Entrevista: Ziggy Alberts e a simplicidade como a força de seu novo disco, “New Love”
Ziggy Alberts falou ao Scream & Yell via Zoom sobre o processo criativo por trás de “New Love”, abordando como suas experiências pessoais e a busca por novas perspectivas

entrevista de Alexandre Lopes
Conhecido por suas letras sensíveis e seu envolvimento com questões ambientais, o cantor e compositor australiano Ziggy Alberts está com disco novo na praça, “New Love” (2025). Com uma carreira de 14 anos, seis álbuns (sendo seu maior hit o terceiro, “Laps Around the Sun”, de 2018) e cinco EPs, Alberts continua explorando a simplicidade em músicas que transitam entre o indie, folk e pop como forma de se conectar tanto com a vida quanto com seu público.
Longe de ser uma ruptura com o próprio passado, “New Love” propõe uma renovação de sentido, como o artista explica: “Não é para jogar fora algo que é antigo, mas para ter sua inspiração renovada, seja em seus relacionamentos ou na sua carreira. É para dizer que a gente ama, perde e ama novamente, e eu acho que, à medida que você se torna um adulto, você percebe que é assim que a vida é”.
A sonoridade do novo disco aparece mais refinada e íntima, com Alberts adotando um conceito próximo do “minimalismo de fase”. Associado ao trabalho de compositores como Steve Reich, essa abordagem busca simplicidade e repetição de pequenas partes musicais, criando camadas sonoras orgânicas e fluidas, evitando excessos. Em “New Love”, Ziggy optou pelo minimalismo para tentar criar uma conexão mais direta com o ouvinte. “Eu acho que foi uma ótima decisão, porque percebo que tudo soa muito íntimo, como se fosse somente eu com meu violão e algumas coisas extras. E esse foi o meu objetivo”, afirma o cantor.
Essa direção minimalista se reflete em suas apresentações ao vivo; como artista solo, Alberts se diz influenciado por nomes como Passenger e Ed Sheeran, que também realizam shows de maneira acústica e pessoal. Em meio às canções, ele tem integrado trechos de suas poesias nas apresentações, costurando sua persona escritora e musicista. “Meu primeiro livro de poesia foi algo muito separado da música, mas agora os poemas também estão aparecendo no show ao vivo, então juntar tudo isso está se tornando algo realmente bonito”, avalia.
Em 2022, Alberts começou a estreitar seus laços com o Brasil, depois de lançar uma versão remixada de “Rewind”, em parceria com Vitor Kley (a faixa faz parte do álbum “Dancing in the Dark”, de 2022). Em setembro de 2023, o cantor veio ao Brasil para se apresentar no Floripa Eco Festival e também aproveitou para conhecer rapidamente as praias locais e surfar. “Minha viagem foi tão curta… Como se diz? ‘Pequena’ [em português], né?”. Ziggy comenta que existem planos de voltar ao País, mas não entrega detalhes. “Sempre tenho planos [de voltar]. Só não podemos anunciar nada ainda, mas tivemos uma recepção tão boa quando chegamos ao Brasil, as pessoas me pedem muitas vezes para voltar. Espero que possa voltar ao Brasil este ano”.
Ziggy Alberts falou ao Scream & Yell via Zoom sobre o processo criativo por trás de “New Love”, abordando como suas experiências pessoais e a busca por novas perspectivas influenciaram a sonoridade do disco e sua fase atual. “É sobre continuar encontrando novas motivações para viver uma vida de aventura”, constatou. Ouça o disco e confira a entrevista completa abaixo.
Olá, Ziggy. Tudo bem?
Oi, meu amigo, como você está?
Estou bem, e você?
Eu estou bem. Achei que a coisa mais clássica que eu posso fazer é te dar uma entrevista da minha van. (risos)
Isso é legal!
Na verdade, acho que é a primeira vez que isso acontece comigo. Mas minha van é exatamente o meu ambiente. E talvez, antes de terminarmos a entrevista, eu consiga te mostrar uma vista do oceano seguindo o caminho!
Bom, você está lançando seu sétimo álbum, “New Love”. Eu gostaria de saber qual é a inspiração por trás do título. Você está apaixonado?
Sim, acho que a inspiração para esse título foi uma espécie de chamado para encontrar uma nova perspectiva, sabe? Não é para jogar fora algo que é antigo, mas para ter sua inspiração renovada, seja em seus relacionamentos ou na sua carreira. É para dizer que a gente ama, perde e ama novamente, e eu acho que, talvez, à medida que você se torna um adulto, você percebe que é assim que a vida é. É para dizer que devemos continuar encontrando nossas inspirações e motivações para viver uma vida que seja uma aventura.
Sei que muitas das suas músicas são baseadas em lugares que você visita. Já que você já esteve no Brasil antes, gostaria de saber se você escreveu alguma canção inspirada na sua viagem para cá.
