Literatura: Steven Blush investiga o encontro entre o rock e o reggae em livro
Blush estrutura o livro com entrevistas reveladoras e análises críticas. Ele dá voz a músicos, produtores e figuras-chave dessa fusão, oferecendo ao leitor um panorama abrangente

texto de Bruno Lisboa
Steven Blush é autor, jornalista e crítico cultural. Ganhou notoriedade com a publicação de “American Hardcore: A Tribal History” em 2001, uma obra que mergulha nas raízes do hardcore punk nos Estados Unidos nos anos 1980. O livro, que ganhou uma reedição ampliada em 2010, traça um retrato detalhado do movimento, intercalando depoimentos de figuras centrais da cena com análises pessoais e incisivas. Sua popularidade foi tão grande que, em 2006, serviu de base para o documentário American Hardcore, dirigido por Paul Rachman e roteirizado pelo próprio Blush.
Com uma abordagem direta e didática, Blush consolidou-se como um cronista apaixonado e comprometido com a preservação da memória cultural de nichos musicais. Suas obras revelam não apenas a evolução dos estilos, mas também o impacto social e político que os cercam.
Em “When Rock Met Reggae” (2024), segundo volume de uma série aberta com “When Rock Met Disco” (2023) e seguida com “When Rock Met Hip-Hop” (2025) , Blush volta seu olhar analítico para outro ponto de interseção musical: o encontro entre o rock e o reggae. O livro investiga como esses dois estilos, aparentemente distintos, cruzaram caminhos a partir dos 1960 até a atualidade, criando a partir daí novas sonoridades e movimentos culturais.
Para contextualizar essa fusão sonora, Blush dedica atenção especial aos artistas pioneiros que disseminaram os sons vindos da Jamaica. Ícones como Bob Marley e sua mensagem universal de resistência e espiritualidade, Lee “Scratch” Perry com sua inventividade no estúdio, e King Tubby, mestre na criação do dub, são figuras centrais no livro.
Além deles, nomes como Desmond Dekker, conhecido por sucessos como “Israelites”, e bandas britânicas como Aswad e Steel Pulse, que manteve viva a chama do reggae em terras inglesas, também são destacados como pilares dessa influência cultural. Esses artistas não apenas moldaram o estilo, mas também abriram caminho para que essas batidas e mensagens ressoassem globalmente, conectando-se com movimentos de contracultura e inspirações políticas.
Outro ponto de destaque na obra é a influência que o reggae exerceu no punk britânico, destacado bandas como The Clash, The Ruts, The Slits, Stiff Little Fingers, The Police, Elvis Costello, as bandas do selo 2 Tone (The Specials, The Selectet e Madness) e o trabalho de figuras como Don Letts e John Lydon (Sex Pistols / Public Image LTD) que absorveram ritmos jamaicanos e os incorporaram ao cenário ocidental.
Blush também examina como grandes nomes do rock ajudaram a levar essa fusão entre os estilos às massas. Artistas como Eric Clapton, e sua versão domesticada para “I Shot the Sheriff” (de Bob Marley & The Wailers), Elton John com a faixa “Jamaica Jerk-Off” do álbum “Goodbye Yellow Brick Road” (1973), e 10cc com “Dreadlock Holiday” (1978), trouxeram elementos do reggae para o pop rock, alcançando grande público.
O Led Zeppelin, por sua vez, flertou com o gênero em “D’yer Mak’er”, do disco “Houses of the Holy” (1973), enquanto os Rolling Stones incorporaram as influências do reggae em músicas como “Cherry Oh Baby” (cover de Eric Donaldson) no álbum “Black and Blue” (1976). Essas experimentações ajudaram a solidificar o estilo de uma maneira versátil e global, integrando-o à cultura pop e inspirando novas gerações de artistas a continuarem explorando essa fusão sonora.
Seguindo o modelo de suas obras anteriores, Blush estrutura o livro com entrevistas reveladoras e análises críticas. Ele dá voz a músicos, produtores e figuras-chave dessa fusão, oferecendo ao leitor um panorama abrangente sobre como o reggae influenciou o rock e vice-versa. Com isso, When Rock Met Reggae não apenas celebra essa conexão musical, mas também reforça o talento de Steven Blush em contar histórias complexas com clareza e profundidade.
– Bruno Lisboa escreve no Scream & Yell desde 2014. Escreve também no www.phono.com.br