“Precisamos nos juntar como nação”, diz Terra Preta sobre Brasil possível
Fizemos 5 perguntas para o artista, que já colaborou com Don L. The post “Precisamos nos juntar como nação”, diz Terra Preta sobre Brasil possível appeared first on NOIZE | Música do site à revista.

Nascido no bairro do Jabaquara, São Paulo, em 1987, e residente do Grajaú desde a infância, Arithon Felipe, mais conhecido como Terra Preta, traçou sua trajetória a partir da cultura Hip Hop, pautado pela liberdade criativa. Com uma voz doce e potente, transita entre diferentes subgêneros do rap, do R&B e do soul com desenvoltura. O talento e carisma característicos lhe renderam colaborações com artistas de diferentes vertentes do rap, a exemplo de Criolo e Rael. Em 2008, venceu o concurso de TV Astros, do SBT.
Hoje, o artista vive o que identifica como sua melhor fase. Com participação nos vocais dos discos de RPA, Terra Preta também é base de apoio para os shows da trilogia em curso de Don L. Além disso, tem dedicado 12 horas diárias em estúdio ao lado do parceiro Cabal. O esforço projeta a meta de um lançamento por mês, a partir da colaboração entre os artistas.
Eu gostaria que você comentasse um pouco a sua relação com o Don L.
A nossa aproximação se deu a partir da minha escuta do álbum do Costa a Costa, em 2007. Pra mim, Don L já era um MC à frente. Eu entrei em contato com ele e, talvez, aqui de São Paulo, eu fosse a única pessoa que ficava trocando ideias [com ele] toda semana. A gente foi desenvolvendo uma relação muito boa de amizade desde essa época da internet. E quando ele veio pra São Paulo, em 2012, por aí, a gente começou a fazer as paradas juntos. E comecei a participar de coisas dele.
Como você vê a importância de um discurso como o do Don L em um momento como este, socialmente falando, mas também dentro do rap em específico?
Alguém teria que fazer uma abordagem como essa bem feita. E o Don L foi o cara que fez. Falar de um tema tão sensível geralmente pode te levar a cometer erros. Porque é muito complexo, muita nuance. Mas a música dele quebrou barreiras com um discurso forte. Quem é que consegue isso? Só gênios. Ele tá nesse patamar pra mim, é um dos maiores artistas da música brasileira. O cara fez da arte o primeiro lugar. Contemplativa, com uma música foda e uma estética apurada artisticamente. Mesmo que você não goste, na hora em que ouvir, vai imaginar o senhor de engenho sendo enforcado e vai dar aquela dorzinha no coração, porque se colocou no lugar. Já era, ele tomou a mente.
Sobre sua carreira, você acabou de lançar o EP Irmãos de Alma, em colaboração com o rapper Cabal. Poderia comentar um pouco sobre esse trabalho?
Nós temos a missão de lançar um EP por mês durante todo esse ano. Hoje, a gente tá muito ligado, trabalhando como sempre quisemos trabalhar. Que é: independente do que aconteça, nós estamos lançando o som. Não é pelo hype, mas, em primeiro lugar, a realização pessoal. Trabalhando 12, 13, 14 horas por dia, lançando um EP por mês, ou meu, ou em colaboração, ou ajudando a compor o EP de outra pessoa. Estou nessa fase, realizado musicalmente, porque a vida inteira, 100% das minhas músicas eu fiz sozinho. E hoje eu tenho um parceiro de composição.
Como é pra você lidar com as expectativas que são criadas à revelia da nossa escolha, a partir de enquadramentos que tentam nos limitar e até nos desumanizar?
Sempre fui um cara que não demonstrava emoções e que sempre tinha que demonstrar que estava forte. Porque eu tinha que passar isso para as pessoas, que eu era um negro que estava mentalmente bem. Outro problema que criaram é: “Ah, você é preto, então, antes de fazer música, você tem que dar o seu posicionamento político”. E aí existe um outro problema também, porque você fica preso. Eu sei que eu me entendo assim, porque é o jeito que eu me enxergo, mas isso não te dá o direito de falar pra mim que eu tenho que pautar a minha criação a partir da minha raça, por exemplo.
Para o futuro, o que você acredita e espera de um Brasil possível?
Acredito em uma alternativa que seja orientada pelo estudo e pela pesquisa. E não de querer inventar a roda. O nosso processo de criação foi colonizado e, depois, foi manipulado. A gente sofreu interferências internacionais, que moldaram a nossa cultura, que, de 100 anos pra cá, é muito baseada nos EUA. Por que a gente não começa a ser uma esponja e pegar o melhor de cada lugar? E adaptar a nossa realidade? Porque tentar criar as coisas do zero atualmente, isso faz com que você se atrase no processo todo. Uma coisa que eu bato muito hoje em dia é de as pessoas saberem viver em um mesmo espaço, até com diferenças de pensamentos, mas viverem bem. Que é o que falta também pra todo mundo chegar em um denominador comum. Não vai dar nesse antagonismo aí. No final das contas, a gente vai ter que se juntar como uma nação.
Esta matéria foi publicada originalmente na Revista Noize que acompanha o vinil de “Roteiro Pra Aïnouz, Vol.2”, de Don L, lançado em 2022.
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