Ainda não escrevi, mas se eu pudesse escrever uma música sobre minha viagem ao Brasil, talvez eu a chamaria de “48 hours in Brazil’ (“48 horas no Brasil”) ou algo assim, porque minha viagem foi tão curta… Como se diz? ‘Pequena’, né? Foi super curta, mas realmente bonita. Estávamos na praia, dirigindo por estradas sem asfalto, indo surfar como na Austrália, e estávamos dirigindo na praia como se fosse na Austrália. O festival foi incrível. Ainda não escrevi uma música sobre isso, mas tive a sorte de colaborar em uma música com o Vitor Kley. Ele fez uma versão de uma das minhas canções, e isso foi realmente legal. Conheço muitos brasileiros na comunidade na Austrália, especialmente por causa da minha criação como artista de rua. Sempre tivemos muitos brasileiros por aqui, e muitos deles vieram aos meus shows, o que é muito legal. Então, talvez quando voltar ao Brasil, eu possa ter mais tempo para escrever uma música.
Você tem planos de voltar ao Brasil em breve?
Sempre tenho planos. Só não posso anunciar nada ainda, mas tive uma recepção tão boa quando cheguei ao Brasil, as pessoas me pedem muitas vezes para voltar. Espero que talvez no final deste ano possamos voltar, porque estive aí pela última vez em 2023. O ano passado foi grande demais, mas espero que possa voltar ao Brasil este ano.
Da última vez que você veio, teve tempo para surfar? Ou as 48 horas foram muito curtas?
Tive a sorte de surfar um pouco. Não conseguiria te dizer qual foi a praia, mas fomos para uma praia realmente bonita, bem perto da cidade. E como eu disse, até andamos de carro na praia, o que é algo bem típico da Austrália, sabe? Então, eu estava bem surpreso, porque você pode estar cansado da viagem e, de repente, você está na praia e poderia ser na Austrália, sabe? Então, surfei um pouco, mas eu ficaria feliz em surfar mais. Bem, talvez na próxima vez, quem sabe passo 72 horas na próxima. (risos)
Ok, então voltando para o novo álbum, quanto tempo você passou trabalhando nele?
Basicamente, preparei todas as músicas e depois passei talvez umas cinco ou seis semanas gravando. Eu estava trabalhando talvez de quatro a cinco dias por semana no estúdio, quase como se fosse um trabalho profissional normal, indo das 9h às 16h. Eu acordava, fazia um pouco de yoga, ia para o estúdio ficar o dia todo e depois que terminava, ia para o pôr do sol tentar surfar. E foi isso por cinco ou seis semanas. Realmente gosto desse processo porque você sente que no álbum a energia é a mesma, é coeso e gruda, porque foi tudo gravado durante esse curto tempo, em vez de gravar aqui e ali. E isso não é um problema, mas acho que assim a energia do álbum fica realmente consistente. Então foi uma grande alegria. Eu estava morando perto do oceano, perto de um rio, então, quando a maré estava alta, você podia nadar no rio, um rio limpo e bonito, e foi uma época bem especial. Eu fui muito feliz nesse período.
Parece muito bacana. Você diria que no novo álbum você fez algo diferente do que fez em seus trabalhos anteriores?
Sim, eu acho que… eu acho que neste álbum tivemos um foco muito claro. A coisa mais diferente, talvez, seja que há uma influência de country presente. Nosso grande foco com este álbum foi algo que chamamos de ‘minimalismo de fase’. Então, na gravação, há apenas uma guitarra no meio. Ao invés de dizer ‘vou tocar minha guitarra suave e depois vou tocar a mais forte separadamente’, nós gravamos tudo de uma vez só e depois gravamos apenas o que chamamos de minimalismo de fase, que significa apenas partes pequenas. E o bônus é que pode soar muito simples, mas soa muito mais fluído, porque não há tantas camadas sobrepondo umas às outras. Então, provavelmente esse foi o nosso maior foco. Antes dessa entrevista, estava ouvindo “I’m With You” e me lembrando que estávamos realmente focados nisso. Acho que foi uma ótima decisão, porque consigo ouvir que tudo soa muito íntimo, como se fosse somente eu com minha guitarra e algumas coisas extras. E esse foi o meu objetivo.
Assisti a alguns vídeos das suas performances e percebi que geralmente você toca sozinho, apenas com um violão ou teclado, mas também há shows com mais integrantes. Você prefere fazer shows assim, sozinho, ou com banda? Como vão ser as apresentações deste novo álbum?
Sim, eu acho que ainda vou me apresentar bastante no formato solo por um tempo, pois tenho uma grande inspiração de artistas como Passenger e Ed Sheeran. Eles tocam nesse formato solo e isso é muito incrível, eu os admiro muito. Mas tenho alguma visão de que, nos próximos anos, talvez eu possa fazer algo onde eu toque com mais duas pessoas, sabe? Normalmente nas turnês estou sozinho no palco. É uma grande responsabilidade, mas também é uma grande emoção. E não é legal apenas para provar para mim mesmo que posso, é legal provar para todo mundo que eles também podem ser fortes o suficiente para fazer isso, sabe? E isso mantém tudo de uma forma simples. É quase como a batida da bateria servisse como um batimento cardíaco. E às vezes incluo algumas poesias, vou criando e acionando alguns samples com os meus pés, algo como um sintetizador, mas é tudo muito simples. As pessoas também identificam minha música com simplicidade e algo natural, então eu acho que quando eu me apresento no palco sem meus sapatos, seja para 500 pessoas ou 10.000 pessoas, as pessoas ficam felizes.
