Ao vivo: Amyl and the Sniffers brilha no Cine Joia com seu rock podre e deliciosamente sexy e divertido

Rolou corinho de “Amy eu te amo", o tradicional “olê olê olê olá, Amy, Amy”, diversos corpos surfando ao alto pela plateia, rodas de pogo festeiras, uma dança da vocalista abraçada ao ventilador...

Mar 7, 2025 - 18:10
 0
Ao vivo: Amyl and the Sniffers brilha no Cine Joia com seu rock podre e deliciosamente sexy e divertido

texto por Marcelo Costa
fotos por Douglas Mosh

Primeira de duas noites históricas do rock mundial neste primeiro semestre no país, em que o público brasileiro terá a chance de estar frente a frente com duas bandas vivendo aqueles milésimos de segundos que as separam de as tornarem gigantes (a saber, a segunda será a apresentação do Fontaines DC na Audio), o quarteto australiano Amyl and the Sniffers fez um show deslumbrante diante de um Cine Joia completamente lotado, apaixonado e cantando todas as canções como se fossem hits radiofônicos. Daquelas coisas pra se contar em mesa de bar daqui alguns anos.

Amy Taylor

O cenário já vinha se desenhando faz algum tempo. Quando o jornalista Thiago Pereira viu os australianos no Primavera Sound do Porto, em Portugal, em 2019, eles tinham acabado de colocar nas ruas seu debute, “Amyl and the Sniffers”, e o show já era uma festa punk: “A estética punk rock não vai morrer nunca e ainda comove muita gente, com o barulhento show de Amyl and The Sniffers e a vocalista tocando fogo em uma plateia cheia de rodas de pogo”. Seis anos depois e dois discos ainda melhores, a banda só melhora no ato de incendiar uma plateia.

Klitoria

O público do Cine Joia, que esgotou os ingressos 40 dias antes da apresentação, teve uma bela recepção com a escalação do Klitoria como banda de abertura. Quarteto garage punk de Niterói, no Rio de Janeiro, que liberou seu quarto EP, “Entre o Chão e o Assoalho” (2025), um dia antes deste show, o Klitoria funcionou como uma imersão perfeita no caráter punk da noite, que trazia heróis da cena na plateia (do lendário Ariel, “uma figura acima do movimento, idolatrado por muitos” ao planet hemp BNegão). Num set de 40 minutos, e com uma naturalmente emocionada Malu (vocalista e baterista) conduzindo a apresentação mais cover de Rogerio Skylab, o quarteto transformou o velho teatro num inferninho de luxo.

Declan Mehrtens

Amyl and The Sniffers entrou em cena com “Control”, do primeiro álbum, e em poucos segundos ficou explicito como seriam os próximos 70 minutos (e 21 canções): vestida adequadamente de roupas mínimas diante do imenso calor desses dias na capital paulista, e com o som que saia pelas caixas tão lixoso quanto o da banda, Amy Taylor conduziu a plateia sem precisar se esforçar muito. Como palito de fósforo num barril de gasolina, cada música – “Freaks to the Front”, “Doing in Me Head”, “Security”, “Maggot” – ganhou reforço sonoro da audiência, seja berrando as letras, seja fazendo coros de “ô ô” nas partes instrumentais.

Gus Romer

Como arma, o quarteto pratica um pub rock podre e preguiçoso, aquele tipo de música que o ouvinte não precisa de mais do que alguns segundos para entender, amar e se entregar. Empilhando clichês e influências de AC/DC, Ramones, Eddie and the Hot Rods e Kiss, sem contar os trejeitos famosos de gente que acelerou o R&B chacoalhando a pélvis entre caras e bocas pra chocar um público família (sem Elvis Presley e Little Richard estaríamos na era paleozoica da música pop), Amy Taylor (voz), Bryce Wilson (bateria), Declan Mehrtens (guitarra) e Gus Romer (baixo) demonstram na prática como o rock pode ser divertido, sexy e desencanado.

Bryce Wilson

Rolou corinho de “Amy eu te amo” e, claro, o tradicional “olê olê olê olá, Amy, Amy”, diversos corpos surfando ao alto pela plateia (para desespero dos seguranças), rodas de pogo festeiras, uma dança da vocalista abraçada ao ventilador e, na sequência, uma pequena pausa não para arrumar nenhum instrumento em cena, mas sim para organizar alguns dos objetos mais importantes no palco naquele momento: os próprios ventiladores (Gus e Bryce dispensaram as camisetas nos primeiros momentos da noite).

Amy Taylor

Os singles mais recentes, “Chewing Gum”, “Jerkin’”, “Big Dreams” e “U Should Not Be Doing That” fizeram a festa da plateia, que também cantou a plenos pulmões canções dos dois discos anteriores como a dobradinha “GFT” / “Got You”, do disco de estreia, “Hertz”, do segundo disco, “Comfort to Me” (2021) e a ótima “I’m Not a Loser”, do EP “Big Attraction”, de 2017, que ainda cedeu “Balaclava Lover Boogie” ao set já no bis. Para fechar uma noite quente de rock de boteco, o single “Facts” colocou ponto final em uma apresentação vigorosa, festeira e poderosamente rock and roll.

Amyl and the Sniffers ainda fará mais dois shows no Brasil em horários inglórios do festival Punk is Coming: às 14h no sábado (8) no Allianz Parque, em São Paulo, e às 11h na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, no domingo (9). 

– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.
– Douglas Mosh é fotógrafo de shows e produtor. Conheça seu trabalho em instagram.com/dougmosh.prod