ali que eu nem entendo direito – chegando num som que gosto muito. Tem um especial no meio com uma guitarrinha bem característica de uma época da Ana, além da participação especialíssima do Theo, filho do Chico e da Marcia. A letra tenta uma comunicação vã com alguém de fora, para contar um pouco sobre o Brasil e seus clichês, mas cai na própria contradição já exposta no disco, dos diferentes pontos de vista, aqui as realidades são muitas.
“LEFT FOR DEAD“: Eu fiz essa música pra um jogo de sobrevivência em um apocalipse zumbi que jogava na internet, que tem esse mesmo nome. A letra rouba várias expressões e jargões encontrados no jogo e talvez – o que seja mais engraçado – é que faziam sentido no momento, mesmo sem nenhum zumbi. Tem um banjo muito bem mandado pelo Guilherme, e o Danton da banda El efeito faz uma breve participação com seu trompetinho.
“OFFBOOK EFFORT“: Essa eu imagino como uma viagem de ônibus, de carro pela estrada, ou mesmo de trem, e acho que retoma um pouco o assunto do disco sobre o caminho e sobre a perspectiva de fim. Apesar da introdução esquisita que gravei com uma sobreposição de violas e violões desafinados, e o começo com métrica um pouco truncada, eu vejo ela como um rock simples. Tem uns vocais que aparecem durante quase todo o disco e que voltam nessa música. E tem uns synths que eu amo que a Rafa gravou.
“DAILY BASIS”: É a música quase romântica do disco, que valoriza a companhia, mesmo que de uma forma um pouco questionável. Acho também uma das músicas mais pops, com um groove sem muitas invenções, bem direto e simples.
“VINHETA / UNSAID / OUTRO“: A vinheta é a Ana no piano e synth e o Biel na bateria. Pedi pra ela fazer algo no piano meio repetitivo, que remetesse à música “unsaid” e ela se saiu com essa maravilha. Tudo passando pela leslie do Chico, por isso esse som ondulante. A letra tem um pouco de uma resiliência e aceitação das coisas, não sem uma certa melancolia. No final, entra a bateria e banda começa a OUTRO, que nada mais é que a intro com a estética de END OF THE MOON, dando uma sensação de ciclo que se encerra.
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