Parece simples, mas não é tão fácil fazer todas essas coisas sozinho no palco, certo? Você ensaia para isso?
Sim, o melhor ensaio, na verdade, é voltar para a rua e tocar. Às vezes, faço uma performance com alguns músicos mais jovens, como eu fazia antes, porque isso é uma prática muito boa. Estou ensaiando mais sozinho agora, porque agora temos poesia no show e como eu disse, temos algumas coisas que estou acionando com os pés ao mesmo tempo, então está um pouco mais complexo. Mas começo os meus ensaios só para garantir que tudo esteja bem, sabe? Sempre posso tocar violão ou piano e não fazer mais nada além disso, mas é bom me sentir preparado. Tenho uma lista de músicas e quero garantir que todas as músicas se encaixem bem umas com as outras. E acho que agora, quando montamos um show, estamos lá para trazer uma performance inteira, toda uma história. Não gosto de fazer grandes shows sem um plano. É legal ter um setlist e coisas assim, estar preparado. Senão pode acabar sendo muito difícil.
Já que você falou sobre poesia: você se preocupa em separar o que escreve para a música e o que escreve para a poesia?
Sim, definitivamente faço isso. Mas não estou mais tão preocupado com isso como costumava ser. Meu primeiro livro de poesia foi algo muito separado da música, mas agora os poemas também estão aparecendo no show ao vivo, então juntar tudo isso está se tornando algo realmente bonito. E agora estou menos preocupado em separar essas coisas. Mas eu diria que a poesia é como se eu fosse para dentro de mim e a música é como se eu colocasse tudo para fora. Então, uma coisa é mais para dentro de mim e a outra é mais para fora, e elas têm tons diferentes. A poesia é mais como algo silencioso, coisas que você percebe no seu tempo de silêncio, e a música é mais como ‘eu tenho algo a dizer’ e você vai e fala isso.
Você já tem uma carreira muito prolífica, com sete álbuns, cinco EPs e também essa parte da poesia. Eu gostaria de saber, como artista independente, como tem sido sair em turnê para você nos últimos anos? Você diria que tem se tornado mais difícil?
Na verdade, os últimos anos de turnê foram os melhores da minha carreira, o que é engraçado, porque não foram tão difíceis. Apenas descobri o que preciso fazer para mim mesmo. Se você está saudável, então está tudo bem, sabe? E acho que encontrei um novo nível de disciplina e, dentro dessa disciplina, eu acordo, tomo meu café, faço algumas anotações ou escrevo poesia ou algo assim, vou correr, talvez comece a ir para a academia, faço yoga ou vou surfar, se eu conseguir. Mas muitas vezes estou na cidade, então simplesmente acordo e vou correr. E eu acho que, como fiquei mais forte e saudável, sair em turnês ficou melhor, como se fossem férias. Quando vou fazer turnês, a preparação é difícil, quase 90% de tudo. Mas quando estou em turnê, estou tomando meu café, abraçando as pessoas, fazendo o meu show, correndo… Eu digo que estou trabalhando muito na turnê, mas é como se fosse um feriado, sabe? E então, à noite, eu faço um show e vou dormir. Tudo está bem, mas vou continuar fingindo que é um trabalho muito difícil (risos). Então, eu sou sortudo, porque agora a minha equipe é muito sólida. Antes era realmente eu sozinho e uma equipe muito pequena, e era muito difícil para todos nós, mas agora temos pessoas suficientes para ser realmente sustentáveis, tanto com a energia quanto com minha saúde. Então, eu nunca estive tão saudável em turnê, e mais saudável nos últimos dois anos do que eu estive talvez em toda a minha vida, realmente.
Uma última pergunta: o que você tem planejado para o resto do ano?
Bem, tem muitas coisas empolgantes nas quais estarei envolvido que ainda não posso falar, mas eu planejo ter outro ano bem grande, com turnês. Essa é a minha ideia. Também tenho algumas metas pessoais: se eu tiver sorte com meu tempo, quero fazer algumas viagens da minha ‘lista de desejos’. Coisas que não envolvem minha música, mas meu lado pessoal mesmo. Eu realmente tenho um grande amor por passar meu tempo no oceano, seja com atividades atléticas ou com minha capacidade de me conectar com o mar. Isso é algo que me motiva bastante. Acabamos de fazer um vídeo muito legal para o novo single chamado “I’m With You”, gravado em Sumatra, onde fui com minha família, e isso é um exemplo do que quero fazer: dizer ‘sim’ para mais coisas assim. Essa é a minha meta para o ano, apenas… Meus únicos objetivos reais para o ano são apenas tentar ser pacífico e saudável. E se eu estiver saudável e em paz, e se minha família e meus amigos estiverem também, e se o mundo puder ser mais saudável e pacífico, então tudo estará bem. Esse é o maior plano que podemos ter, eu acho.
– Alexandre Lopes (@ociocretino) é jornalista e assina o www.ociocretino.blogspot.com.br.