Literatura: “Pretend We’re Dead: The Rise, Fall, and Resurrection of Women in Rock in the 90s”, de Tanya Pearson
"Pretend We’re Dead" analisa a revolução trazida pelas mulheres para a cena do rock nos anos 1990 destacando as histórias de mulheres cujos legados muitas vezes foram marginalizados...

texto de Bruno Lisboa
Tanya Pearson é jornalista, historiadora e responsável pelo Women of Rock Oral History Project, projeto que reúne entrevistas que documentam as vidas e carreiras de musicistas que se identificam como mulheres no universo rock. Seu primeiro livro, “Why Marianne Faithfull Matters”, foi publicado em julho de 2021 pela University of Texas Press, e agora Tanya lança seu segundo volume, “Pretend We’re Dead: The Rise, Fall, and Resurrection of Women in Rock in the 90s” (2025), pela Hachette Books/Grand Central.
“Pretend We’re Dead” analisa a revolução trazida pelas mulheres para a cena do rock nos anos 1990 destacando as histórias de mulheres cujos legados muitas vezes foram marginalizados por uma indústria musical dominada por homens. O livro faz um recorte focado nas artistas femininas do rock alternativo, mostrando como elas desafiaram normas de gênero e transformaram um mercado musical misógino e excludente.
Entre as protagonistas dessa história estão Shirley Manson (Garbage), Donita Sparks (L7), Liz Phair, Lori Barbero (Babes in Toyland), Tracy Bonham, Tanya Donelly, Kristin Hersh, Josephine Wiggs (Breeders), Kate Schellenbach (Luscious Jackson), Louise Post e Nina Gordon (ambas do Veruca Salt), Melissa Auf der Maur e Patty Schemel (do Hole), entre outras. Essa geração foi de fundamental importância, pois quebrou barreiras e criou um espaço para novas formas de expressão musical e cultural. Elas não apenas trouxeram inovações sonoras, mas também promoveram mudanças estruturais no mercado musical, ajudando a transformar a percepção pública sobre o papel das mulheres nesse contexto.
A destreza de Pearson ao conduzir entrevistas com essas artistas reflete sua profunda compreensão do contexto da cena musical da época. Sua vivência direta permite uma narrativa autêntica e íntima, revelando aspectos dessas figuras além dos estereótipos e trazendo à tona a complexidade de suas trajetórias. O livro, ao capturar essas histórias, se torna uma celebração da força e resistência dessas mulheres, cuja contribuição foi essencial para moldar o rock alternativo contemporâneo.
Embora figuras como Courtney Love, Alanis Morissette, Kim Gordon (Sonic Youth), Kim Deal (Pixies, Breeders), Kathleen Hanna (Bikini Kill) e PJ Harvey estejam ausentes nas entrevistas, suas influências permeiam a narrativa e são devidamente reverenciadas. Pearson examina não apenas o impacto dessas mulheres na época, mas também como, após o auge da visibilidade feminina no rock alternativo no período, o mercado musical redirecionaria os holofotes, favorecendo manifestações misóginas (como o nu metal), marginalizando assim as artistas que haviam conquistado espaço.
O legado dessa geração permanece vivo e reverbera na música contemporânea, especialmente no trabalho de artistas pop como Miley Cyrus e Olivia Rodrigo, que incorporam a atitude e a estética do rock alternativo dos anos 1990 em suas músicas. Em “Pretend We’re Dead: The Rise, Fall, and Resurrection of Women in Rock in the 90s”, Pearson não só resgata uma parte crucial da história do rock, mas também lança luz sobre as lutas e vitórias das mulheres na música, apresentando uma perspectiva inclusiva e justa sobre o legado feminino no rock.
– Bruno Lisboa escreve no Scream & Yell desde 2014. Escreve também no www.phono.com.br.