Gucci desfila em Florença com olhos (demais) para o passado
Guccio Gucci existiu. Juro! Não é um “nome-fantasia”, nem pseudônimo de artista, mas uma dádiva hilária que é sinônimo de luxo em Florença desde 1921. Ainda mais engraçado, porém, é ceder ao exercício irresistível de imaginar o que ele acharia do desfile que a Gucci orquestrou hoje na cidade italiana. Guccio era, sim, um “italianão”, […] O post Gucci desfila em Florença com olhos (demais) para o passado apareceu primeiro em Harper's Bazaar » Moda, beleza e estilo de vida em um só site.


Gucci, Cruise 2026 (Foto: Getty Images)
Guccio Gucci existiu. Juro! Não é um “nome-fantasia”, nem pseudônimo de artista, mas uma dádiva hilária que é sinônimo de luxo em Florença desde 1921. Ainda mais engraçado, porém, é ceder ao exercício irresistível de imaginar o que ele acharia do desfile que a Gucci orquestrou hoje na cidade italiana.
Guccio era, sim, um “italianão”, mas tinha “pavor” de ser apenas florentino. Nunca gostou da palavra “tradição”, preferia acessórios com estilo inglês, queria uma clientela cosmopolita e, mesmo com uma loja de sucesso na cidade-natal, correu para abrir outra em Roma, em 1938. Também nunca fez parte das “feiras de artesãos” florentinas tradicionais (achava a palavra “artesanato” ultrapassada) e, em 1935, queria estar na cena futurista de Milão.
É pura ironia, portanto, que a marca tenha elegido o Palazzo Settimanni, construção do século XV que passou a servir de fábrica para a Gucci em 1953 (ano da morte de Guccio), como palco para o Cruise 2026. A própria família jamais se preocupou com a preservação de produtos e foi apenas no final da década de 1990, quando os herdeiros deixaram o comando, que a casa passou a ter um “arquivo histórico”.
Dessas salas herméticas, enfim, é que surge a nova coleção, um dos últimos suspiros criativos antes de Demna Gvasalia assumir assim que sair da Balenciaga. A novidade é pouca: nos salões ou nos paralelepípedos das ruas por onde as modelos passaram, a moda visita décadas de estilos em alta e em baixa, com referências de todos os cantos e tempos. Assim é fácil, já que o “tiro”, com certeza, vai pegar em alguém.
A escala dramática carrega um ranço fantasmagórico do “finado” Alessandro Michele (ressuscitado na Valentino) e a opulência dos brocados, jacquards, sedas, veludos e rendas flerta com a “tradição”, palavrinha proibida na Gucci de 100 anos atrás. O moderno, claro, é ser vintage – a exemplo da nova linha de alta joalheria criada em parceria com a Pomellatto. Essa, pasmem, buscou inspiração nos próprios arquivos de 1984.
Virando a esquina, talvez se achasse um allure menos empoeirado… Mas, ainda sem um designer na liderança, o time criativo preferiu não atravessar a rua e apostar na segurança do passado.
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