Eliane Dias: “Acredito que a melhor forma de resistir é ser autêntica”
À frente da Boogie Naipe, uma das maiores produtoras do Brasil, a advogada e diretora executiva reflete sua trajetória de expansão e compromisso com a cultura

Mãe, advogada, executiva, curadora e CEO. A lista de títulos que cabem em Eliane Dias é extensa, mas nenhum deles a resume completamente. À frente da Boogie Naipe, uma das maiores produtoras culturais do Brasil, Eliane desempenha um papel central na profissionalização e agenciamento de artistas que fazem parte do crescente fenômeno da música urbana no país.
Com visão aguçada para negócios e uma trajetória que combina cultura, política, feminismo e estratégia, Eliane lidera hoje o gerenciamento artístico de grandes nomes do rap brasileiro como Duquesa, Victoria Cerrid, o grupo Racionais MC’s e o rapper e empresário Mano Brown, com quem é casada há pelo menos três décadas.
Esse portfólio expressivo reflete não apenas o seu talento para o mercado musical, oriundo de um dos maiores grupos de rap do país, mas também sua habilidade em dar visibilidade, de forma transformadora, à cultura periférica — especialmente em um cenário onde sua figura no ramo corporativo, predominantemente composta por homens, é incomum.
O naipe de Eliane
Sua atuação, no entanto, vai muito além da música. Após uma longa trajetória como assessora parlamentar da deputada Leci Brandão, na Assembleia Legislativa de São Paulo, Eliane conquistou seu espaço no mercado artístico ao transitar por diferentes áreas com a mesma determinação e impacto social.
Em 2017, recebeu o prêmio de Melhor Empreendedora Musical pelo Women’s Music Event Awards — repetindo o feito em 2021, após o sucesso da primeira edição do Boogie Week, festival que celebra a força da cultura negra.
“Quando assumi a produtora, não entrei achando que o mercado iria me ensinar algo, pois já dividia meu tempo com outras grandes responsabilidades. O que aprendi, na verdade, foi que a resiliência e sabedoria me trouxeram muito mais do que um simples aprendizado”, conta, em entrevista exclusiva à CLAUDIA.
A resiliência, no caso, sempre foi seu alicerce. Aos 23 anos, cuidou dos primeiros projetos da família, incluindo Jorge, seu primeiro filho com Mano Brown, enquanto dividia as tarefas e responsabilidades de uma família que vivia entre os palcos e a região do extremo sul de São Paulo.
Aos 29, ingressou na faculdade de Direito, com o desejo antigo de ser advogada, mas nenhum desses caminhos envolvia, de fato, a música. Só em 2013, a convite da própria voz de Nego Drama, surgiu a oportunidade de mergulhar nesse universo.
“Foi algo natural. Quando percebi, já estava envolvida em todos os detalhes, aprendendo na prática e entendendo que, mais do que administrar, eu ajudava a construir um movimento que se perpetuaria”, relembra hoje, aos 53 anos.
Voz que perpetua
Desde então, seu impacto não se limita apenas à música. Não à toa, Eliane é vista como uma das principais vozes femininas no mercado executivo e artístico do país.
“Acredito que a melhor forma de resistir é ser autêntica. Quando você sabe quem é, ninguém pode te tirar isso. Não podemos ser movidas apenas pelas circunstâncias. Se acreditamos em algo, devemos lutar por isso até o fim. Nossa convicção nos fortalece diante dos desafios”, afirma.
Sua figura desenvolve um papel vital no fomento da cultura e da racialidade nas periferias, principalmente quando se trata da criação de oportunidades para jovens e mulheres de regiões extremas da capital paulista.
Sua trajetória é um exemplo claro de como a arte e a cultura podem ser ferramentas poderosas de transformação social, especialmente quando aliadas à luta pela valorização e empoderamento da profissionalização de mulheres como ela.
“Embora a visibilidade das questões raciais tenha avançado, ainda temos um longo caminho pela frente. O racismo não perde por esperar nosso fortalecimento. Mudar isso exige avanços em todos os setores da sociedade e as mulheres estão na ponta disso.”
Hoje, a empresária enxerga seu momento profissional como um pisca alerta de um carro. Segundo ela, chegou a hora de pisar um pouco no freio, mantendo a missão de perpetuidade dos negócios da família Boogie Naipe nas mãos de quem possui mais fôlego para encarar os obstáculos do mercado.
“O que eu desejo para os próximos anos é continuar tendo esperança e seguir sonhando, porque só assim posso ser resistente e produtiva”, revela.
Enquanto isso, ainda é possível acompanhar seus feitos por aí. No fim de 2024, ela assumiu o papel de curadora principal na exposição Racionais MC’s: Quinto Elemento, que celebra os 35 anos de carreira do grupo e marca o retorno do Museu das Favelas após um período de reformas e mudança de endereço.
A exposição, em cartaz até o dia 31 de maio no Centro Histórico de São Paulo, é mais uma realização de Eliane, consolidando sua trajetória e sua profunda conexão com a arte e a cultura periférica.
“Eu pensei, planejei e executei a exposição como um presente para o grupo, e para dar a minha contribuição à cultura brasileira”, diz espirituosa. “Estar nos bastidores, como curadora, é ser protagonista do meu próprio roteiro”.
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