Doula de menopausa: ela ajuda mulheres a enfrentarem essa fase da vida
Antes de completar 40 anos, Jennifer Chan foi diagnosticada com menopausa precoce; hoje, ela ajuda outras mulheres nessa travessia

Aos 36 anos, a cientista política mexicana Jennifer Chan vivia uma rotina intensa: trabalhava no pós-doutorado do departamento de gênero da Universidade Livre de Berlim, viajava a Europa inteira e tinha uma vida social agitada, com direito a grandes noitadas e encontros com amigos.
De um dia para o outro, porém, a energia deu lugar ao cansaço, o humor passou a oscilar e quase sempre ela se sentia deprimida. Somando isso a ondas de calor e suores noturnos, logo um sinal de alerta se acendeu.
“Eu ficava com muita raiva, um pedido simples de trabalho me fazia chorar — e sempre fui a pessoa mais calma e resistente ao estresse que conhecia”, conta. “No começo, achei que estava enlouquecendo! Mas isso me fez procurar um médico.”
Primeiro, os especialistas encontraram um cisto ovariano e fizeram uma cirurgia de remoção. Porém, os sintomas continuaram e Jennifer procurou uma endocrinologista ginecológica. “Ela pediu exames de sangue e, quando voltei, perguntou se eu queria ter filhos. Quando respondi que não, a médica comunicou que eu estava na menopausa. Assim, com todas as letras. Foi um choque, e mesmo sem querer engravidar, chorei no consultório”, revela. “Entrei naquele local uma jovem e saí me sentindo quebrada e velha. Demorei muito tempo para processar o diagnóstico, especialmente porque naquela época não havia tantos recursos como hoje.”
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que uma em cada cem mulheres é afetada pela menopausa precoce, quando a menstruação é interrompida antes dos 40 anos. E isso pode ter diversas causas, incluindo fatores genéticos, doenças autoimunes, metabolismo e até mesmo o uso de quimioterapia ou radioterapia.
Segundo Fernanda Schier de Fraga, médica e professora da PUCPR, os sintomas são os mesmos da menopausa regular: “A paciente começa com uma menstruação diminuída, de repente não vem um mês e às vezes o fluxo aumenta. Há cólicas, insônia, fogachos, tristezas e queda de libido.”
Ela ressalta, ainda, que o estrogênio é o hormônio que regula o corpo feminino e a falta dele causa impactos importantes na saúde e na qualidade de vida, como osteoporose, riscos cardiovasculares e alterações cognitivas.
Os efeitos emocionais não ficam de lado. “Eu sabia, racionalmente, que todas as narrativas que ligam o valor de uma mulher à sua beleza, juventude e fertilidade eram besteiras sexistas e patriarcais. Mesmo assim, quando aconteceu comigo, foi muito difícil romper com essas ideias, pois elas estavam enraizadas em mim”, lembra Jennifer. Contudo, determinada a cuidar de si, mudou a alimentação, os relacionamentos e desacelerou.
Mesmo se sentindo solitária, as ferramentas que tinha devido a anos de estudos feministas finalmente fizeram efeito e ela conseguiu ressignificar a experiência. Na vontade de ajudar outras mulheres, decidiu se formar como “doula de menopausa”. Ela fez um curso online de dois anos na Doula School Canada, programa que incluía uma abordagem feminista, interseccional e de justiça reprodutiva. No currículo, há aulas que ensinam anatomia, sexualidade, mudanças hormonais, além de discutir técnicas como mindfulness e nutrição.
“À medida que fui aprendendo, percebi que seria um grande serviço compartilhar meus conhecimentos, porque lembrava como me senti assustada. A figura da doula sempre me fascinou porque, além de oferecer informações, recursos e orientação, ela evoca paz, conforto e companhia”, explica. E é isso o que Jennifer faz. “Apoio mulheres a darem à luz a si mesmas.” Entre os grupos, oficinas e conferências, a profissional notou que a confusão e o isolamento são comuns. “A coisa mais importante é compartilhar nossas experiências para que possamos nos ver refletidas umas nas outras. Não há nada a temer”, diz.
Para ela, uma das questões mais importantes ao tratar do tema é a saúde mental, já que muitas são diagnosticadas erroneamente com burnout ou depressão, um resquício da tendência histórica de atribuir uma suposta instabilidade mental feminina aos ciclos menstruais. “Como sociedade, devemos oferecer informações baseadas em evidências. Também precisamos enfrentar as narrativas, estigmas e estereótipos de gênero que temos sobre os corpos das mulheres”, conclui.
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